ANA MARIA BERNARDELLI
ANA MARIA BERNARDELLI

VE[DOR] DE ESTRELAS

 

 

Maldormido chão.

Maldormido céu

sem nuvens.

Maldormida lua.

 

Sinto os maldormidos tempos  

caminharem

na sonolência

e na vaziez dos acordes

das maldormidas

auroras.

 

Silêncio de maldormidas quedas...

Maldormidas ruínas...

 

Como o trágico atordoa?

Como a tristeza apavora?

Como a insônia incomoda?

 

Maldormidas vidas.

Maldormidas dores.

Maldormidas horas.

 

Os pássaros amanhecem

as árvores...

 

O sol acorda os pássaros...

 

As árvores

e os pássaros

choram

a música

do destino

ao vento...

 

Maldormidos presságios.

Maldormido vedor

de estrelas.

Maldormido mar

da minha alma.

Maldormido rio

do meu deserto.

 

Marcha idílica

de maldormidos abismos

da minha terra.

 

Maldormidos sinos.

 

 

Poema de Diego Mendes Sousa

 

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Caro amigo poeta Diego Mendes Sousa, da bela Parnaíba, região nordestina.

Encantei-me com o seu poema VE[DOR] DE ESTRELAS. Eis aí uma carinhosa análise desses versos tão sensíveis:

 

O poema "Ve[dor] de Estrelas", de Diego Mendes Sousa, é uma composição poética que mergulha nas profundezas da melancolia e da introspecção. Através de imagens vívidas e um ritmo marcante, o poema transporta o leitor para um estado de contemplação e de inquietação, explorando temas como o sono, a solidão e a efemeridade da vida.

A repetição do termo figurativo "maldormido" cria uma atmosfera de desolação e desesperança, sugerindo uma realidade entorpecida e desprovida de vitalidade. O eu lírico parece estar imerso em um estado de letargia, onde até mesmo os elementos da natureza compartilham dessa mesma condição, refletindo a apatia e o vazio que permeiam sua existência.

A associação de imagens como "maldormidas auroras" e "maldormidas quedas" evoca uma sensação de estagnação e desencanto diante do passar do tempo e das mudanças que ele traz consigo. A presença constante da melancolia e da tristeza, personificadas nas "maldormidas dores" e nas "maldormidas vidas", reforça a atmosfera sombria e opressiva que permeia o poema.

No entanto, apesar da melancolia que permeia o poema, há também uma sugestão de esperança e resignação diante das adversidades da vida. A imagem dos pássaros amanhecendo e das árvores chorando ao vento transmite uma sensação de renovação e de ciclicidade, sugerindo que, apesar das dificuldades, a vida continua a se desdobrar em sua plenitude.

Por fim, a figura do "maldormido vedor de estrelas" e a referência ao "maldormido mar da minha alma" adicionam uma dimensão metafórica e simbólica ao poema, convidando o leitor a refletir sobre questões existenciais e espirituais. O poema, portanto, oferece uma jornada emocional e reflexiva através de suas imagens poéticas e de sua linguagem evocativa.

 

*Ana Maria Carneiro Bernardelli é poeta, ensaísta, crítica literária e palestrante. Graduada em Letras, é professora especialista em Literatura Brasileira e Portuguesa, atuando por mais de 40 anos como professora de Literatura e Produção Textual e exercendo magistério desde o ensino básico até a Universidade. Também é Musicista certificada pelo Centro de Artes do Rio de Janeiro. Formada em Língua e Literatura Francesa pela Université de Nancy, França. É Membro da Comissão sul-mato-grossense de Folclore e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.