O NOJO ATÕMICO
Por Miguel Carqueija Em: 21/05/2010, às 14H19
Lembram-se dos filmes B dos anos 50, onde acontecia o gigantismo de insetos e outras criaturas por efeito da radiação atômica? Pois esta minha poesia vai muito além...
O NOJO ATÔMICO
Miguel Carqueija
E aqui estamos nós! Tremei, humanidade!
Abriste a Caixa de Pandora, soltaste o raio gama.
Liberaste o isótopo, a força amaldiçoada!
O cogumelo maligno, da mutação a chama.
Ó vós que correis, é inútil, vos alcanço.
Vede quão sou nojenta, senti a minha pata.
Que meu fétido odor invada vossas fossas;
hoje me vingo de vós: eu sou a Barata!
Ó nojo! Ó engulho! Eis-me horrenda e disforme,
Mosca gigantesca voando sobre vós.
Não só em vossas sopas pousaremos agora.
Fugi, ó bicho-homem. Agora somos nós!
Formiga eu sou, ó Homem; enorme e forte eu sou.
Jeronymo Monteiro tentou vos avisar.
Chegaram nossas hostes, a vós esmagaremos,
nem bombas nem canhões nos poderão parar.
Desfalecei à minha vista? Como sois fracos!
Nunca vistes a mim, ciclópica Minhoca?
Cheguei para ficar, de mim não vos livrais:
já nada me fará voltar à minha toca.
Chegou minha vingança, ó homens irrisórios,
minh’asa gigantesca vereis quanto vos custa.
Eu sou o pesadelo, a vossa penitência,
seis metros de horror, olhai, eu sou a Locusta.
Ó terror dos terrores! Ó monstro apocalíptico!
Correi, gritai, fugi, senti a minha sanha!
Olhai as minhas fauces, a palidez vos toma!
Ó vômito! Ó náusea! Vede! Eu sou a Aranha!
Também aqui estou, vampiro negro, olhai!
Mosquito colossal, eu sou a besta alada:
teu sangue é todo meu, ó Homem acuado:
veremos se agora agüentas a picada.
Provoco-vos repulsa, o pânico, o horror?
Antigamente a vós a unha vos bastava!
Agora é outra história: com meu tamanho a Pulga
conseguirá enfim a desforra que sonhava!
Até as vossas casas eu hei de devorar:
moverei contra vós perseguição sem fim.
Vossas ruas, estradas, palácios, fortalezas,
tudo isso será meu! Chorai! Eu sou o Cupim!
Onde está vossa coragem, ó donos da Terra?
Por que agora empalideceis, e tremeis como geléia?
Nunca me vistes antes? Já não me conheceis?
Eis-me com patas a granel diante de vós: eu sou a Centopéia!
Eis a hora da vingança, eis o dia da desforra!
Acertar as nossas contas, eis agora o meu ensejo!
Nunca mais me esmagareis, só vos resta agora a fuga:
infestarei o mundo, vede, eu sou o Percevejo!
Ah! Não contáveis comigo, com minha boca horrível,
as patas pegajosas de Lagartixa imensa,
Agora a casa é minha, saí da minha frente!
Criaste tudo isso: vós sois o ser que pensa.