RETORNO
Por Washington Ramos Em: 07/05/2023, às 18H26
[Whashington Ramos]
Pra Você, não tenho vergonha de contar, de narrar o maior erro que cometi em minha vida até agora. Você é meu amigo e colega de profissão, por isso posso contar.
Estou voltando para a sala de aula, de onde nunca devia ter saído. Ela não é o pior lugar de trabalho no mundo, como eu já cheguei a pensar que fosse. Não, não é. Há outros muito piores. Ela piorou muito com a chegada do celular, o novo deus dos seres humanos, inclusive dos alunos. Ora, veja bem: os pais deixam o filho levar o celular para a escola, a portaria deixa-o entrar com o celular, a coordenação e a direção se omitem também, mas todos querem que o professor controle o uso do celular em sala de aula, como se houvesse suporte técnico para uso do celular em sala de aula. Ora, vão tomar banho!
Mas isso é outra história. Vamos continuar com a minha. Pois é! Há seis meses, tirei uma licença sem vencimento e botei um bar. Eu achava que seria feliz, que teria menos chateação, que iria ganhar mais dinheiro. Enganei-me redondamente. Você não imagina o que é a gente estar com sono, cansada, já às 8 da noite, depois de muito trabalho o dia todo, já se preparando para fechar, quando chega um cliente, senta-se a uma mesa, pede um refri, pega o celular e fica olhando o Whatsapp, telefonando, jogando... Dá 8:30, 9:00, 9:30, 10 horas, e o cliente no celular, raramente bebericando goles do guaraná. Parece que está querendo me matar na unha, como se eu o tivesse ofendido alguma vez. E eu com sono, querendo dormir. É uma verdadeira tortura.
Outro caso foi o de um casal que chegou, pediu uma cerveja e começou a se agarrar, a se beijar com sofreguidão. Fui lá e, educadamente, reclamei, disse que o ambiente é familiar. Ah! Pra quê?! Os dois se zangaram. “Tá me chamando de puta, é?”, disse a mulher. “Não, senhora. Apenas não é permitido namorar aqui neste bar.” De cara amarrada, ela abriu a bolsa e puxou uma nota de cem reais para pagar a cerveja, que na época custava 3.50. “Não tenho troco, será que o rapaz aí não tem trocado?” ( na verdade, era um pirralho com cara de gigolô, pior tipo de homem para mim, não há nada mais nojento do que homem que vive à custa de mulher.). “Não”, ele disse. “Pois vai ficar de graça”, ela disse.” “Depois Você paga”, eu falei. Fiquei no prejuízo, eles nunca mais apareceram.
Noutra vez, chegaram três mulheres. Sentaram-se a uma mesa, pediram cervejas e tira-gosto de carne de sol com batata frita. Estavam conversando animadamente, quando chegou um cara e foi logo xingando uma delas: “Sua puta, Você não vale o que a gata enterra!” Ela também não contou conversa, quebrou uma garrafa de cerveja e falou: “Encosta em mim, filho da puta! Vem! Vem, que eu quero furar tua barriga e derrubar teu fato!” As outras duas se levantaram e cada uma pegou uma cadeira, dessas de ferro, com intenção de jogar em cima do cara. Ele percebeu que a barra ia pesar pra ele e foi saindo de fininho.
Há ainda muitos outros casos, que depois lhe contarei. O importante é que agora não quero mais saber de bar e estou de volta para a sala de aula.