"O nosso livro consta de uma seleção de textos que publiquei na coluna Ensaio & Crítica que mantenho no Portal Entretextos."
Em: 28/10/2023, às 00H48
O professor e crítico literário Carlos Evandro Martins Eulálio, da Academia Piauiense de Letras, apresenta aos seus leitores nova publicação: Mário Faustino e os Arigós do Piauí e outros escritos (Nova Aliança Editora). O lançamento, que acontece sábado 04 de novembro, na Livraria Entrelivros, às 19h, em Teresina, terá apresentação do professor de Literatura e advogado Reginaldo Brandão. Entretextos ouviu professor Carlos Evandro Eulálio sobre as ideias que dão sustentação à nova publicação.
Entretextos: O que reúne o novo livro, prof. Carlos Evandro Eulálio?
O nosso livro consta de uma seleção de textos que publiquei na coluna Ensaio & Crítica que mantenho no Portal Entretextos. São textos de extensão curta, em linguagem simples e com finalidade didática, nos gêneros ensaio literário, resenha, crônica e artigos de conteúdo gramatical. O título me foi sugerido pelo artigo Mário Faustino e os Arigós do Piauí, baseado nas cartas que Mário escreveu a Benedito Nunes, quando esteve em Teresina em 1950, reunidas no livro Meu caro Bené, organizado pela professora Lilia Silvestre Chaves. Também inseri no livro uma entrevista que concedi ao então Correio Corisco no dia 2 de fevereiro de 2000, por considerar que muito do que disse ainda é do interesse dos estudiosos de literatura.
Entretextos: O senhor empreendeu ao longo de suas pesquisas o estudo de aspectos variados da produção de Mário Faustino. O que o senhor destacaria como mais essencial para compreender o poeta e crítico Mário Faustino?
Além de poeta, Mário foi também crítico de poesia. Como tal, é impossível se separar essas duas atividades que exerceu, sobretudo nos dois anos que atuou no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (SDJB), onde criou e dirigiu a página Poesia-Experiência, entre 1956 e 1958, voltada para os leitores de poesia e para os poetas, principalmente os poetas novos. Sobre essa página, Haroldo de Campos considerou “o mais ágil e inteligente jornalismo literário” já visto por ele no Brasil. Ali escreveu numa linguagem jornalística inúmeros ensaios, com o propósito didático-pedagógico de difundir e avaliar a criação poética.
A leitura desses ensaios é essencial para a compreensão do Mário poeta e crítico. Dois desses textos reputo como principais: Diálogos de Oficina (tratado de poética em três seções: Para que Poesia?, O Poeta e seu mundo, Que é Poesia?) e Fontes e Correntes da Poesia Contemporânea, que se encontram no livro Poesia-Experiência, numa edição da Editora Perspectiva, de 1957, org. por Benedito Nunes. Recentemente, a professora e pesquisadora Maria Eugênia Boaventura publicou pela Cia. das Letras a obra Artesanatos de Poesia com o subtítulo Fontes e Correntes da Poesia Ocidental. Nele, estão os estudos de Faustino sobre os poetas fundantes da modernidade. Entre outros, dá destaque a Edgar Allan Poe, Baudelaire, Dickinson, Mallarmé e Ezra Pound. Creio que a leitura atenta desses textos nos auxilia compreender o que há de essencial na produção poética de Mário Faustino.
Entretextos: Faustino se consolidou como um nome festejado nacionalmente. O que encanta tanto os leitores desse poeta e crítico?
Na nossa visão, é o propósito didático-pedagógico de sua obra. Ler a poesia e a crítica de Mário é aprender com ele noções de poética, de história, de mitologia e de filosofia. Os ensinamentos que difundiu ecoam em suas poesias, principalmente no poema O homem e sua Hora, síntese do projeto poético de Mário Faustino. Embora sensível aos apelos experimentais mais radicais do Concretismo, mantém elos com a tradição literária, posto que, em nenhum momento, abdica do verso em sua produção poética, consubstanciada no lema “Repetir para aprender, criar para renovar”.
Entretextos: Estamos acompanhando um momento importante na literatura de autores do Piauí, que é a inserção no currículo da obrigatoriedade do estudo dela. O que senhor acredita mais urgente para que essa bandeira ganhe fôlego logo?
O envolvimento do professor. A participação do professor constitui a peça-chave para que se tenha sucesso no cumprimento dessa lei, prevista na Constituição do Estado em seu artigo 226. Para tanto, é necessário que ele ative os conhecimentos teórico-literários, que já possui, em leituras e análises de obras de autores piauienses, por sinal, em grande número à disposição de todos nas livrarias da cidade e nas instituições culturais, como a Academia Piauiense de Letras. O passo seguinte é incentivar os alunos em suas aulas à leitura e ao estudo dessas obras. É dele, do professor, que deve partir o exemplo: ler, motivar e despertar no aluno o interesse pela leitura de nossos poetas e prosadores.
Entretextos: Por fim, professor, há no livro que o senhor lança crônicas de memória. Houve um tempo no Piauí, década de 80 e 90 que se escreveu muito memórias, prioritariamente. A crônica memorialista parece oxigenada hoje. O que vem determinando isso?
O sucesso dos livros de memória, com longa tradição no Brasil, sempre foram atrativos para os leitores que apreciam esse gênero. Quem não se lembra de obras como Infância, Menino de Engenho, Ulisses entre o amor e a morte, Memórias de um Sargento de Milícias? Com a crônica acontece o mesmo. Sem dúvida, a principal característica da crônica é a oralidade na escrita que nos aproxima mais do leitor. Mas creio que o determinante para a produção da crônica de memória seja o fato de que, quando escrevemos sobre o nosso passado temos, nesse diálogo com o leitor, consciência de que essa escrita não é exclusivamente nossa, pois levamos para o texto não só o espaço em que se inserem as narrativas, mas também o coletivo que temos dentro de nós no instante em que escrevemos. Na crônica O Meu Primeiro Fusca, por exemplo, mostro a paisagem de Teresina dos anos 1970, com suas ruas tranquilas e sem violência. De igual modo recupero o Rio de Janeiro em que vivi nos anos 1960. Alguns tipos humanos inesquecíveis com quem também convivi estão nas demais crônicas. Outro ingrediente presente na crônica de memória é a atmosfera lírica que mostra o aspecto híbrido desse gênero literário.
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