QUARTO VOLUME DA BIOGRAFIA DE PLINIO CORRÊA

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro biográfico “O dom da sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira”, volume 4: “Vítima expiatória”, de Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP. Librerie Editrice Vaticana, Cità del Vaticano, e Instituto Lumen Sapientiae, São Paulo-SP, 2016.

Esta é uma obra monumental e a única biografia que eu conheço que alcançou cinco volumes e todos eles volumosos; este tem mais de 600 páginas e está repleto de fotografias. O autor foi discípulo do Dr. Plinio, advogado, escritor católico e fundador da TFP (Tradição, Família e Propriedade).

O livro é fascinante, como fascinante é a pessoa de Plinio Corrêa. Uma vida brilhante, dedicada à Igreja Católica; na verdade, uma vida dedicada a Jesus Cristo.

Não pretendo por em dúvida a virtude extraordinária de Plinio Corrêa ou mesmo os seus carismas, as graças extraordinárias, mas tenho uma certa impressão de culto à personalidade por parte do autor do livro; o Padre João Scognamiglio parece a cada página estar principalmente preocupado em exaltar o biografado, seu mestre, e até omite certos aspectos do laicato católico brasileiro e da luta que se travava na época focalizada. Por exemplo, nem uma palavra a respeito de Gustavo Corção, fundador da Permanência, ou sobre a revista Hora Presente, ou sobre Dom Marcos Barbosa e outros que sustentavam a luta pela ortodoxia da fé católica. Fica parecendo que praticamente só Plinio Corrêa — sempre chamado Dr. Plinio — sustentava a luta contra comunistas e outros adversários da Igreja.

Entretanto é notável a influência de Plinio Corrêa com artigos e livros lidos também no Exterior e com as campanhas pelo Brasil afora. Eu, quando era jovem, sabia da existência do Dr. Plinio mas não tinha clara ideia da sua influência. O livro conta inclusive como ele foi a Roma por ocasião do início do Concílio Vaticano II, para auxiliar seus aliados no episcopado, Dom Antônio de Castro Mayer, Bispo de Campos, e Dom Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, tidos como bastante conservadores. Mesmo assim a narração dá a entender que esses dois subestimaram a revolução instalada na Igreja; e os bispos rebeldes tanto fizeram que acabaram dando a impressão, pela mídia, que o Concílio rompia com a Tradição, quando pelo contrário — conforme os documentos oficiais — a confirmava.

No capítulo 2 conta-se o célebre debate ocorrido na TV Tupi (outubro de 1961) entre Plinio Corrêa e o então deputado federal Paulo de Tarso, da chamada esquerda católica, que defende o socialismo. Vemos aqui como Plinio venceu brilhantemente o debate. Juntamente com D. Castro Mayer e D. Sigaud, e ainda Luiz Mendonça de Freitas, Plinio publicara um livro de grande repercussão: “Reforma agrária: questão de consciência”. E foi como grande líder católico e conservador, já amplamente reconhecido como tal, que Plinio enfrentou e derrotou seu adversário a nível intelectual.

Assim se refere o autor da biografia:

“Em primeiro lugar, logo ao entrar no ambiente Dr. Plinio impôs uma clave elevadíssima, obrigando Paulo de Tarso a se adaptar. Quando, iniciado o debate, este se voltou para ele e o tratou de Excelência, constatou que já havia sido dado o passo mais importante. A seguir, tomou a atitude de não se impor pela força a seu adversário mas, pelo contrário, conduziu a discussão com extremos de cortesia, aparentando uma situação de inferioridade, para que seu antagonista declarasse o que lhe interessava. (...) Paulo de Tarso não poderia ter conduta pior para seus interesses, de tal forma foi se descobrindo, ponto por ponto.”

Merece menção especial a dedicação comovente de Plinio Corrêa a sua mãe D. Lucilia, que faleceu em idade avançada, com o filho já em idade madura. A integridade moral e religiosa de Plinio Corrêa deve-se a ela em grande parte.

 

Rio de Janeiro, 5 a 10 de outubro de 2023.