PROCURA-SE UM LIVREIRO
Por Carlos Evandro Martins Eulálio Em: 25/06/2010, às 07H00
Procura-se um livreiro
Carlos Evandro Martins Eulálio
O livreiro é alguém muito próximo de seus clientes. Atualmente é uma espécie rara, quase em extinção. É aquela pessoa com quem os amantes de livros obtêm informações sobre os lançamentos de obras, sobre escritores, enfim sobre tudo quanto diz respeito a livro. Ele sempre nos atende com aquela cordialidade que nenhum vendedor ou balconista dispensa. Incentiva-nos a ler, a descobrir autores, a gostar de ler. Ensina-nos a escolher os melhores títulos.
Conheci poucos livreiros em Teresina. O primeiro foi o Nilo, da Leonel Franca, estabelecido na Lisandro Nogueira, antiga rua da Glória. Morava na própria casa em que comercializava seus livros. Vendia-nos à prestação. Sem consulta ao SPC, é claro. Interesse pela leitura era o requisito de aprovação do crediário. Foi ali que ainda adolescente adquiri os meus primeiros livros. Nilo mantinha um caderno de fiados, controlado pela mulher, D. Leonildes, popularmente conhecida por D. Princesa. Não fazíamos cadastro; não recebíamos cobrança. Tudo na base da confiança. Aposentado, já idoso, Nilo desfruta de merecida aposentadoria.
Conheci também o Nobre, da Livraria Dilertec, situada na 13 de Maio, em frente ao antigo Hotel Royal. Era o local de bate-papo preferido dos intelectuais da terra: estudantes, professores, magistrados e bons leitores. Foi para mim uma inesquecível figura. Nobre não só conhecia livros, mas também os lia com voracidade. Era um ledor entusiasta. E passava a emoção de suas empolgantes leituras para os frequentadores da livraria, aos quais também servia lanche. Reprimia os que maltratavam livros, folheando-os com grosseria. Sempre o encontrava, quando não tirando a poeira dos livros, teclando em sua máquina de escrever. Correspondia-se com escritores e escrevia a autoridades que faltavam ao cumprimento do dever.
Uma manhã, fui surpreendido ao encontrá-lo doente. A enfermidade o privou da voz. Nos últimos dias de vida, recorria ao megafone de mão para dirigir-se às pessoas com quem desejava se comunicar. Estive com ele pela última vez numa tarde de muito calor, já em novo endereço, na rua Eliseu Martins, onde administrava os negócios da Livraria e acompanhava a construção de sua nova sede. Lembro-me que estava debilitado, angustiado com o sofrimento que lhe infligia a doença. Definitivamente não mais falava, gesticulava apenas, por isso recorria à escrita no papel. Foi assim que nos comunicamos pela última vez. Soube que falecera dias depois.