O presente era o futuro
Por Gabriel Perissé Em: 01/01/2015, às 22H33
[Gabriel Perissé]
É aquela espécie de livro que a gente compra sabendo que será difícil ler de cabo a rabo. São mais de 700 páginas. Não é um romance superficial, com atrativos de linguagem ou de temática, embora, por outro lado, converse com qualquer não especialista. É um livro sobre questões ligadas à antropologia filosófica e à sociologia. Pessoas comuns podem ler. Todos somos pessoas comuns...
O autor é o sociólogo italiano Domenico de Masi. Há quem diga que ele não é um intelectual. Que é apenas um bom vendedor de livros. Essa acusação recai sobre outros escritores do nosso tempo que divulgam suas ideias com amplidão (Pierre Lévy, Edgar Morin e mesmo o nosso Rubem Alves). O livro de Domenico de Masi que comprei (sabendo que será difícil ler de cabo a rabo, mas vou tentar) é O futuro chegou: modelos de vida para uma sociedade desorientada(pela Casa da Palavra, 2014, com tradução de Marcelo Costa Sievers).
A ideia de que vivemos um tempo déboussolé, "sem bússola", sem norte (estamos desnorteados), sem oriente (estamos desorientados), é o pano de fundo. Precisamos fazer escolhas, portanto, redefinir diretrizes, descobrir novos caminhos, ou novas formas de caminhar nos caminhos de sempre. Que modelos existem (ou existiram?) e podem ser retomados ou aperfeiçoados? Ou descartados? Existe um modelo brasileiro que possa inspirar projetos, animar atitudes, impulsionar gestos?
O autor nos apresenta (com leveza, mas com seriedade, é o que penso) os modelos indiano, chinês, japonês, o modelo clássico, o modelo hebraico, o modelo católico, o modelo muçulmano, o modelo protestante, o iluminista, o liberal, o capitalista, o socialista, o comunista, o pós-industrial... e o modelo brasileiro (ele se apoia em análises feitas por Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, Roberto DaMatta, Sérgio Buarque de Holanda).
Mais não seja, a leitura deste livro nos mostrará diferentes mapas, e querer conhecê-los melhor pode sugerir leituras mais específicas.