Roger Corman

 ROGER CORMAN

            Ele é com certeza uma lenda viva de Hollywood. Esta Hollywood hoje tão medíocre, mas que tem suas lendas.

            Corman é conhecido como o “Rei do Cinema B” porque seus filmes, que hoje somam várias centenas, sempre são de baixo orçamento. Ele é um tipo simpático, inteligente e engraçado, mordaz. Certa vez uma repórter perguntou por que ele só realiza filmes de baixo orçamento. E Corman respondeu mais ou menos isso: “Porque sou eu quem paga”.

            Mestre do cinema fantástico, produziu e dirigiu nos anos 60 um admirável ciclo (em sua maior parte protagonizado por Vincent Price) dedicado a Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft. E foi assistindo uma dessas películas, “O corvo” (The raven), de 1963 – assisti no cinema – que saí hipnotizado pela beleza e pela qualidade desta obra tão insólita, algo como eu nunca tinha visto... e desde então, eu que só acopanhava Walt Disney, decidi que teria de acompanhar também Roger Corman.

            Há nas produções de Corman uma peculiaridade de auto-ironia, mesmo em temas sérios (e “O corvo” é na verdade uma comédia de horror) a gente acaba rindo. Isso acontece, por exemplo, em “Profeta”, de 1998, quando o protagonista – um jovem paranormal que sofre perseguições – diante da insânia de um mundo enlouquecido, pergunta no final: “Quanto tempo resta para nós pirarmos?”

            “O corvo”, que se beneficia de cenário e colorido fascinantes, mostra uma intriga envolvendo três bruxos ingleses da Idade Média, Erasmus (Vincent Price), Bedlo (Peter Lorre, impagável como o bruxo de pileque) e Scarabus (Boris Karloff). Detalhe curioso é a participação de Jack Nicholson, irreconhecível de tão jovem.

            Hoje beirando os 90 anos, Roger Corman é um dos mais antigos produtores cinematográficos ainda em atividade, pelo menos não veio ainda a notícia de sua aposentadoria. Com seu sorriso rasgado é uma figura inconfundível e, tendo ajudado muita gente, dizem que ninguém fala mal dele, além do mais muitos amigos a quem ele alavancou (como Francis Ford Coppola, que foi seu assistente) o chamam para atuar em pontas no cinema. Corman de fato aparece por exemplo no “Poderoso Chefão 2”.

            Algumas das fitas de Corman são verdadeiras obras-primas, como a divertidíssima comédia negra “A pequena loja dos horrores” (1960) e o drama sobre juventude transviada “Anjos selvagens” (1966), além do denso drama automobilístico “The young racers” (Desafiando a morte, 1962).

            Nesta singela homenage, agradeço a Roger Corman tantos bons momentos que me propiciou.

Rio de Janeiro, 5 de maio de 2015.