Poemas de Donald Krieger
Por Marcos Freitas Em: 30/11/2022, às 11H38
Donald Krieger é um pesquisador biomédico cujo foco é a atividade elétrica no cérebro. Lançou pela Cyberwit (2020), o livro "Discovery" e “When Danger Has Passed, Who Remembers?” pela Milk and Cake Press (2022). Foi indicado ao prêmio Pushcart (2020) e foi bolsista da Creative Nonfiction Foundation Science-as-Story, em 2020. Tem trabalhos publicados nas revistas Hanging Loose, Neurology, Live Mag!, The Raw Art Review, Seneca Review, The Pittsburgh Post-Gazette e The Asahi Shimbun, Entropy, Vox Populi Sphere, Dissident Voice, American Journal of Nursing e outras, e em várias antologias em inglês e farsi. Seu trabalho foi traduzido para farsi, grego, italiano, alemão, turco e romeno. E agora ao português, pelo poeta e tradutor Marcos Freitas.
Poemas de Donald Krieger (1948 – , EUA)
HAICAIS DE HIROSHIMA
fortificações de pedras folheadas
árvores fênix em bifurcação de rios
decíduas almas
brilhante céu noturno
grande migração
ruas em chamas
ponte memorial
à frente e no meu retrovisor
almas aladas pervagam
NOSSAS HUMANIDADES COMPARTILHADAS
Nada é mais mortal:
dogma
tão bonito
coragem
mais arriscado
fé
sedutor
privilégio;
mais nobre e justo
guerra
mais profano
indiferença
mais cruel
Deus;
nenhuma verdade maior
gentileza
nem mentira maior
cor;
nada
mais humano
descoberta.
CELEBRAÇÃO DE CLÁUDIA
Seu corpo sobreviveu a ela,
não sei quanto tempo
mas por muito tempo.
Estava escrito em seus rostos cansados,
no encolher de ombros do marido,
em cada reminiscência
com sua pátina de ficção,
sem lágrimas, quase plana
como feridas curadas por anos até serem fechadas.
Peguei duas pedras da coleção dela,
redondas, porém, serrilhadas,
pesadas no meu bolso.
Vou colocar uma
no túmulo da minha amiga,
assassinada na Árvore da Vida,
a outra no da Lil
e assim santificados ficam todos.
1970
Eu estava nesse primeiro sorteio,
escolhido pelo aniversário, 341,
sem problemas.
Mas voltei a pensar,
sentei-me para o exame,
fiz o teste físico,
esperei e torci.
Larry estava na Base Aérea de Travis.
Quando ele soube disso, ele ligou,
me convenceu a desistir.
Eu me arrependo de não ter ido,
mas sou grato também,
tantos que eu conhecia se foram.
DESCOBERTA
Eu penso principalmente sobre
o que ninguém sabe,
nem eu,
como o cérebro funciona,
é Deus realmente cruel,
por que o que eu sei como verdade
você sabe como mentira,
por que você me odeia
e eu a você
[Tradução do inglês, por Marcos Freitas]
Publicado na Revista da Academia de Letras do Brasil, Ano 4, Número 7, jan./jun., 2022 Brasília - DF, ISSN 2674-8495.