Prima e primo, e um casamento desfeito
Por Chagas Botelho Em: 02/04/2024, às 07H53
[Chagas Botelho]
Alice jogava casca de laranja fresca no teto. Se a tira prendesse na ripa de madeira, logo casaria. Senão, ficaria para titia.
Não acertava uma. Entrou em desespero. Passou a treinar diariamente arremesso de casca de laranja na cumeeira. Afinal, o hábito faz o monge. Moça velha, nem pensar. Carmelo, Deus que a livrasse.
Um dia, acertou. Jogou e acertou. Vibrou muito com a casca de laranja pendurada. Casou-se logo. Teve muitos filhos. Procriou feito coelho. Tempos depois, como se passa nos filmes, ligou chateada para o primo Luís. Jovem rapaz não muito afeito a matrimônio. O casamento da prima estava em crise. Ia se separar. Separou-se.
— Primo, descobri que não nasci para casar. Afirmou em prantos.
— Entendo. Luís respondeu lacônico. Para em seguida completar:
— Olha prima, se servir de consolo, Tolstói, sabe quem é, né? O grande autor de Guerra e Paz, disse que “o casamento é uma doença mortal”.
— Concordo com ele, primo. O meu foi só guerra. Disse Alice lamuriosa.
Luís, irônico, insensível, ainda provocou a coitada:
— Prima, e agora descasada, vai jogar casca de laranja no oitão da casa para arranjar outro marido?
Chateada, Alice sapecou:
— Olha aqui seu Luís, primeiro, moro em apartamento. Segundo, tenho gastrite e nem de laranja gosto mais.
Tutututu, desligou.