“Simplesmente de pasmar as descobertas sensacionais que a alta pesquisa histórica moderna está realizando no campo das instituições e quanto à autoria das grandes epopéias da humanidade; por exemplo: a instituição do Salteo ou dos alfaqueques, ambas por nós descobertas e, por incrível que pareça, a autoria da própria Divina Comédia atribuída a Dante Alhigieri, pois bem, saibam todos, que a maior epopéia do renascimento não é de Dante Alhigieri, como até agora estudávamos e ensinávamos: ela é cópia quase literal dos ensinamentos da escola mística muçulmana-espanhola de Ibn-Massarra, como prova de maneira irrefutável o grande arabista espanhol, professor Assim Palácios, na sua imortal obra intitulada “La Escatologia Muçulmana en la Divina Comedia”, que, por incrível luxo de detalhes, prova extremos tão curiosos como os conhecimentos da gíria siciliana por parte de Dante Alhigieri.
Por exemplo: existe na Divina Comédia dois versos que ninguém até hoje soube traduzir. E sabem o que esses versos dizem? Pois pasmem: são dois solenes palavrões utilizados na gíria árabe da Universidade Siciliana de Palermo, onde reinava Frederico II, íntimo amigo e protetor de Dante Alhigieri e tão arabizado, apesar de ser cristão caudatário do Papa, que até harém possuía; e que como diz o velho ditado espanhol: “Lo Cortés no quita lo valiente”.
Nem o famoso Bartolomeu Mitre, presidente da República Argentina, foi capaz de traduzir os ditos versos na sua versão espanhola da Divina Comédia; o autor de tão hilariante descoberta foi nada mais nada menos que o nosso modesto e despretensioso professor Kurban, recentemente falecido, nesta mesma metrópole paulistana”.
(trechos do livro Mundo árabe berço da civilização, Fearab – Brasil – Confederação de Entidades Árabe-Brasileiras, 2006, p. 37 e 38).