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[Maria do Rosário Pedreira]

Normalmente, a palavra «oportunista» tem uma carga negativa, mas no caso do livro que hoje me traz, gostaria de a virar para o outro lado. Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo, de Hugo Gonçalves – uma narrativa sobre um português imigrado na Cidade Maravilhosa e escrita com um ritmo que combina na perfeição com o protagonista que se farta de pedalar –, é mais do que oportuno, é oportunista no bom sentido! Não só fala de um português desempregado que se viu obrigado a viajar para fora da pátria (mas com a pátria continuamente dentro de si), como o introduz numa intriga altamente imaginativa, que inclui o manuscrito de uma mulher entretanto morta e a busca do seu antigo amante, um agente da PIDE que, depois do 25 de Abril, se exilou no Rio e andou a tentar passar despercebido. É esse manuscrito que o português leva consigo no avião, aceitando um trabalho no Brasil de um editor que outrora amou a autora do livro (mas, já se sabe, foi preterido) e cruzando-se com figuras esquivas e por vezes desaconselháveis, gente dos dois sexos e várias nacionalidades. Pelo meio, uma história de amor profunda e muito ternurenta, reflexão bastante sobre assuntos sérios e, claro, saudades de Portugal.