Viagens apostólicas e trabalhos de São Tomé, principalmente na Índia
Havia cerca de três anos depois da morte de Jesus, quando Tomé, com o Apóstolo Tadeu e quatro discípulos, partiu para o país dos Reis Magos. Batizou os dois reis, já muito idosos, Mensor e Teokeno e pouco a pouco foram batizados todos os habitantes do país.
Tomé enviou Tadeu, com uma carta, ao rei Abgar, para o curar; soubera, por uma revelação divina, da enfermidade do rei.
“Por todo o caminho, conta a piedosa Emmerich fazia Tomé grandes milagres, instituía catequistas e deixava também um discípulo. Continuou a viagem até a Báctria. Foi também ao extremo norte, além da China, onde começa o território da Rússia, entre tribos muito selvagens. Na Báctria e entre os povos que seguem a doutrina de Zoroastro, teve muito bom êxito. Chegou também ao Tibet.
Mais tarde vi São Tomé, não só na Índia, mas também numa ilha, entre gente de cor e também no Japão; ouvi-lhe também profecias sobre a sorte futura da religião nesse último país.
Tomé tinha pouca vontade de ir para a Índia. Antes de partir para lá, teve muitos sonhos, nos quais construía belos e grandes palácios na Índia. Não o compreendia a princípio, não dando importância a esses sonhos, porque nada sabia de arquitetura. Mas continuavam a repetir-se tais avisos interiores, de ir à Índia para converter muitos homens e ganhar muitas almas, porque isso significaria a construção dos grandes palácios. Aconselhou-se com Pedro, que o exortou a partir para a Índia. Então seguiu ao longo do Mar Vermelho e passou também pela Ilha de Socotora, onde ensinou, mas não por muito tempo.
Foi a segunda cidade da Índia onde Tomé chegou, encontrando o povo a preparar-se para uma grande festa. Ensinou e curou enfermos; o rei e muito povo o escutavam. Foram tantos os que lhe aderiram, que um jovem sacerdote dos falsos deuses lhe criou um profundo ódio e uma vez, durante o sermão, lhe bateu no rosto. Tomé, porém, permaneceu calmo e humilde e, agradecendo-lhe, ofereceu também a outra face. Vendo-o, o rei e todo o povo ficaram muito comovidos, estimando depois Tomé como um homem muito santo; o sacerdote idólatra converteu-se. A mão tinha-se-lhe coberto inteiramente de lepra. Tomé, porém, curou-a e o jovem convertido se tornou o mais fiel dos discípulos.
Tomé converteu também a filha do rei e o marido, que era possesso de um demônio; depois saiu da região, continuando a viagem mais para leste. Tendo a filha do rei dado à luz um filho, ela e o marido fizeram voto de castidade, dando todos os bens aos pobres. O pai indignou-se muito e afirmou que Tomé era feiticeiro; mas a filha e o genro perseveraram no seu propósito e propagavam por toda a parte a doutrina singela de Jesus Cristo, como a tinham recebido, convertendo muitos. O próprio pai afinal ficou comovido e mandou um mensageiro a Tomé, pedindo-lhe para voltar. O Apóstolo voltou, pois, na despedida lhes dissera: “Em pouco tempo nos tornaremos a ver”. O rei e uma grande multidão de povo pediram o batismo e o próprio rei tornou-se mais tarde diácono e foi juntar-se aos seis Magos. Tendo ainda a lembrança vaga de que se tornou sacerdote e o filho construiu uma igreja.
Vi Tomé numa outra cidade, à beira do mar e notei que tencionava deixar a Índia; creio que não era longe da região, onde mais tarde pregou São Francisco Xavier. Apareceu-lhe, porém, Jesus, que o mandou viajar para o interior da Índia. Tomé não queria, por habitar ali um povo muito selvagem; então lhe apareceu Jesus, pela segunda vez, dizendo-lhe que lhe estava fugindo diante dos olhos, como Jonas; que fosse para lá, pois não o abandonaria; grandes prodígios se fariam por suas mãos. No dia do juízo Tomé havia de estar a seu lado, como testemunha de quanto Ele fizera pelos homens.
Vi São Tomé, caminhando com muito povo, curando enfermos, expulsando demônios e batizando numa fonte. Veio vê-lo também um homem muito distinto, douto e piedoso, que sempre estava estudando nos livros e se tornou zeloso discípulo do Apóstolo. Esse homem tinha uma sobrinha, casada com um parente do rei. Era extremamente bela e riquíssima. Tendo ouvido falar dos milagres de Tomé, sentia grande desejo de ouvir-lhe a doutrina. Passando através do povo, até chegar junto dele, prostrou-se-lhe aos pés e pediu-lhe que lhe ensinasse. Tomé ensinou-lhe e abençoou-a; a moça ficou muito comovida, chorava, rezava e jejuava dia e noite. O marido, que a amava muito, tornou-se muito triste e procurava distraí-la. Ela, porém, lhe pediu que a deixasse ainda algum tempo recolhida. Ia diariamente à doutrina de Tomé e tornou-se zelosa cristã. O marido, zangado, apresentou-se em vestes de luto ao rei, acusando Tomé. Tendo levado o Apóstolo amarrado ao rei, este o mandou açoitar e encarcerar. Foi o primeiro martírio de São Tomé, em todas as suas viagens; ele, porém, louvava a Deus.
