(Para o Mestre dos bons poetas, Carlos Drummond de Andrade)

 

Não escrevas versos sobre amores banais

Não há certeza e nem glória perante o fugaz.

Na ânsia da procura, o amor é um abismo vazio,

que nunca se completa e nem se eterniza.

As junções efêmeras da carne, os acasos do ser:

Isso tudo nunca será amor, muito menos poesia.

 

Não construas amor com o corpo

O corpo é anatomia sem essência.

 

O Amor é o canto inaudível,

a maldição dos poetas.

Amor elide carne e pequenez

Ele esconde-se na alma sem alarde.

 

Por isso confundem-se amor e brevidade.

Mas o AMOR, esse buraco escuro e impenetrável,

é o que os poetas racionais nomearam:

o abraço da eternidade que não se toca.

Afinal, “o amor da humanidade é uma mentira”.

 

Porém, que sei eu dessas coisas,

se minha alma é o cântico negro,

o poço de lesões, a pedra e o nada?

 

Que saberei poetar sobre a palavra AMOR,

um substantivo ímpar e sem sinonímia?

 

Como pode uma criatura como eu

senão amar, se o amor, essa sede infinita,

é uma pedra que se disfarça ao rimar com FLOR?

 

Amor é o teatro e o palco dos poetas:

fingem tão bem e tão intensamente,

que chega ser amor o que deveras sente.

 

Mas o que sabem os poetas do mundo inteiro

senão dissimular e persuadir a quem se ama?

E o que saberei eu depois de ler a palavra AMOR

dançando no firmamento com um bilhete de luz?

 

“POESIA E AMOR SÃO DUAS PORTAS

SOMENTE OS POETAS TÊM A CHAVE.

SÓ A POESIA É PURA E VERDADEIRA

O RESTO É AUSÊNCIA E INCOMPLETUDE”.


   

[por Rosidelma Fraga - In: <http://rosidelmapoeta.blogspot.com>]