PROTAGONISTA DA VIDA
Por Antônio Francisco Sousa Em: 03/05/2007, às 12H22
No teatro de operações da vida, essa mulher, não somente é co-autora de uma peça importantíssima, como também dela é protagonista. Bom que se diga, que não é pelo fato de co-escrever uma história que mescla drama e tragédia de alguns atos com a comédia de outros, que ela se arvora o direito de desempenhar o papel de maior destaque: é que a obra não faria sucesso sem sua participação, sem o brilho irretocável de seu desempenho artístico.
A peça de que estamos falando, não raro, se confunde com a própria vida e, em muitos momentos, a protagonista, numa subdelegação de competência dada pelo autor principal e patrocinador-mor, absorve a função de diretor.
Ainda que teatro de operações seja uma expressão militar usada pelos exércitos para denominar os espaços ocupados e os movimentos ocorridos em tempos de guerra para anexação de território, re-instalação ou manutenção da paz, não é nenhum despropósito utilizá-lo como um novo conceito de vida, pois o que ela é senão uma luta constante que se sucede num conjunto de batalhas surpreendentes? Ai de nós se não contássemos com um comandante tão eficiente a nos dizer que rumo tomar, que armas usar, que trincheiras ocupar quando o inimigo, ganhando terreno, ameaçasse vencer-nos ou nos fazer prisioneiros.
A mãe pode até não nos escolher para trabalhar nesse teatro, mas não nos rechaça nem nos dispensa quando lhe pedimos uma chance. Pelo contrário, incontáveis vezes, mesmo reconhecendo nosso pífio talento, intercede junto ao criador por nós. Não se tem ouvido dos críticos nem lido dos historiadores que, em alguma ocasião, Ele lhe tenha negado algum pedido.
Em quantas oportunidades, porém, por nos sentirmos incapazes ou despreparados para desempenhar os papéis que nos cabem, não nos afastamos do gargarejo momentos antes de iniciar-se mais uma apresentação? Em certos casos, mal recebemos os scripts para decorarmos as falas, afastamo-nos do grupo, deixando-o na mão.
Se tentamos junto a outros diretores obter uma nova chance, dificilmente conseguimos; entretanto, se voltamos para junto de nossa antiga companhia, como se nunca houvéssemos nos afastado da trupe, somos acolhidos e o papel que nos negamos ou não conseguimos desempenhar anteriormente, é-nos oferecido sem quaisquer cobranças, pouco importando se a peça, sem nossa presença, tenha obtido retumbante sucesso ou não.
Como nas guerras belicistas fazem médicos e enfermeiras pelos feridos, nas batalhas existenciais são as mães que nos recebem mutilados fisicamente ou enfermos da alma e nos acolhem, cuidando para que nos recuperemos o mais rapidamente possível a fim de que possamos participar das próximas cenas.
Porque somos ingratos, portamo-nos como canalhas, ao não comemoramos com ela o sucesso conseguido numa determinada temporada. Preferimos, muitas vezes, compartilhar nossa alegria com aqueles que somente de nós se aproximaram quando não mais havia o risco de fracasso. Extasiados, porém, se acaso nos lembramos de que ela existe e, por conseguinte, merece que lhe dediquemos um pouco de nossa vitória, somos recebidos, invariavelmente, com muita festa, inusitado e desprendido entusiasmo.
Essa mulher, que mais parece um anjo de compreensão, candura, afeto, amor, dedicação e competência, na verdade, é o maior e melhor presente que o Criador desse eterno teatro de operações pode nos dar. Com ela, basta querermos e aprenderemos a ser atores grandiosos, em vez de artistas medíocres.
Convém não desperdiçarmos tão grande dádiva. Agradeçamos ao Senhor Deus por nos proporcionar o aconchego e o carinho abundante dessa mulher completa e maravilhosa, protagonista da vida: a Mãe de cada um.