Cunha e Silva Filho


         A Presidente Dilma não foi correta nas afirmações da campanha à reeleição e o não foi simplesmente porque escondera dados sobre a grave situação econômica do seu governo. Venceu a eleição pelo engano e vãs promessas em  discursos meramente de caráter eleitoreiro.
       Tal postura não combina bem com o papel de um estadista, de um Chefe de Governo. O seu partido já havia perdido a ética partidária, com o “Escândalo do Mensalão.” Mesmo assim, Dilma ganhou um segundo mandato graças às benesses chamadas de bolsa-família, bolsa disso, bolsa daquilo distribuídas, pelo Brasil afora, por ausência de fiscalização, até para quem delas não precisa.
        O Nordeste, sobretudo, nela votou maciçamente, porquanto ali vive uma população ainda muito carente, onde alguns continuam, até hoje, por exemplo, em cidades do estado do Maranhão, praticamente morrendo de fome.
       O bolsa-família é o maior cabo eleitoral do PT. Daí, a vitória, posto  que apertada, de Dilma.O ex-presidente Lula ainda alimenta o imaginário nordestino como mais um salvador da pátria, que,  nos dois mandatos presidenciais, se aproveitou matreiramente, conforme é do seu feitio e de seu espírito   inclinado  a picardias, da situação econômica do governo anterior, o do FHC, e deu uma guinada em mudanças de natureza social em direção às classes mais desfavorecidas, ganhando o apoio incondicional destas e dividendos futuros. Por isso, foi elogiado dentro e fora do país, ganhou títulos de doutor em mais de uma universidade, aqui e fora do Brasil. Até biografia virou nas mãos de um intelectual da Academia Brasileira de Letras conhecido pela sua linguagem rebuscada e intraduzível. No exterior, em universidades de peso, é classificado como político da esquerda, o que, na realidade, não é verdade, uma vez que se dá bem com capitalistas, tendo tido até como vice um empresário já falecido. Se um filho seu é dono de uma  grande empresa, se ele próprio Lula já tem hábitos de vida e condições burguesas, que diabo de esquerdista é ele então?
      Segundo acima afirmei, Dilma,  logo após a vitória certa e líquida, mostrou a verdadeira facies a que viera no segundo mandato: renegar tudo que declarara nos comícios e fazer o inverso do que prometera, a par de ainda permitir que ela própria, o legislativo e o judiciário fossem brindados com um aumento substancial de seus salários num momento incompatível com gastos financeiros. O funcionalismo federal, se teve algum aumento, foi praticamente invisível diante da triste realidade que o segundo mandato só revelara depois da vitória: uma economia necessitando de modificações e ajustes, de cortes no Orçamento Federal.

      O governo federal, ao mesmo tempo que está cortando gastos, está determinando e permitindo aumento inflacionário nos preços de itens vitais à sociedade: remédios, energia, gás, luz, alimentos, tributos, imposto de renda, enfim, queda absurda do PIB, recessão entre outras mazelas provocadas pelo próprio governo federal que gastou perdulariamente nas campanhas, sem se falar no escandaloso desmonte financeiro da Petrobrás pela vias abertas da corrupção deslavada e sem precedentes na história da política brasileira. Quer dizer, um governo que engana a consciência da sociedade em vários setores do Estado não pode querer a estima do povo, mas o repúdio, as manifestações em praça pública de indignação contra todos os seus erros e falcatruas permitidas ou provocadas pelo próprio governo federal.
      Diante de males construídos pelo governo de Dilma, torna-se difícil permanecer calado como cordeirinho. Diante de bandalheiras, não há “brasileiro cordial” que suporte o tranco. Hoje, praticamente, nenhum dos poderes se torna confiável para a sociedade civil, a não ser para os fanáticos ideológicos, sempre cegos diante dos males que afligem a nação.
      Essa posição alienante, causada pelo fanatismo político-partidário, atingindo mesmo os níveis de eleitores letrados, me faz lembrar o surgimento dos adeptos do regimes de força, dos totalitarismos de esquerda e de direita, que só ouvem a voz única dos seus líderes, inimigos da humanidade e provocadores dos males universais, segundo se viu na Segunda Guerra Mundial, tendo à frente o nazifascismo.
     Se os políticos estão desacreditados, se a Presidente persiste em não  escutar a voz da nação, se o judiciário se calar com  tantos desmandos, os fundamentos democráticos podem entrar em colapso, o que não é bom nem para o status quo atual nem para a sociedade. Por tais caminhos, é que,  se o escândalo da Petrobrás não for resolvido a contento, quer dizer, com a revelação e a punição  de todos os criminosos financeiros do dinheiro do contribuinte, se outros graves problemas não forem solucionados, tais como a violência crônica, a criminalidade, os abusos dos poderes constituídos, a desmoralização política, os gritantes e  justos reclamos da sociedade contra os setores deteriorados  da saúde pública, da educação publica, dos transportes de massa, o Estado Brasileiro correrá perigo de retrocesso. Ou se moraliza o Estado ou a nação se afunda no abismo que não queremos nem desejamos.
    A máquina do Estado não pode privilegiar os membros dos três poderes em detrimento do sacrifício de quem  está fora do Planalto.Convém lembrar aos que detêm os altos cargos da nação  que eles não são membros de capitanias hereditárias. Estão lá para servirem ao povo em todos os níveis sociais, sobretudo os menos aquinhoados, os que não têm poder político não obstante terem o poder do voto que, no conjunto do eleitorado, se torna fracionado e perde sua força individual. São inúmeras as razões disso, fruto contraditório dos regimes democráticos.