(Miguel Carqueija)

 

Há, no Brasil, muitas edições amadoras que merecem ser garimpadas

 REDE DE ILUSÕES
(resenha do livro de Marcus Dartagnan)

                                       


     Coordenação editorial, revisão e prefácio: José Ricardo Junqueira
     Diagramação e produção gráfica: COM 1 Comunicação & Publicidade
     Impresso na Gráfica MEC – Rio, RJ, 2004



     É interessante notar que este volume é apresentado, no prefácio, com o destaque de ser um trabalho independente: “existem alternativas para as boas obras que não gozam da proteção e das benesses da grande mídia, das grandes “redes de ilusões”. Dartagnan mostra que há vida inteligente fora do stablishment do entretenimento e da cultura e parte para um trabalho independente para levar sua arte a palcos e telas do país.” (...) As produções independentes ganham cada vez mais força e cotação do grande público e chamam a atenção dos patrocinadores pelas atraentes perspectivas de retorno.”
     Será mesmo? Seria uma excelente notícia, considerando as dificuldades para penetrar no mercado editorial.
     O autor do livro é apresentado como ator, cinegrafista, produtor, diretor e roteirista de cinema, diretor e montador teatral, além de possuir uma escola de teatro. Não é apresentado propriamente como escritor (autor de contos ou romances, por exemplo). Na verdade este texto, apresentado como um romance policial, é um roteiro cinematográfico, que deveria ter originado um filme. Como ainda não foi possível realizá-lo (até pelo conteúdo crítico em relação ao comportamento moral no ambiente de uma grande rede televisiva e nos bastidores da produção de uma novela, como o prefácio sugere nas entrelinhas), Dartagnan optou por publicar o roteiro em livro.
     Não é uma história policial típica, com um investigador ou detetive esperto, capaz de operar notáveis deduções. É uma história de intrigas e baixarias na equipe de produção de uma novela de tv, onde se atinge o nível do homicídio. Os personagens não chegam a ser marcantes, até porque um roteiro não é propriamente para ser lido por um público, mas para balizar o trabalho do diretor. Apesar disso a leitura é relativamente fácil.
     Pode-se dizer que os crimes se resolvem por si; a novela de tv dentro do roteiro, que mistura catolicismo, umbanda e espiritismo, sabe indigesta. Tem algum humor, uma certa dose de sexo sem ser pornográfico, mas retratando comportamentos manjados no submundo da televisão. Na verdade o aspecto de novela policial é tênue, embora exista.
     Apesar da desenvoltura do autor a leitura exige paciência por se tratar de roteiro, com a sua linguagem pouco digestiva.