Vejamos agora uma figura folclórica da ficção científica brasileira:

O CAPITÃO  BARBOSA



                                                    Miguel Carqueija



- Temos um problema sério, Capitão Barbosa – disse o imediato Zé Peroba.
- Não me traga problemas, traga soluções – respondeu Barbosa, enquanto traçava a sua feijoada mineira.
- Mas Capitão, o caso é urgente!
- O que pode ser tão urgente assim? Estamos sendo atacados por uma esquadrilha de discos voadores?
- Pior, meu capitão, muito pior. O Tadeu se plantou dentro do banheiro e não sai, e já tem cinco na fila!
- Mas não dá para aguentar um pouco?
- É claro que não, Capitão Barbosa! Não depois daquele vatapá que a gente comeu... e o pior é que eu sou o último da fila!
- Pombas... bom, ele não deve demorar, afinal...
- O senhor que pensa. Ele entrou com uma revista de quadrinhos...
- O que diz? Um gibi?
- Pior, Capitão, muito pior. Um mangá.
- Hein?
- Mangá, Capitão Barbosa. Aquela HQ japonesa, que a gente lê de trás para diante...
- Sim, eu conheço, aliás nem sei porque é que os brasileiros pegaram essa obsessão de mangá....
- E o senhor sabe como é...  mangá demora para ler... sempre tem vários capítulos por volume...
- Ah, sim... e como é que você sabe disso?
- Capitão, não dá para discutir isso agora... será que a gente pode arrombar a porta?
- Ah, é? Se vocês danificarem a nave eu terei que pagar do meu salário, que já é tão minguado! Acho melhor vocês usarem uns sacos de lixo e jogarem no incinerador!
- Bem... bem... com licença – e Zé Peroba saiu atarantado, sem nem se lembrar de fazer continência.
- Com um milhão de estrelas de neutrons! – queixou-se Barbosa. – Só essas naves brasileiras são construídas com um só banheiro! Já cansei de mandar ofícios à Secretaria de Assuntos Espaciais...
- E tem mais – disse uma voz feminina adocicada, soando pelo alto-falante do teto -–as espaçonaves japonesas, chinesas e norte-americanas dispõem até de quatro ou cinco banheiros!
                    Barbosa acionou o holograma de mulher que personificava a nave Antaprise, já que não gostava de conversar com paredes. Apareceu uma garota tipo havaiana, vestida com um sarong (obviamente ele não aprovava aqueles hologramas de naves vestindo sóbrios trajes oficiais), que acrescentou:
- Por que você mesmo não constrói o segundo banheiro? Aliás isso é uma vergonha: tinha que ter pelo menos um para homens e um para mulheres.
- Eu sei disso. É por isso que não se consegue mulheres na tripulação de uma astronave brasileira! Eta país problemático! Mas não posso bancar uma obra dessas em você. Não com o salário miserável que o governo brasileiro me paga!
- Capitão Barbosa, quero lhe avisar que estamos com um novo problema, e esse é sério mesmo. Um dos disjuntores fundiu, um meteoro atingiu o nosso giroscópio e estamos em rota de colisão com a superfície de Marte.
- Hein? O que? Por que é que você não me alertou antes?
- Bem... eu queria ter feito... mas o senhor estava tão ocupado com o assunto do banheiro...
- Mas que droga! (ele falou outra coisa – mas foi censurada, como nas legendas dos filmes americanos) Você já tomou alguma providência?
- É claro, Capitão. O senhor sabe que, desde que as naves se tornaram inteligências artificiais, pessoas como o senhor passaram a ser meramente decorativas. Já pedi socorro, e está vindo uma esquadrilha da Frota para nos ajudar.
- Ah, bom! É claro... aqui tem muitas vidas humanas para preservar...
- Que vidas humanas, Capitão Barbosa? Eles não querem é que a superfície de Marte seja danificada!  
 

















































 





































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