Quando o tempo vira ar
Em: 14/12/2008, às 08H02
Dílson Lages Monteiro
Para Adalgisa de Carvalho e Silva Pires Alves (em memória)
“E quando dezembro chega, todas as vezes que adentro àquela casa, ainda vejo Dasinha, divinamente gorda, sentada na rede a confeccionar rosas ou a rezar. Ainda vejo os morcegos em peripécias na ante-sala, o gosto embriagante dos jasmins no tato de cada compartimento; o quadro, em que reluzia como ilustração um buquê de flores e as palavras santas: “O senhor é meu auxílio, não temerei!”. Ainda vejo a cidade, contemplando as cores do presépio da velha Senhora, cujo destino optou pela silêncio da fé”.
Dezembro desabrocha no chão
de onde a terra leva e leve
o cheiro da chuva e dos jasmins
da porta ao quintal.
Dezembro de Dasinha e das dores
da Senhora Nossa da Conceição
no peregrino passo
os olhos molhados de preces
Ah! Dezembro no teto (des) habitado
de morcegos onde a manhã estrelas desenha
onde os vitrais se alargam palpitantes
onde a porta-a-sala-e-a-casa:
A cidade se abre
para Jesus renascer
segurando as mãos de Dasinha
onde imagem-ação, o esperar do ano novo.
Ah! O ar de agora e de sempre
no Pai Nosso e em Cada Dia
do quintal à porta
onde a bisavó armava
as margaridas nas janelas
e o carmim do céu
para o vento (ex)altar a procissão.
Dezembro em tijolos
na cabeça do povo
os dedos derretendo em velas
e a luz do fogo em filas
e os férteis pés e firmes
na comum-união de todos as classes:
dezembro e a promessa
de que o tempo vira ar.