POEMITOS DA PARNAÍBA
Por Elmar Carvalho Em: 15/04/2020, às 05H18
POEMITOS DA PARNAÍBA
Textos: Elmar Carvalho
Charges: Gervásio
11. Hosana
Hosana nas alturas!
Hosana nas alturas
de sua vida sofrida
de pobre e alienada.
Interventora dos gabinetes
(cediam-lhe os pequenos tronos
de burocratas para rirem
o riso fácil e gratuito).
Cobradora de impostos e taxas
(davam-lhe ínfima moeda em
troca do riso rasgado).
Andava sempre com sua
roupa branca de marinheiro –
primeira e única almirante:
alma mirante
alma errante
alma navegante.
Sempre de
branco como as nuvens
que alvejavam em sua
cabeça de nefelibata.
12. Boa Idéia
Um dia
ou melhor uma noite
Boa Idéia teve a idéia
de construir um telescópio
para sonhar/sondar aqueles pontinhos
cheios de pontinhas chamados estrelas.
Galileu Galilei da Parnaíba
construiu sua luneta
desvendou estrelas e planetas e cometas
e perscrutou os umbrais do infinito.
Autodidata da astronomia
com seu telescópio passeava
pelos “mares” da lua
dizendo coisa com coisa
que ninguém sabia.
Brincava de bambolê
com os anéis de Saturno.
Jogou bola de gude
com as luas de Júpiter.
Morfeu o levou para ser
centurião de galáxias. Mas
voltará não num rabo de foguete
mas na caudabundante flamejante -
mente reluzente do cometa de Halley.
13. Rodrigão
Que dizer do Rodrigão?
Que ele era um novo Atlas
a sustentar em suas costas
a esfera azul do sonho?
Não. Era um atlas de carne e osso
porque sua cara vista de perfil
era um mapa da América do Sul.
14. Maria das Cabras
Passava com seu passo leve
– quase voo de pássaro –
com a suave elegância
de uma cabra montês.
Rápida cortava as
avenidas e as praças
até que a molecada gritava:
– Maria das Cabras!...
Maria subia a saia:
– Taqui o chifre da cabra!...
Os moleques com as cabeças
cheias de idéias e fantasias
em suas alcovas ou banheiros
se escondiam: Maria das Cabras
surgia como uma fada encantada
entre véus diáfanos que se
es~~~~~gar~~~~~ça~~~~~~vam.
15. Marechal
Maluco, se dizia alta
autoridade do planalto.
Ficava fulo da vida quando
chamado de soldado ou de
Madame de Chaval.
Não andava: marchava
de farda e botas.
Davam-lhe plaquetas e selos
e pequenas chapas de metal:
eram as condecorações e os
distintivos com os quais desfilava
entre continências de
risos e zombarias.
16. João Orlando
Surdo, surdo como um surdo,
aprendeu com Bilac a ouvir estrelas.
E as ouvia nas lindas noites estreladas
de Parnaíba.
Em sua surdez de pau
ouvia o bater dos corações das pedras.
Ouvia o bang-bang dos colts
em suas leituras de faroeste.
Com sua morte silente
aprendeu a ouvir o silêncio
absoluto da morte.
17. Pacamão
– Eu sou um monumento
anatômico e biotônico
onde a lenda se mistura com a realidade;
onde o homem se confunde com o mito.
E neste instante, sinto-me
forte como um elefante!
– Cadê a tromba? – perguntou um gaiato.
– Está aqui – retrucou Paca/mão na braguilha.
Pacamão: pacamônicos folclores
de ditos repetidos pela boca
do povo – arma de repetição
deflagrando gargalhadas.
18. Expedito Maciel
Enchia galões de gasolina
até a borda de cerveja
para beber e banhar.
Comprava defuntos frescos
para fazer o enterro.
O caixão seguia de carroça,
enquanto a banda tocava
por entre goles de aguardente.
Acendia charutos cubanos
com cédulas de cinco mil réis.
Dirigia carro importado dos EUA
vestido com roupa de estopa
de saco de açúcar.
Expedito Maciel,
Howard Hughes da Parnaíba,
milionário e excêntrico,
perdulário e esquizofrênico,
filho pródigo de si mesmo.
19. Luse
Sua saia rodada
sua saia rodando
era uma festa de
cores e folhas e flores
nas festas de que gostava.
Das pontas estelares de seus dedos
saltavam saltitantes valsas
pelos tec-tec teclados do piano.
Hoje ela estendeu um arame
nas pontas da lua nova,
colocou uma estrela e toc-toc
toca berimbau.
20. Mário Reis
Vulgo Mário Bola, tinha
a graça de um tatu bola.
Orfeu de novos carnavais
carregava o encantamento
dos sopros (marítimos) que
transformava em música em
sua gaita – caixa de mágico som.
Entre a música e a fofoca
uma piada de recheio.