Sailor Moon e o Santo Graal
Por Miguel Carqueija Em: 27/12/2014, às 16H21
Sailor Moon e o Santo Graal
Miguel Carqueija
Resenha do volume 7 do mangá “Pretty Guardian Sailor Moon” (A linda guardiã Sailor Moon), com os atos 31 a 35. Criação de Naoko Takeushi. Edição original da Kodansha (Tokyo), 1993, 2004; edição brasileira da JBC, 2014. Tradução: Arnaldo Massato Oka. Revisão: Henrique Minatogawa.
É admirável a tensão emocional, a pontuação dramática obtida por Naoko Takeushi no seu inteligente universo ficcional! De fato, a saga prossegue a cada passo em alta tensão e com a expressão de sentimentos profundos e exaltação de valores como a amizade, a lealdade e a coragem, além do firme discernimento entre o bem e o mal.
Muitos segredos são revelados neste emocionante volume. Finalmente ficamos sabendo o que aconteceu com as guerreiras do Sistema Solar Exterior — Sailor Urano, Sailor Netuno e Sailor Plutão — quando da destruição do Reino Lunar, há vários milênios. Elas não puderam intervir, estando muito distantes, e nessa hora despertou também a sailor do silêncio, Saturno — chamada também a Guerreira da Destruição, que, movendo sua alabarda, levou todas à morte.
A interpretação desse fato levaria ao cisma entre as sailors, milhares de anos depois.
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“Somos todas guerreiras sailor... por que não podemos lutar juntas?”
(Sailor Moon)
“Se não consertarmos a distorção do espaço-tempo não deteremos a invasão inimiga.”
(Sailor Plutão)
“Temos que unir nossos corações!”
(Sailor Moon)
“A Sailor Moon é invencível.”
(Tuxedo Mask)
“A Sailor Moon foi realmente incrível! Eu também quero ser uma guerreira igual a ela!”
(Chibiusa)
“Nós podemos unir nossas forças. Somos todas guerreiras! Somos todas companheiras!”
(Sailor Moon)
“Não posso deixar que matem a Hotaru!”
(Sailor Moon)
“O futuro existe! Não importa a forma, o mundo não vai ser destruído! Nós vamos sobreviver! Tem que ter um caminho em que todas se salvem! Matar, não!”
(Sailor Moon)
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A presença do Santo Graal é algo muito especial na história.
Uma das mais difíceis lutas é com as bruxas Cyprine e Pitilol que, operando um forte feitiço, conseguem encantar sete das sailors, jogando-as umas contra as outras: Marte, Mercúrio, Júpiter e Vênus contra Urano, Netuno e Plutão. Imune ao feitiço, Sailor Moon chama o Tuxedo Mask e a filha do futuro de ambos, Chibiusa, para unirem as mãos e chamarem pelo poder que vem do amor. Somente os três não foram atingidos pelo encantamento e Usagi Tsukino, a Sailor Moon, chama todas à razão: “Não sejam iludidas por esse feitiço! Unam seus corações! As guerreiras sailor lutam unindo seus corações!”
Segue-se a isso um acontecimento espantoso. Diante dos olhos da Princesa da Lua, milagrosamente, materializa-se no ar o Santo Graal, o cálice de Jesus Cristo na Última Ceia. Sailor Moon, inundada pela luz divina, transforma-se de novo, mudando a aparência de seus acessórios, e os broches das outras sailors adquirem a forma de corações. O resplendor que envolve Sailor Moon atinge e mata as bruxas Cyprine e Pitilol.
Chibiusa, em outra cena, diz que o cálice sagrado é usado “em rituais místicos, para tomar vinho ou água sagrada” — velada alusão à missa católica ou ortodoxa, onde cálices de forma semelhante ao Graal são utilizados para o vinho da Eucaristia (onde, aliás, o sacerdote derrama um pouco de água).
É interessante notar que a saga de Sailor Moon não se esgota num maniqueísmo perfunctório de simples combate entre heróis e vilões. Sailor Moon tem princípios claros e questiona métodos ou escolhas entre as próprias sailors: quando fica entendido que Hotaru é a Sailor Saturno ainda por despertar, ela se opõe decididamente à intenção de Urano, Plutão e Netuno, que pretendem matar a menina para impedir a destruição do mundo. Mas a Princesa da Lua, que acredita nas pessoas e no bem, vê tudo por outro ângulo. A morte das guerreiras do sistema exterior, no passado remoto, parece lógica já que, com a destruição do Reino Lunar, elas não tinham mais objeto naquele espaço-tempo. E não entra na cabeça de Sailor Moon que uma criança inocente deva ser sacrificada pela humanidade.
O desenrolar dos acontecimentos dará razão à Princesa da Lua Branca.
Os verdadeiros inimigos — Mistress 9 e o Pharaoh 90, entidades alienígenas — revelam-se agora.
Rio de Janeiro, 4 a 6 de novembro de 2014.
imagem da franquia (cena do filme A promessa da rosa)