O caso do diretor geral
Por M. T. Piacentini Em: 06/05/2019, às 15H29
Tendo lido os Casos Especiais no livro Só Palavras Compostas – manual de consulta e autoaprendizagem, em que defendo a não hifenização de diretor geral, o leitor Márcio Schiefler Fontes insiste: “Como devo me portar em relação à questão de Procurador-Geral, Diretor-Geral etc. Uso hífen ou não?”
Em primeiro lugar, o hífen aí não se justifica, porque se trata de uma sequência de substantivo (diretor) e adjetivo (geral) que não formam um substantivo composto, um novo vocábulo, com novo significado. Para que se forme um substantivo composto – e consequentemente se necessite do hífen – com a sequência de substantivo + adjetivo ou adjetivo + substantivo é preciso que o adjetivo perca seu sentido literal, passando os dois termos a transmitir um novo conceito – aí então se configura uma outra palavra, a palavra composta. Servem como exemplo: cachorro quente ≠ cachorro-quente; mesa redonda ≠ mesa-redonda; onça pintada ≠ onça-pintada; boa fé ≠ boa-fé.
Quando o adjetivo não adquire novo status nem transmite ideia diferente, portanto, não há razão para usar o hífen entre ele e o substantivo. É por isso que não são hifenizados: diretor administrativo, diretor adjunto, diretor executivo, gerente econômico, gerente financeiro, auxiliar técnico, assessor especial, juiz substituto, secretário geral etc. Não é “geral” um simples adjetivo como adjunto, financeiro, administrativo, técnico? Neste caso, por que só os cargos que utilizam o termo geral deveriam ser hifenizados? Afinal, geral aí continua a significar “geral, abrangente, global, que compreende um todo”.
E como o Manual de Redação da Presidência da República, editado em 1991, chancela o uso do hífen – embora ilogicamente – “nas palavras compostas em que o adjetivo geral é acoplado a substantivo que indica função, lugar de trabalho ou órgão” (p. 96), o que se pode fazer é manter o hífen nos documentos oficiais quando se está tratando dos tais cargos ou órgãos cuja lei de criação tenha assim estabelecido. No mais, a lógica manda suprimir o hífen: Inspetoria Geral, Secretaria Geral, ou diretora geral, consultor geral, inspetor geral etc.
De outra parte, o hífen é de lei em compostos como diretor-presidente, diretora- superintendente, diretor-gerente, redator-chefe, secretária-chefe etc. Por quê? Porque aí temos aí uma formação de substantivo + substantivo. É como se fossem “dois em um” – tomam-se dois substantivos para formar um novo. Ou seja, dois substantivos estão se unindo para formar um terceiro substantivo. Igualmente servem como exemplo: homem-aranha, papel-moeda, edifício-garagem, auxílio-maternidade, decreto-lei, carta-convite, licença-prêmio, vale-refeição, carro-pipa, banana-maçã, salário-família. Mas, veja bem, escreve-se salário mínimo, sem hífen, justamente porque mínimo é adjetivo e aí não muda de significado: quer dizer que o salário é pequeno mesmo, é o menor salário.
Embora a quinta edição do VOLP (2009) registre o hífen nesses compostos, os dicionários não arrolam todos os termos. Alguns não trazem diretor-geral, e corregedor geral com hífen não se encontra em nenhum deles. Acho que não foi só esquecimento – pode ter sido falta de convencimento mesmo.