Porto das Barcas, em Parnaíba-Pi. Foto: Iphan
Porto das Barcas, em Parnaíba-Pi. Foto: Iphan

[Rogel Samuel - especial para Entretextos]

Acabo de ler “VELAS NÁUFRAGAS” DE DIEGO MENDES  SOUSA um hino de amor às terras e ares do Piauí, um poema que tem na oralidade a sua marca, nas citações aos nomes de personagens e fatos o seu maior elemento estruturante:

“o catador de caranguejo, a marisqueira, o pescador e o farol da praia da Pedra do Sal, o Zé do Bonéu, que comercializa chapéus na Atalaia, o Benjamim Santos, o Tarciso Prado, a Altair, este poeta, que tem a idade eternal de Castro Alves, aquele andarilho das dunas da Lagoa do Portinho, onde a sereia misteriosa e indígena dorme, o espantalho prateado da Lagoa do Bebedouro, a paisagem doirada ante o mar da Parnaíba, as rendeiras dos Morros da Mariana, o povo do Labino, os cantores do Sabiazal, os visionários do Olho D’água, os parentes do Belo Sítio, o José Filho, a Regina, a Silvana, os antepassados da minha fêmea na Morada do Sol”

 

Todos

Todos

“o jurista Evandro Lins e Silva,

o simbolista Jonas da Silva,

o criador do Almanaque da Parnaíba: Benedito dos Santos Lima,

o bardo Everaldo Moreira Véras,

o elegíaco Alcenor Candeira Filho,

o romancista Assis Brasil,

o escritor Berilo Neves,

o economista João Paulo dos Reis Velloso,

o compositor Teófilo Lima,

a cineasta Karla Holanda,

o artista plástico Francisco Galeno”

 

Todos

Todos.

O livro é um belo hino, pulsante, positivo, patriótico e belo.

 

Ô Catador! Ô Catador!

Faina de mil patas

na fome suja do mangue

 

Ô Catador!

Venda-me tua outra alma,

os caranguejos, de cor marrom e sem vida

e obscuros

Quantos mistérios

 

Há muito eu não lia um poema tão marítimo, tão amplo, que “lava os pés no mar como oceano perdido, que passa foragido na península da alma como sangue nativo no amor aos dias como pássaro”.