Poemas de Walter Helmut Fritz (1929 – 2010, Alemanha)

 

Então, esses anos

 

Então, esses anos

com seus novos acessórios

em que nossas vidas

atravessam um pequeno espaço

dentro

da eternidade,

são o tempo de reflexão

e o tempo,

de nos sabermos

mortais,

o olhar

de novo e sempre

procurando os mostradores do relógio.

 

 

Lichtenberg

 

Ele descreveu

o que aconteceu como uma marca

d'água por trás das coisas.

 

Às vezes, tantas coisas

lhe pareciam desejáveis,

que ninguém mais

confiava nele.

 

Ele não viveu

a sua própria vida,

mas a das suas decepções.

 

Ele perguntou

qual era o significado disso,

se se consegue algo

ou não.

 

Ele estava exausto,

com o que não aconteceu.

 

Ele entendia

os humanos como seres

que têm a possibilidade

de serem enganados.

 

Depende muito

de como se aproveita essa oportunidade.

 

 

Eu não sei

 

O dia é pálido e claro.

Eu não sei,

o que congela as flores de gelo

na janela.

 

Das chaminés

sobe a fumaça.

Eu li porém

nos contornos dos telhados,

que a incerteza

ainda não acabou.

 

Quantos dias em janeiro,

que não se têm resposta,

terminam cedo

com crianças andando de trenó

e silenciosamente.

 

 

Dirigindo na chuva

 

Chuva contra a janela,

chuva torrencial,

jogo de chuva.

 

Os quebra-cabeças iluminam-se

à luz hesitante dos faróis,

frases de conversas,

que crescem ao longo dos anos,

inesperadas, tiram seus pensamentos.

 

Sonora chuva.

Já chegamos

aos dias

que escurecem atrás das florestas.

 

Talvez

você já compreenda uma curva na estrada,

o que sopra

na rápida corredeira do tempo.

 

[Tradução do alemão ao português por Marcos Freitas]

 

Publicado originalmente na Revista da Academia de Letras do Brasil, nº 11, jan/jun - 2024, Brasilia - DF.

ISSN 2674-8495. Editora Calêndula.