OUTRO  VATE  PIAUIENSE  DE ESTILO  SIMBOLISTA

 

         Refiro-me a JOSÉ FÉLIX ALVES PACHECO (1879-1935), nascido em Teresina-Pi e falecido no Rio de Janeiro. Dinâmico e de inteligência incomum. Foi jornalista, escritor, poeta, ensaísta, deputado federal por quatro mandatos, senador e Ministro das Relações Exteriores, no governo do Presidente Artur Bernardes. Formou-se em Direito, mas optou pelo jornalismo. Exercido com seriedade, imparcialidade, competência, principalmente no jornal do Comércio, onde ingressou como repórter e chegou a proprietário.

         Ao ingressar na Faculdade de Direito, segundo Luís Edmundo, no seu livro “O Rio de Janeiro do meu tempo”, ele passou a freqüentar os círculos literários e boêmios da capital da República daquele final do século XIX. E “impressionava os amigos alarmando o estreito meio literário em que vivíamos com suas gravatas estapafúrdias, as suas frases loucas e suas atitudes escandalosas...” Assim como, “Encontrava tempo para seu trabalho literário e suas leituras, em especial dos poetas franceses”. Foi o primeiro tradutor do poeta Charles Baudelaire no Brasil e sobre sua obra escreveu vários ensaios. Ressalta, ainda, Luís Edmundo que “seu trabalho de jornalista junto às dependências policiais, levou-o ao serviço público (Diretoria do Gabinete de Identificação e Estatística), onde  passou a estudar o sistema de identificação pelas impressões digitais de outros países, inexistentes no Brasil.” (apud Cícero Sandroni, in cpdoc.fgv.br/verbetes).

          Foi o introdutor no Brasil do sistema de identificação por datiloscopia. E, por sua iniciativa, o então Presidente Rodrigues Alves tornou o seu uso obrigatório, através do Decreto nº 4.764, de 5/2/1903. Em sua homenagem, o nome do Instituto de Identificação Félix Pacheco, do Estado do Rio de Janeiro. 

         A poesia foi seu refúgio espiritual. Pertenceu à segunda geração dos simbolistas brasileiros. Sobre ela, assim se manifestou o brilhante professor de literatura e crítico literário, Carlos Evandro M. Eulálio, membro da Academia Piauiense de Letras, no seu minucioso ensaio “A Poesia Simbolista de Félix Pacheco”:

        “Por meio do verso, ele soube manifestar verdades interiores, utilizando uma linguagem simples, porém bastante sugestiva e predominantemente emotiva. Foi poeta correto, com domínio da técnica de composição depurada, como no soneto antológico ESTRANHAS LÁGRIMAS, em que usa rimas ricas e preciosas, caracterizando a perfeição formal, associada à harmonia e à musicalidade”.

        Félix Pacheco deixou esta vasta obra literária: “Chicotadas”(1897, versos satíricos); “Via Crucis” (1900, versos); “Mors-Amor”(1904, versos); “Luar de Amor” (1906, versos); “Poesias” (1914); “Ignesita (1915, poemas); “Marta” (1917, poemas); “Tu, só Tu” (1917, poemas); “No Limiar do Outono” (1918, poemas); “O Pendão Taba Verde” (1919, poemas); “Lírios Brancos” (1919, poemas); “Estos e Pausas” (1920); ”Em Louvor  de Paulo Barreto” (1922, homenagem ao João do Rio); “A Aliança da Prata” (1923); “Poesias” (1932); “Descendo a Encosta”; “Baudelaire e os milagres do poder da imaginação” (1933); “ O Mar através de Baudelaire e Valéry” (1933); “Paul Valéry e o monumento a Baudelaire em Paris (1933), Baudelaire e os gatos (1933).

          E extra-literário,  os trabalhos sobre Identificação pelas impressões digitais, inclusive tendo traduzido o livro de Edmond Locard, em 1903. O que o qualifica também como um escritor polígrafo.

          No seu ciclo de relacionamento, constava a amizade com o escritor Lima Barreto. Sobre a qual me referi no meu livro “O Relógio do Comandante”, publicado em 2019, pela Litteris Editora-RJ.