Seus pequenos poemas são antológicos. Pois o poema quer que o sujeito morra, morra de uma vez, e não fique vegetando na cama de um hospital, e nem fique na insanidade senil, que outra forma de vegetar é. Pior que a morte, a insanidade. Que o fim seja rápido como o raio, sem medo da dor, que o morto não irá sentir, quem vai sentir são os outros, os amigos. Morrer não apavora, por que nada “sabemos” do que seja a morte. Não podemos temer o que não conhecemos. Para alguns, será a paz. Para outros, como a glória. Para os maus, o arrepender-se (?). Para os puros, sua pureza.
Algumas mortes foram exemplares, como a do iogue Vivekananda. Ele reuniu os discípulos, perguntou se algum tinha alguma dúvida. E no fim disse que ia “morrer”.
Fechou os olhos e “retirou-se”. Simplesmente morreu ali mesmo.
Alguns dos grandes místicos do Tibet realmente não “morriam”. Transformavam os seus corpos em luz, nas cores do arco-íris, e evanesciam-se na cara de todo mundo.
Houve grandes e belas mortes entre as pessoas comuns que conheci.
Meu tio Alberto Souza, de Manaus, estava na sala vendo TV com a mulher. No intervalo, Luzia perguntou:
- Alberto, você quer um café?
Quando ela voltou, ele estava morto.
Outra bela morte foi a de meu grande amigo Nathanael Caixeiro, escritor, violinista e tradutor de dezenas de livros (veja no Google). Ele acordou cedo, fez passear o cachorro, afinou o violino, sentado na cama. Sua mulher perguntou se ele queria um café. Quando ela voltou, ele estava morto.
Dias antes me visitou à toa, apareceu sem mais nada. Esteve em minha casa, ouvimos Mozart, conversamos sobre música. Ele era cultíssimo. Depois fomos até a praia vermelha ver o mar.