POR CAUSA DE UM POEMA
Por Washington Ramos Em: 14/07/2024, às 18H41
{ WASHINGTON RAMOS}
POR CAUSA DE UM POEMA
Não sou muito religioso, no entanto aprecio muito a palavra catedral. Considero-a linda. Não sou elitista, mas gosto de entrar e ficar numa catedral quando, nela, há pouca gente. É balsâmico ficar ali, naquele silêncio, refletindo, rezando, lembrando-me de versículos da Bíblia, recordando-me da vida de santos cristãos, do que sofreram por sua fé, olhando as pessoas que entram, se ajoelham e saem silenciosamente como se pisassem plumas.
É a ocasião que aproveito para pedir perdão a Deus pelos graves erros que tenho cometido em minha vida; para jurar a mim mesmo não repetir os erros do passado; para procurar me tornar, progressivamente, uma pessoa melhor; ser mais paciente e não me preocupar com coisa alguma.
É a ocasião que aproveito para fazer um exame de consciência sem me ajoelhar aos pés de ninguém; para planejar informalmente ações minhas no futuro próximo; para me esforçar, ao máximo, em limpar minha alma e meu coração de qualquer maldade que venha querer ameaçar alojar-se neles.
É a ocasião em que as imagens acústica, visual e verbal ficam repercutindo em meu cérebro: catedral, catedral, catedral...
É muita fixação com uma palavra. Ela é talvez a palavra mais querida de minha vida, pois me remete à ideia de Deus, de paz, de amor, de sonho, de paciência, de tranquilidade espiritual.
Qual é a causa original dessa fixação? É o poema A catedral, de Alphonsus de Guimaraens, talvez o mais belo poema sobre a igreja principal de qualquer média ou grande cidade do mundo cristão. É claro que nesse texto a catedral é a do sonho do autor. Contudo ele a universaliza, pois a relaciona com a figura máxima do Cristianismo e com a trajetória do sol fazendo os dias e as noites. Haverá algo mais universal do que a inexorável repetição de dias e noites? Do que a referência a Jesus Cristo? (Milhões de pessoas nele não creem, mas sabem quem ele é.).
Pois é! Constitui-se esse poema a causa de eu apreciar tanto a palavra catedral. Com suas rimas, sua métrica, seu ritmo verbal e cronológico, com seu rico vocabulário conotando o colorido do dia e do relâmpago rasgando a noite e iluminando a face do poeta, ele impressiona profundamente quem o lê, até mesmo ateus e agnósticos.