O LUGAR DA JUSTIÇA
Por Cunha e Silva Filho Em: 14/05/2008, às 20H28
Fala-se com alguma desconfiança ou mesmo desapreço da astrologia, mas, no mundo dos astros, dos signos, das fases lunares, das posições do Zodíaco, fica uma certa sensação que, para mim, paira entre a verdade e a dúvida, entre acreditar no universo da matéria ou mergulhar no sonho do imaginário ou da fantasia.
Por pouco tempo, na minha juventude, trabalhei no City Bank do Rio de Janeiro, quando o prédio ficava na Avenida Rio Branco.Uma vez lá, um senhor simpático e ao mesmo tempo sério foi por mim atendido no balcão da seção de câmbio. Assim que o atendi, antes de sair, me pediu que lhe desse o meu nome completo e minha data de aniversário. Ele entendia de astrologia. Não sei se a ela se dedicava por hobby ou como ganha-pão. Fazia mapa de signos e, sem lhe pedir, me dissera que iria preparar-me o mapa astral. Prometeu voltar noutra oportunidade.
Prometeu-me e o fez. Trouxe-me o tal mapa do meu signo que, no caso, é sagitário, aquele do arco e flecha, do conhecimento dos leitores que lêem horóscopos, um assunto reservado até por jornais ou revistas de grande porte e mesmo estudado por pensadores da estatura de Roland Barthes e Theodor Adorno, entendendo-se aqui - é bom frisar - que os dois autores não estudaram a astrologia com o objetivo de lhe dar foros de verdade e de relevância, mas apenas como material de estudo para explicar aspectos do funcionamento da vida social.
Entretanto, não lhe falei, leitor, das razões que levaram aquele senhor a fazer-me o mapa astral, assim de graça. Tal gesto deveu-se ao meu atendimento ao cliente, à minha vontade e educação demonstradas no trato dispensado ao cliente. Me recordo de que o astrólogo, entre outras coisas, afirmara que eu, talvez, mudasse um dia aquela espontaneidade provada no atendimento, ou seja, a minha boa vontade, a minha ausência de formalismo, de objetividade, já que generosidade, alegria, gentileza e humildade em geral não combinam bem com locais de atendimento ao público. Hoje, nem se fala, o que existe mesmo é cara feia, má vontade etc., etc.
O leitor, mais uma vez, insistirá: - Mas, a que vem mesmo essa digressão toda? Tentarei, agora, torná-la mais explícita. A inspiração para este artigo provém de duas características do sagitariano, o apego aos sentimentos da liberdade e da justiça. São dois traços dos quais, independentemente de acreditar ou não nos astros, o meu temperamento jamais abriria mão na práxis do meu agir e atuar no mundo.
Vivendo como todo brasileiro num país como o nosso, em todo momento, impotentes, presenciamos ações governamentais que ferem frontalmente o exercício da liberdade e a prática da justiça nos diversos setores da vida social, no trabalho, na educação, na saúde, na segurança, nos direitos políticos, nas ações dos governos federal, estadual e municipal, sem descermos às situações mais diretas das transgressões perpetradas contra a sociedade civil, maltratada pelo abuso do poder, pela opressão de todos os matizes e de todos os lados.
Somos desrespeitados civilmente quando sofremos as conseqüências nefastas das balas perdidas, da desvalorização de nossos imóveis que, se situados nas proximidades de morros controlados pelo narcotráfico, passam a ser considerados pelas corretoras como área de risco. O resultado daí é a queda de preço do imóvel e, no caso de querermos vendê-los, potenciais compradores desaparecem como fumaça. Aqui o papel do Estado é de total omissão e desídia. Somos desrespeitados quando a União, o estado e as prefeituras não reajustam adequadamente seus funcionários, seus aposentados. Somos desrespeitados quando o Executivo, o Legislativo e o Judiciário se concedem aumentos anuais estratosféricos. Quando nos arrocham com altas alíquotas de imposto de renda – verdadeiros confiscos salariais sem nenhuma recompensa em infra-estrutura, em setores vitais, como saúde, educação, transporte, aviação, segurança, ao contrário do que vemos em países civilizados, nos quais o contribuinte dispõe efetivamente de altos benefícios sociais derivados dos impostos pagos. Somos desrespeitados com o abuso das mordomias palacianas, sobretudo no Executivo. Os exemplos se multiplicariam ad nauseam
Nos parece que estamos anestesiados pelo que já se chamou de pensamento único, pela banalização ou naturalização do cinismo institucionalizado, da capadoçada, da malandragem de nosso representantes na Câmara Federal, no Congresso. Isso tudo nos causa engulhos e desprezo pelos nossos representantes em Brasília.
Todas as questões aqui ligeiramente afloradas têm em vista demonstrar que o cidadão brasileiro consciente de seus direitos e deveres, ao procurar as vias da Justiça (assim com maiúscula), sentir-se-ia como o filósofo grego Diógenes (413-323 a . C.), o Cínico, que, saindo do seu tonel, caminhava pelas ruas de Atenas em plena luz solar portando uma lanterna acesa à procura de um homem...
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