O caso de Javier Milei
Por Miguel Carqueija Em: 10/03/2024, às 15H46
O CASO DE JAVIER MILEI
Miguel Carqueija
É curioso como a eleição de Milei na Argentina fez com que a militância esquerdista brasileira subisse pelas paredes — essa mesma esquerda que não está nem aí para as atrocidades (que já duram longos anos) de Daniel Ortega na Nicarágua e Nicolás Maduro na Venezuela.
Porém, mesmo que Milei seja uma grande incógnita — não podemos afirmar se o seu governo será bom, ou mau, ou muito pelo contrário — é preciso considerar as circunstâncias. Milei não é o culpado pela ruína da Argentina. Quem arruinou o país vizinho, em décadas de corrosão, foi o PERONISMO. A começar pelo período ditatorial de Juan Perón entre 1946 e 1955, quando o puseram para fora.
Conta-se que a Argentina era um país próspero, quase europeu. Em criança eu li um artigo da Seleções intitulado “Quanto custou Perón à Argentina”. Foi um período de espoliação, de culto idolátrico à personalidade do caudilho.
A sorte de Perón e dos peronistas foi que a esposa do ditador, Evita Perón, parece ter sido uma alma caridosa, amiga dos pobres — os chamados “descamisados” — e morreu cedo, de câncer, em 1952, tornando-se um mito.
Perón passou anos no exílio, na Espanha. Pode-se dizer que, durante algum tempo, houve um certo revezamento entre o peronismo e regimes militares, embora isso não abranja todos os governos. Houve uma ditadura militar entre 1966 e 1973; o último general desse período, Lanusse, resolveu devolver o poder aos civis e foi essa a oportunidade para Perón retornar ao país e ao poder. Ele acabou sendo eleito mas morreu logo, sendo sucedido pela vice, sua segunda esposa Isabelita. Ela parece que estava bem intencionada mas o país encontrava-se em anarquia, assim os militares tomaram de novo o poder. Isabelita foi presa e posteriormente exilada na Espanha.
O segundo período militar, muito pior que o primeiro, terminou quando o ditador nazista Galtieri foi se meter a ocupar as Ilhas Falkland (território britânico) na mão grande. A Primeira-Ministra Margaret Tatcher não gostou nada, mandou uma força-tarefa e retomou facilmente o arquipélago; a desmoralização de Galtieri determinou sua queda.
Os peronistas continuaram esvoaçando em torno do poder. Foi a era dos Kirchner e depois veio o Alberto Fernández, que acabou de arrebentar com a Argentina — e a própria grande mídia brasileira, que informa mal e ideologicamente, reconheceu o fato.
Vieram as eleições. Havia cinco candidatos, inclusive uma política conservadora. Mas chegaram no segundo turno Javier Milei, direitista, figura polêmica, e Sergio Massa. E esse Massa era simplesmente Ministro da Economia de Alberto Fernández — o governo que destruiu a Argentina!
Vocês estão entendendo? Milei, pelo menos, é um salto no escuro, uma incógnita, que surgiu ontem, por assim dizer.
Já o outro!
Seria preciso que o eleitorado argentino estivesse muito doido se desse a vitória ao seu algoz! Isto não teria lógica!
É o que o Senhor Spock diria!
Javier Milei pode realizar um governo péssimo, ou ótimo, ou mais ou menos. É cedo para dizer, é preciso dar um tempo em vez de prejulgar.
Ah, ele insultou o Papa? Também detestei isso, mas ele teve a humildade de pedir perdão e Francisco o perdoou. Vamos então rezar para que Milei dê certo.
Rio de Janeiro, 12 a 17 de fevereiro de 2024.