Onde Humano
Em: 03/12/2009, às 15H25
Onde Humano: o segundo teste da poesia
Luiz Filho de Oliveira
Depois da publicação de BardoAmar em 2003, iniciei, em
Feita a reunião, pude perceber que, pelo “quorum” dela, já deveria pensar em outro livro. Se, como afirmei em outros textos, resolvi escrever com comprometimento de colaborar com a Poesia da Terra (a tal Universal); então, não pretendo estar trabalhando com poesia apenas por divertimento. É também isso, claro, mas pra chegar aos resultados há de haver muito trabalho; pra que eu também possa pagar as contas desse investimento a longo prazo. Não é de se-estranhar, portanto, que, ao me-referir aos poemas, chame-os de modo a caracterizá-los dessa forma; instituindo, assim, uma máxima ciceriana-pós: a do trabalhador da poesia (não sou um escritor profissional, sou um profissional-escritor), co meu labor cum dignitate. Mesmo porque há que ser remunerado, pelo esforço dispensado, o poeta. Em nosso século dignidade custa caro; porisso, trabalho:
uma das poéticas pós empossada da palavra no cargo de poeta
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poesia já
pode ter sido ócio com
amadora dignidade sábia mas
com licença – poetas –
convençamos: aqui é ela também
sabor capital trabalho (se trabalhado)
(Em caminhos onde a poesia é empregada.)
É isso que desejo estar escrito nesse poema, oqual se-encontra no meu segundo trabalho poético: Onde Humano, a ser publicado ainda este ano de 2009, com o incentivo da Prefeitura Municipal de Teresina, por intermédio do Projeto Cultural A. Tito Filho, desenvolvido pela Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves e o patrocínio da Faculdade Santo Agostinho.
Ter recebido esse investimento foi o maior prêmio por que já trabalhei até agora na minha “carreira de poeta”. Estou muitíssimo lisonjeado e ciente de que estou bem pago por esse estágio ainda inicial da minha produção poética (que espero seja da mais alta valia). Mais ainda: não leio o momento de estar o livro publicado. Ah, esse “fetiche”, o livro, o objeto, o material, o físico; não há digital que o-substitua! Pra mim, não. Assim estou fazendo: Onde Humano tem oitenta e quatro poemas, distribuídos em três partes (Poemas da Poesia, Os Ais do Social e Eus interiores & Capitais). Pra chegar a esse formato, contudo, trabalhei durante cinco anos, até agorinha mesmo (e consequentemente, certo?).
Quanto ao conteúdo da obra, dessa vez ele é por demais diversificado, pelo próprio caráter individualizado que os poemas osquais pude reunir dão ao significado global da obra. Em cada parte do livro, trabalho com um tema geral. Em Poemas da Poesia, por exemplo, busco fazer uma homenagem ao ato de escrever humano e, por extensão, à literatura, reconhecendo-a como muito significativa na vida dos seres humanos, visto que é uma marca que nos-distingue dos outros animais, positivamente. Assim é que, se os animais têm cultura, linguagem ou até sentimento; nós os-temos e ainda podemos deixá-los gravados para “sempre” (até esse planeta existir?). Sempre gostei da escrita por esse “poder mágico”. Gosto de escrever também por isso. E ainda pelos poetas antigos e por meus contemporâneos. Razão primeira e contínua deste escrever-se para o universo, este planeta, a Terra.
Na segunda parte de Onde Humano, Os Ais do Social, rasgo o verbo para dividi-lo com meus irmãos terrenos. Afinal, estamos na mesma bola, rodando a elipse dos anos. Portanto, meu grito, gravo-o em palavras de todas as toadas. Inclusivaté, as de baixo calão, bem alto: fideputa! A cada conteúdo, então, o nosso falar a favor ou ao contrário. Sei que eu não vou mudar muita coisa, mas vou escrever o que tiver de pensar sobre a humanidade (do meu bairro, da minha cidade, à minha pátria, ao meu planeta, ao universo!). Esse é o onde de que falo no título do livro: o lugar de ser humano, feito substantivo , adjetivo ou verbo, todo ambiguidade no espaço!
Pra deixar menos agressivo o tom do livro, fecho-o com Eus Interiores & Capitais, em que o lirismo e o sensualismo aparecem por meio de uma poesia mais subjetiva que nas partes anteriores. Nessa, repito (de novo, perito?) aquela postura acerca do amor, aqual trabalhei
Todo esse trabalho feito com o principal objetivo de trabalhar a minha língua, a portuguesa do Brasil. Claro que também mordo arcaísmos (lusos ou brasucas), neologismos, estrangeirismos e regionalismos, pro ludo tornar-se ismo. O prazer que o texto encerra, pra mim, é o início de tudo. Vivo a poesia. Viva-a!
