Poços de luz



Rogel Samuel


A mais bela contradição. Aquela luz da escuridão do poço? Azenha inverte os sentidos do poético, em:



poços de luz

maria azenha


fui à procura da palavra
que sonhei esta noite

há um espelho nas paredes da rua
um espelho gigante

as letras chegam-me por poços rodeados
de diamantes
crescem dos braços para a lua

o silêncio
uma ciência que se prolonga
no sangue

há praças onde esculpir o sol

Azenha faz da arena da rua um espelho, gigante espelho, nas paredes. O escuro poço é feito de luzes de diamantes esculpidos, onde se mergulha na solidão da alma. Estendem os braços para o céu, estão vindo do sangue, - o mundo de Azenha é todo multirefletido de espelhos - ela já escreveu um livro assim - são as alças de alcançar o brilho do sol, de um sol esculpido nas ruas, publicitário, exposto, onde a escritora está nua e em sangue... E onde estará a palavra sonhada?