Rogel Samuel: O escritor de um livro de sucesso
Em: 19/12/2021, às 22H09
[Rogel Samuel - especial para Entretextos]
Há escritores que quase só escreveram um único livro, como Alexandre Manzoni, autor de uma obra-prima (Os noivos prometidos).
Outros escreveram muito, muitíssimo.
Na literatura brasileira temos vários escritores que se notabilizaram por um único livro, “O ateneu”, “Memórias de um sargento de milícias”, etc.
Margaret Mitchell só escreveu “E o vento levou” (1936). Ela nem era “escritora”. Escreveu porque quebrou a perna. Eu já contei essa história.
Uma amiga me faz uma pergunta basilar:
- O que faltou para você ser um escritor realizado?
A questão está posta de modo errado, por isso ela é irrespondível.
Pois, o que será um escritor realizado?
Será um best-seller?
Benjamim Costallat, autor de “Mademoiselle Cinema”, foi um dos autores mais lidos na década de 20 e hoje ninguém nem conhece.
Mesmo Coelho Neto, Humberto de Campos, glórias de seu tempo, quem hoje os lê? Só são lembrados como nomes de rua.
Alguns Prêmios Nobel de Literatura jazem hoje no sepulcro das bibliotecas onde ninguém mais os lê nem sabe deles, como Maurice Maeterlinck, Gerhart Hauptmann, ou Karl Adolph Gjellerup.
Escritor plenamente realizado é aquele que escreveu todos os textos que quis ou pôde escrever. Mesmo um único livro.
Eu conheci o drama de Marisa Raja Gabaglia, autora de Milho Pra Galinha, Mariquinha, lançado em 1972, que foi best seller e teve mais de 15 edições, e que depois não conseguiu emplacar nenhum outro texto.
A fórmula do best-seller é muito antiga. Ela se resume numa frase de Zola: “O interesse não se concentra na originalidade da trama; quanto mais esta for banal e genérica, tanto mais típica se torna”. O texto tem de ser claro, conciso, leve, pouco abstrato.
Há vários públicos leitores específicos no Brasil. Um dos livros que mais vende, depois da Bíblia, é Minutos de sabedoria, de Pastorino. O público de best-seller é um dos maiores, mas não o maior, que é o escolar. Foi o publico escolar que fez a fortuna de Meu pé de laranja lima, de Vasconcelos (hoje quase desconhecido); e mesmo o maior escritor, Jorge Amado, no início de sua carreira percorreu as escolas do país promovendo os seus romances.
Por falar em Bíblia, este é um dos melhores livros do mundo, do ponto de vista literário.