Como o-fiz com BardoAmar, quero-les-dar um quartinho de poemas de Onde Humano, pra que vocês próprios o-julguem. Vão pra cima:
POEMAS DA POESIA
veste o REVISOR a 3 : 0 POETA ataca com a dez*
zagueiro das letras
tu jogas limpo: eu jogos surjo
sem erros e não os cem... a mil!
e se defendes
a braços e cabeça
certa língua (errado?)
e com essas defesas tuas
tu não queres deixar passar
por entre as pernas dos teus olhos
não bola mas mil e umas palavras tortas
é por ser teu toque um acorde que acorda
posto veres com todos esses cuidados pudicos
os descuidos do time postos a padrão de público
porisso vês de novo revês: seguidas segundas vezes!
visas a ver os reveses nos entraves das falas do escrito
o ciscado dum atacante na grande área da arte dos signos
o cisco em campo a trave no olho (olha o lance! tira! vixe!)
viste? se parábola passa a palavra... bola mansa na página
e se jogas acima: eu lanço mão de um recurso vivo... poesia!
por que vejas como jogo o jogo todo de fora com a língua
entanto noutro lance encontro espaço ainda
assim passo passes passas: jogadas
a dar a tua defesa (trabalhas!)
minha linha experta
sem errada
(certo?)
(Estando perto do País do Gramática.)
*A Carlos, pelo ofício de ser um senhor revisor Leal.
questão de poesia
deixe completo ou complete:
o verso é avesso à morte
e por dentro & fora
permanece __________
(Em espaço de exercício gramático-poético.)
um poema: a poesia colhida do campo humano*
àqueles que
te-desconhecem
o sabor: a tua messe!
(Onde é semeada de nova mente a palavra.)
* Em memória do poeta H., que, não mudo (dobrado o mundo), é Dobal.
catalogação da obra ou o poema dá obragem
poesia universal
poesia via-lacteana
poesia sistêmico-solar
poesia terrenumana
poesia sul-ocidental
poesia sul-americana
poesia brasileira
poesia nordestina
poesia meio-nortista
poesia piauiensíssima
poesia campurbana
poesia todo-bairrista
poesia caseira
poesia de gabinete
poesia de mesa
poesia de papel
poesia de tela:
poesia mesma!
(Em qualquer desses lugares e neles todos.)
quase-haicai com título tirado de um balaio
em seu solo o gato
e esse novelo (cem nós!)
sempre serão novos
(Na ilha de São Luís, não na de Creta.)
num canto maior à tarde um poeta vida uma ave
Primavera em maio
meu bairro exala um canto
e eu canto outra Fênix
do ninho no galho
da árvore a ave canta
e encanta nova mente:
fogo apagou! (cinzas)
fogo apagou! (chispas)
fogo apagou! (vida)
(À mesa do quarto, na cidade abaixo do universo.)
a rainha foi ou não foi ao teatro assistir à tragédia? – pergunta a rir (encantado) o sapo da plateia – depois a fala beijada
– estou aqui
cenando o ser ou não
ser humano príncipe
mastambém mendigo:
quero mais vida (ação!)
masporém comédia... please!
(Estando humano onde, em Teresina ou em Londres.)
OS AIS DO SOCIAL
reinscreve um poeta a seu passo a nova capital & a passada capitania de Piaguí*
tristeresina: um quê de semelhante
estás ao que era nosso antigo estado
(rico de nativos mortos por gados)
em este mote alheio & cambiante
se a ti tocou-te a máquina mercado
esse ouro que apaga muito brilhante
a nós todos aqui tem-nos-tratado
com os dous ff dum poema dantes
deste estado – a quem não deste por renques
as carnes como o-fez à gente ruda
de Bahia Pernambuco Minas (mortes!) –
há quem alegoricamente tente
fazer ainda uma vaca bojuda
para carnes & poemas de corte
(De Oeiras, Salvador, Ouro Preto, Recife a Teresina, em estados de Brasil.)
