Os homens não são donos das mulheres

OS HOMENS NÃO SÃO DONOS DAS MULHERES

Miguel Carqueija

Vivemos tempos bicudos. Costumo observar que esta é a Idade das Trevas, na acepção da palavra. Nunca se viu tamanha inversão de valores.

Causa especial revolta o constante assassinato ou tentativa de assassinato de mulheres ou simples garotas, por seus maridos, namorados, companheiros ou ex isso ou aquilo. Além, é claro, de espancamentos e outras infâmias.

Fala-se em crimes de misoginia. No dicionário que eu consultei, misoginia significa “repulsão mórbida do homem às mulheres”. Mas o indivíduo pode ter sua dose de misoginia (tem muito homem que desconfia das mulheres, achando que praticamente todas são infiéis, interesseiras ou fingidas), sem chegar a ser agressivo. É o caso do homem que não se casa e não se une a nenhuma mulher temendo ser roubado ou lá o que seja, e é claro que essa mania é injusta e o resultado final é que o sujeito envelhece sozinho e sem filhos e seu final de vida é muito triste.

Mas esse misógeno ainda é menos ruim que o misógeno que se casa ou se amasia ou arranja namoradas e amantes só para oprimir e maltratar,  chegando até ao homicídio (no caso se fala em feminicídio). Seria bem melhor se tais anormais seguissem a misoginia do isolamento: não gosta de mulher, não procure por elas.

Os misógenos violentos procuram mulheres sim, embora as odeiem. Mas, querem ser os “machões”. Um deles, conhecido por suas posições absurdas, como achar que as mulheres têm culpa por serem violentadas, além de ser inimigo declarado do ambientalismo, foi mexer com a Greta Thunberg mandando uma mensagem gabando-se dos seus 33 carros altamente poluidores, e se deu muito mal, pois além da resposta humilhante que recebeu da garota a foto que ele mandou com uma embalagem de “pizza” deu a dica para a polícia da Romênia que andava à sua procura por acusações de estupro e tráfico de pessoas. A primeira mensagem para Greta Thunberg foi enviada dia 27 de dezembro último, e dia 29 Andrew Tate, ex-lutador de kickiboxing, estava preso e pela gravidade das acusações não deverá ser solto tão cedo (Romênia não é Brasil).

Falando em Brasil, por aqui a situação infelizmente é calamitosa. No momento em que escrevo, faz poucos dias aconteceu outro crime bárbaro contra uma mulher, uma jovem.

É sempre assim: cansada dos maltratos a mulher quer se separar do homem que a tiraniza. Ele não aceita, acha que a mulher é propriedade sua, com direito até de matá-la se ela quiser lhe escapar.

Um ser humano não tem direito de posse sobre outro ser humano. Isso é óbvio, mas esses indivíduos aberrantes não pensam nisso e nem respeitam as leis que proíbem o assassinato. Para piorar o nosso Código Penal já se aproxima dos cem anos, está obsoleto e as penas são leves demais para crimes hediondos. Além disso existe o deplorável instituto da regressão penal, curiosamente chamado oficialmente de progressão penal. Não é progressão coisa nenhuma, é regressão mesmo, vamos supor que o sujeito pegue vinte anos (pena longa que já supõe crime muito grave); acaba cumprindo apenas uns cinco, a pena diminui com o tempo e o “bom comportamento” (não duvido que muitos se comportem angelicamente no xadrez). Isso, se não derem a tal saidinha de Natal ou Dia das Mães (mesmo que não tenham mãe viva) e não retornarem. Podem até se aproveitar para executar vinganças.

Numa sociedade normal ou próxima disso não pode existir essa infame caça às mulheres. Um homem decente ama e respeita as mulheres, não bate nelas e muito menos as mata. Isso é uma questão de caráter, mas a autoridade constituída tem de garantir a integridade para todos os cidadãos. As mulheres têm o direito de viverem em segurança.

Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 2023.