O meio-ambiente é a palavra-chave
Por Cunha e Silva Filho Em: 20/01/2015, às 11H50
Cunha e Silva Filho
Em incisivo artigo publicado no Globo (17/01/2015), o cientista político Nelson Paes Leme tece com argúcia e oportunidade algumas observações acerca do recente atentado contra o jornal francês Charlie Hebdo do qual resultou a morte de talentosos cartunistas e de outras pessoas , causando uma comoção nacional e um grande repercussão no exterior.
Porém, acertadamente, Paes Leme não deixa escapar a chance de fazer um pertinente alerta: que não apenas as multidões conduzidas por chefes de Estado europeus se unam contra o terrorismo, mas que, no conjunto de problemas mundiais de alta relevância existe a questão do meio-ambiente, da preservação da Natureza-mãe, esquecida com frequência em manifestações de massas da envergadura que foi a da morte dos cartunistas.
Para o cientista político, a “sobrevivência da humanidade” e da “bioesfera” se encontram entre as prioridades urgentes que deveriam estar na pauta dos impasses a serem debatidos amplamente no mundo inteiro. Lutar contra o terrorismo é uma questão de honra para os países que prezam a democracia, mas olvidar um outro inimigo que nos espreita, a derrocada da vida em nosso planeta, é da mesma maneira vital para os seres humanos deste início de século.
Segundo o cientista político, a visão dos problemas enorme significação para a preservação de nosso planeta é tema que deve ser considerado num programa amplo interdisciplinar envolvendo o maior número possível de equações conducentes a estratégias para estancar a reação da natureza contra os que a destroçam por muitos meios : poluição, efeito estufa provocado pelo uso excessivo do dióxido de carbônio, inundações, afrontosas mudanças climáticas, tempestades, explosão demográfica nas metrópoles, desmatamento das florestas tropicais, incompetência das autoridades, ganância financeira, gigantismo das urbes, demandas econômicas, desperdício dos recursos da natureza, tudo isso, repito, em decorrência do descaso do homem moderno por preservar, na medida justa e humana, o que nos resta do planeta. No Brasil, temos várias consequências do mau tratamento da natureza pelo do homem: a situação da seca
Paes Leme sublinha um dado de extrema importância: a humanidade pensa mais nos problemas humanos do que na prática e cultivo do entrosamento entre a “espécie humana e a história evolutiva das demais espécies.” Para ele, uma não pode se separar da outra. É o todo do Planeta que estamos pondo em risco e afundando na destruição. O perigo é o homem, não a natureza. E o homo economicus ainda joga papel saliente e decisivo; caso não o faça, ele estará cavando sua própria cova, se é que ainda haverá cova para todos. Será como aquela advertência, algumas vezes já citada por este colunista, ainda tão atualizada de Bertrand Russell (1872-1970): “ Só há dois caminhos para a humanidade, a paz ou a destruição total.”
Para ele, falta a nós uma visão “holística,” ou seja, um encaminhamento dos problemas de maneira geral e
Segundo Paes Leme, ou haverá interdisciplinaridade no ataque aos problemas do meio-ambiente, ou estaremos caminhando para uma posição perigosa de sobrevivência ainda neste século. As sugestões, expressas de forma cristalina pelo cientista político, são no sentido de que, em primeiro lugar, se dê prioridade ao chamado “Índice de Desenvolvimento de Desempenho Sustentável” e não, como se faz amiúde no trato de questões cruciais para a salvação do planeta Terra, ao PIB.
E, por falar naquele Índice, Paes Leme adverte o leitor para a posição pouca honrosa para o Brasil que, em 2014, cujo EPI se coloca na 62ª posição do “ranking mundial”! Mesmo na América Latina, encontra-se o Brasil em posição vergonhosa, ou seja, fora do conjunto de dez países que se situam num ranking mais expressivo. Acentua o cientista político que tal posição inferior de nosso país não faz jus à condição de que aqui se encontra, como dádiva da natureza, o "pulmão do mundo," aludindo à nossa Amazônia.
O artigo de Paes Leme é polêmico e, a meu ver, de grande interesse para todos aqueles que desejam que seus netos e bisnetos tenham sobrevivência ao longo deste século. Mas, o artigo não se sustenta no vazio. É rico de detalhes e observações que devem ser meditsdas com toda a atenção que merece o assunto.
Para tanto, cita importantes autoridades científicas, como a de do astrofísico Martin Rees, autor do apocalíptico Our final century (em tradução livre, Nosso século final), ou do biólogo também britânico James Lovelock, com seu livro, A vingança de Gaia, ou ainda a do filósofo John Gray, com seu livro Cachorros de palha. Para Paes Leme, os três formam uma “espécie de trilogia do apocalipse" na Inglaterra e o mais assustador é que suas previsões já incluem os “próximos 50 anos!
Ressalte-se que o citado Martin Rees se fundamenta em índices analisados conjuntamente, ou seja, usa o citado EPI, IDH e PIB. Ou seja, não se prende tão-só ao fator de ordem econômica. Além disso, critica os gastos astronômicos de países civilizados com armamentos, os quais só servirão para precipitar ainda mais as posições nada alvissareiras para a sobrevivência na Terra.
Além disso, a própria OTAN, de acordo com suas próprias fontes, dobraram seus gastos, atingindo cifras de trilhões de dólares.s militares. Os EUA, também. Tudo isso só pode provocar indignação e consternação dos homens que lutam pela paz e pela bem do Terra.
De qualquer forma, o artigo de Paes Leme é útil e original e, como cientista político, não se furta a fazer analogias com outros temas que, estruturalmente, se imbricam na tentativa de entender as implicações da desordem do Planeta, sobretudo do “aquecimento global”, cujos efeitos hoje em dia, em nossas metrópoles e mesmo no interior, já dão sobeja prova de que o planeta Terra está muito doente e, por conseguinte, necessita da atenção de todos os povos do mundo, sobretudo dos que mais concorrem para a deterioração da atmosfera.
Refletir sobre um artigo dessa dimensão social não somente serve de alerta aos “donos do mundo” mas também abre os olhos de grupos da paz que, em todo os países, deveriam lançar campanhas de esclarecimento sobre a nossa própria sobrevivência neste tão desolado mundo contemporâneo.