A mulher convertida cortou o cabelo, chorava e rezava, deu tudo aos pobres e não usava mais enfeites. De noite, na ausência do marido, subornava os guardas e ia com outros ao cárcere, para ouvir a doutrina de Tomé. Levava consigo a ama de leite e pediram o batismo. Tomé mandou preparar tudo em casa para o batismo, e saindo do cárcere, foi à casa das recém-convertidas e batizou-as, com muitos outros. Os guardas dormiam, por efeito da Providência Divina e Tomé voltou ao cárcere.
Como, porém, até da família real alguns mudassem de vida e seguissem a doutrina do Apóstolo, mandou o rei trazê-lo à sua presença e como Tomé lhe explicasse a doutrina, sem que o rei quisesse crer, propôs-lhe o Apóstolo pedir a Deus um sinal de que ele dizia a verdade. Então mandou o rei colocar-lhe em frente lanças em brasas e Tomé andou sobre as mesmas sem se queimar; no lugar onde foram colocadas, nasceu uma fonte. Tomé narrou também ao rei o que anunciava em toda a parte; que tinha visto, durante três anos, os milagres feitos por Jesus e contudo tinha duvidado muitas vezes; que agora cria e era obrigado a propagar a verdade entre os infiéis.
Acusava-se sempre de seu pecado. O rei mandou ainda aquecer uma sala de banho, para o fechar lá dentro e fazê-lo morrer pelo vapor quente; mas era impossível aquecê-la e havia dentro só ar. Depois quis forçá-lo a sacrificar aos ídolos e Tomé disse: “Se Jesus não quebrar os teus ídolos, então sacrificarei”.
Então prepararam uma grande festa e dirigiram-se com pompa ao templo. O ídolo, colocado num carro, era todo de ouro. Mas, à oração de Tomé, caiu como fogo do céu, fundiu o ídolo e muitos outros ídolos caíram. Levantou-se um grande tumulto entre o povo e os sacerdotes dos ídolos e Tomé foi novamente lançado no cárcere.
Deste cárcere foi libertado como Pedro, dirigindo-se a uma ilha, onde ficou longo tempo. Deixou catequistas nesse país e partiu para o Japão, onde se demorou meio ano. Depois que voltou, converteram-se ainda muitas pessoas da família real. Os sacerdotes idolatras guardavam-lhe veemente ódio. Um deles tinha um filho enfermo e pediu a Tomé que o curasse; depois, porém, estrangulou o filho, acusando Tomé do assassínio. Este, entretanto, mandou trazer o cadáver e ordenou-lhe, em nome de Jesus, que dissesse quem o matara. O cadáver levantou-se e disse: “Foi meu pai”. Em conseqüência deste milagre se converteram ainda muitos.
Vi que Tomé costumava rezar fora da cidade, à grande distância do mar, ajoelhado sobre uma pedra, a qual conservava as impressões dos joelhos. Um dia predisse que, se o mar, que estava muito distante, chegasse até aquela pedra, viria um homem de uma terra longínqua, para pregar a doutrina de Jesus. Então eu não podia imaginar como o mar pudesse chegar até ali. Mas nesse lugar foi erigida uma cruz de pedras por Francisco Xavier, quando desembarcou.
Vi S. Tomé, de joelhos sobre essa pedra, rezando em êxtase; aproximaram-se traiçoeiramente sacerdotes idólatras, que o atravessaram com uma lança. O corpo do Apóstolo foi transportado para Odessa, onde ainda tenho visto celebrarem-lhe a festa. No lugar em que morreu, ficou-lhe, porém, uma costela e a lança que o transpassou. Ao lado da pedra havia uma oliveira, que foi salpicada com o sangue de Tomé e que exsudava óleo todos os anos, no dia do martírio do Santo e quando isso não acontecia, esperavam os habitantes da região um ano mau.
Vi que os idólatras em vão tentavam desarraigar esse arbusto, que sempre de novo crescia; vi também ali uma Igreja e quando, na festa do Apóstolo, se rezava a Missa, o arbusto exsudava ainda óleo. A cidade tem o nome de Meliapur; agora a situação não é favorável, mas a fé cristã há de firmar-se ali de novo.
Foi-me dito que Tomé chegou à idade de noventa e três anos. Estava queimado pelo sol e muito magro; tinha o cabelo ruivo. Ao morrer, apareceu-lhe o Senhor, dizendo-lhe que ai sentir-se-lhe ao lado, no dia do juízo.
Se não me engano, na ordem de suas freqüentes viagens, depois da divisão dos apóstolos, foi primeiro ao Egito, depois à Arábia e, chegando ao deserto, mandou um discípulo ao Apóstolo Tadeu, para que visitasse o rei Abgar. Depois batizou os reis Magos e percorreu a Báctria, a China, o Tibet, e ao norte, o território russo, voltando dali a Éfeso, para assistir à morte de Maria; da Palestina partiu para a Itália, atravessando depois uma parte da Alemanha, Suíça e França, embarcou para a África e passando pela terra de Judit, pela Abissínia e Etiópia, foi à Socotora; dali foi à Índia e Meliapur, de onde, libertado do cárcere pelo Anjo, se dirigiu, por uma parte da China, ao extremo norte, que agora pertence à Rússia. Dali veio à ilha ao norte do Japão.
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