PARA MULHERES VAGABUNDAS: AS SANTAS QUE ME PERDOEM
Por Rosidelma Fraga Em: 08/01/2017, às 15H30
[Rosidelma Fraga]
Liguem 180. Façam BO. Pesquisas comprovam que mulheres evangélicas são as que mais sofrem violência de todo tipo. Simone de Beauvoir já escreveu que “o opressor não seria tão forte se não tivessem cúmplices entre os próprios oprimidos”. Conforme uma pesquisa realizada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, o percentual de mulheres evangélicas agredidas chega a 40% e o maior problema é a omissão dos líderes e pastores.
Como uma militante que já seguiu religião, hoje meu objetivo crucial de amor ao próximo é ajudar mulheres rejeitadas por grupos de “cristãos” e discriminadas como "vagabundas" porque se divorciaram e não têm marido a combater todo e qualquer tipo de preconceito e violência. Obrigar uma mulher a findar seus dias de vida com o mesmo marido também é uma violência causada por líderes religiosos machistas, retrógrados e desumanos, os quais, de maneira equivocada, afirmam: "o que Deus uniu o homem não separa". Em consequência da manipulação machista, muitas mulheres violentadas (de toda ordem) não denunciam seus agressores por medo de se tornarem mais uma "vagabunda" na língua dos homens "santos" e "puros" que ocupam o lugar de Deus. Creio que Deus não tem nada a ver com isso. Quando o Juiz manda prender um agressor, Deus não entra no processo criminal, Deus não é pessoa física e jurídica, mas muitos líderes religiosos opressores e hipócritas poderão entrar para os processos criminais se todas as vagabundas tiverem forças para efetuar as denúncias e quebrar as correntes do silêncio.
De tanto conversar com diversas mulheres, observei que muitas religiosas são depressivas porque foram proibidas de amar de novo e envelheceram sozinhas por obrigação e não por opção. Acreditem! Há muitas mulheres jovens nas correntes da opressão ainda! Não duvidem! Há muitos homens evangélicos trocando de mulher (mero objeto) e são imaculados com o direito de ir e vir, o qual é negado à mulher quando opta pela separação. A isonomia (prevista na CFB) existe no papel quando registram o CNPJ e escrevem o Estatuto que toda religião deve ter. Todavia, na prática é o discurso da violência e da submissão que impera na maioria das igrejas alegando que seguem o princípio do Evangelho de Jesus. Qual Jesus obrigou uma mulher a sofrer maus tratos na mão de homem? Esse eu o desconheço e o quero distante de mim e de todas as mulheres vagabundas. As santas que me perdoem! O Jesus que mora na minha alma é o Jesus humano e libertador de todas as Madalenas e vagabundas. Não esse Jesus perverso que os homens maus ficcionalizaram.
Ora, numa sociedade que luta pela igualdade, mulher tem que ter voz e fazer suas próprias escolhas, incluindo a de não abrir as pernas por obrigação. Sexo só é maravilhoso quando uma "vagabunda" consente por desejo. Particularmente, eu tenho nojo de conversar com quem pensa diferente de mim. Por essa e outras razões, optei por não ter religião que discrimine o ser humano e endossa indiretamente homens machistas e os crimes contra a mulher. E o bando de machista é grande! Cuidado, vagabundas!
Que fique bem claro. Não me cumprimentem na rua. Apesar de eu ter casado novamente, continuo a mesma "vagabunda" de quando era divorciada e não tinha marido, porém uma vagabunda de bom caráter, cheia de amor na alma e sem preconceito desde sempre. Sou sim uma vagabunda que aprendeu na prática que somente o AMOR é capaz de libertação. Portanto, acima de todos os amores, é o amor próprio que supera qualquer tipo de violência e preconceito. O AMOR que muitas religiões não aprenderam a ensinar de verdade. O AMOR que todas as vagabundas libertas e libertadoras sabem traduzir em qualquer idioma.
(Trechos do livro MULHERES VAGABUNDAS, ainda sem revisão).