*A Cineas, homem com letras, de cimos Sãos & Santos.
escola & biblioteca nacionais revisitadas por dois brasileiros poetas
os cartazes pedem às vozes
(mesmo que não sejam loquazes)
um silêncio com volume sepulcral
os profissionais – professores quase
aposentados – vigiam a indisciplina
de alunos de castigo: deslocados
os livros são títulos reescritos de Oswald:
a Criança abandonada no século XXI
O Doutor Coppelius Faz Milagres
Vamos com Ele (a Volta)
Senhor Primavera: o Poeta bairrista
código do Crime Brasileiro
a Arte de Ganhar na política
o Arador impopular de Versos
O país em Chamas
(Em frente à escola da comunidade, numa quebrada do país.)
papagaiato
como disse gostoso
um minha-rosa aquele louro
de minha vizinha (ô papagaio!)
masporém em sua velhitude gaiata
mais ranzinza gritaria uma palavra
aos que tentaram levá-lo a voz
numa linha condicionada pela
ladainha de praxe certinha
a quem vicentinamente desdizia:
fideputa! fideputa!
(Estando do outro lado do muro do louro.)
onde o filho de Pablo tocou a terra e deixou cair algo nela
e arroz
a quem voz
depois de nós
e feijão
aos que não
descansaram
e milho
aos filhos de
nossas famílias
(Em campos semeados para o sepultamento dalguma fome.)
onde o plano está prefeito
executa o político os golpes
privados poderes máximos sobre
vidas públicas a civil vendidas
intenção e morte ecoam
ambíguas cabinas e atiram
carabinas de banda bando part
ido: justiça é crime?
há algum suspeito no pleito?
ninguém assina esses assassínios?
(Na fila de populares injustiças elitistas.)
EUS INTERIORES & CAPITAIS
a mar
um mar anseia outra nau
em cios & silvos: vivo amante
em tormenta... estando em movimento
marés ventos sons-violência entanto
no então amar vazando bem raso no chalé
sal cantando nas vozes superfícies do profundo
que assim navegando sem evasão –
corpos ocupados de ondes – mergulham
no maravilhoso dos sentires humanos amando
(
nãO! ou no meio do poço o fim: seu começo
gravemente literal –
na calada – esta queda:
pe sava a palavra dela
n n
dada bem no túnel
guardada mal no fundo
desca sada do mergulho
n
(Fingindo um infausto destino, rumo a Belém, sem parar.)
vilão ser-te por amar a esta velha forma antiga
meu amor – tanto te-amo
que meu desejo são ousa
desejar-te minha lousa
por que bem te-escrevinhasse
pela pele em poesia
o que nos-registra o enlace
entre a tua vida e a minha
palavras mil eu reclamo
e tal ideia repousa
no teu corpo – minha lousa
(Dentro do Palácio, que é a Poesia.)
outras relações naturais como Qorpo-Santo
nada impede o poeta
ou o linguista de fazer sexo
oral com qualquer que seja a língua...
(Em certo lugar de qualquer sexo.)
fui eu quem te-prometeu a vida num poema-cantiga
eu sou no teu cio
rio que desarde o dia
compondo teus sóis
sons!
eu suo os teus chãos
mãos a soar tais metais
plantando teus sons
sais!
eu subo os acordes
cortes na carne do ar
solando teus sais
sóis!
(Em Caxias, num leito de folhas ex-brancas.)
próximo poema distante tantos quilômetros da cidade
a quem quer voltar
o caminho é longo
pois longe está o lugar
onde moram em memória
os meninos a tornarem-se
esses – hoje – homens
as matas da carnaúba
a pisar o pasto das águas
as arvorezinhas do vizinho
onde cantavam as aves
os pomares de manga de manhã
dando as delícias à tarde
e à noite a tenebrosa sombra:
monstros a infâncias
distâncias tais se tão longas
para segui-las é precisa a língua
como cerebrando um menino umas linhas
costuma ter à mão outríssima pena (pernas!)
entanto mesmice seu poema: mesmo de
novo jeito de novo: grava a lápis
e pensa e apaga e logo digita... lento:
alto é o lugar onde mora
o longe das lembranças
longa é a cidadezinha: vida
percorrida pelas mãos ainda
de um pequenino poetinha
em estadas de poesia
(
ninguém é obrigado a aceitar-ela masporém mo-obrigo
e eu que
não sou santo
católico nem nada (nonada)
onde ela
me-deu aquela bola
só olhei pros lados (olhos)
impedido?!
desconfiado?!
desmerecido?! (eu?!)
e não tive dúvida
e corri para abraçá-la
e dada mais nada de esmola
(Onde o jogo é comum a todos os inscritos.)