O sol do verão

 

Rogel Samuel

 

O sol, o verão. O brilho intenso, os ares claros, as nuvens raras. No Rio é tempo de amar.

         Lembro-me de crônica de Rubem Braga, sobre o começo do verão.

         Um dia - e não sei se já contei - estávamos na biblioteca da Faculdade que na época era a FNFi, ou Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Ficava onde hoje está a Academia de Letras.

         Era manhã cedo.

         Entra um bêbado.

Um homem em desalinho, mas bem vestido.

Grita:

         - Tem meus livros aí?

         Ivete, a diretora da biblioteca, manda chamar os funcionários para que ponham para fora o intruso.

         Mas não deixamos e ele se reuniu conosco.

         Era Rubem Braga.

         Tinha acabado de ser embaixador, ou coisa assim.

         Não disse quem era, mas nos contou sua vida (com detalhes indiscretos que não devo contar).

Escreveu um poema para minha amiga Maria Alice (que faleceu este ano).

         Falou de literatura, poesia, vida. De Copacabana.

         Narrou suas mágoas.

Braga é um dos maiores escritores do país.

Seu texto, comparável a Clarice, a Machado, a Francisco Manuel de Melo.

Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1666) é autor da CARTA DE GUIA DOS CASADOS, escrita na prisão, que fala 'do amor e da obediência'.

Diz Manuel de Melo: 'Não sou já mancebo. Criei-me em cortes; andei por esse mundo; atentava para as coisas; guardava-as na memória. Vi, li, ouvi."

O texto seco, sem adjetivos, direto e elegante. Como eu gosto.

' Estes serão os textos, estes os livros que citarei a V. Mercê, neste papel; onde, juntas algumas histórias que me forem lembrando, pode muito bem ser não sejam agora menos úteis que essa máquina de gregos e romanos, de que os que chamamos doutos, para cada coisa nos fazem prato, que às vezes nos enfastia'.

Mas meu assunto é o sol.

O sol do verão me alucina.

         E de Braga a D. Francisco Manuel de Melo passei.

Precisamos aprender a escrita com D. Francisco. E a bem casar.

Minha amiga X me critica. Diz que a minha linguagem é telegráfica.

Sim. É. Corto mais do que introduzo palavras.

Meu ideal é escrever uma crônica de uma única linha.