O café dos maconheiros
Por Washington Ramos Em: 19/10/2023, às 08H44
{Whashington Ramos]
“Fabrício, Você já imprimiu a fatura de meu cartão?”
“Ainda não, vó. Mas vou fazer isso agora. Espere só um instante. Humm... Deixe-me ver . Pronto, vó.”
“Quanto foi que deu?”
“Eita, vó! Deu 3740 reais, tem compras em dólar em seu cartão.”
“Meu neto, pelo amor de Deus! Não é possível esse valor tão alto, essas compras em dólar! Não acredito, não brinque com sua avó, meu querido neto!”
“É o que está aqui, vó. Não estou brincando, não, e olhe, tem compra da senhora em Amsterdã, Londres e São Paulo.”
“Virgem Nossa Senhora! Valei-me! Eu nunca saí do Brasil, nunca saí nem do Nordeste. Só faço compras aqui mesmo em Teresina, só compro no Carvalho, no Pão de Açúcar e nas farmácias. Como é que essas compras apareceram em meu cartão, Fabrício?”
“Com certeza, clonaram o cartão da senhora.”
“Clonaram?”
“Clonaram. A compra em Amsterdã é numa coffee shop.”
“O que é isso, cófi xópi, meu neto?”
“É uma loja onde vendem maconha, café, refrigerante...”
“Quer dizer que os maconheiros clonaram meu cartão para fumar maconha e tomar café?”
“Sim, mas eles compraram outras coisas também em outras lojas.”
“E agora, meu neto, o que é que eu faço?”
“Agora é ligar para a operadora do cartão e reclamar, não reconhecer essas compras absurdas. E olha, vó, a operadora é a maior culpada nessa história toda. Pela idade da senhora, pelo seu perfil de compras, é fácil perceber que não era a senhora que estava fazendo essas compras. A operadora devia ter ligado pra senhora e perguntar se era a senhora mesma que estava fazendo essas compras. Mas não! Essa turma de cartões de crédito só pensa em seus lucros exagerados, em seus juros absurdos, é o que se chama de capitalismo selvagem.
“É mesmo, meu neto.”
“Eu vou ligar para a operadora, e a senhor mesma fala com eles.”
“Tá bom, ligue.”
“Mas vá se armando de muita paciência, vó, porque o atendimento é um lixo; primeiro, eles vão propor uma série de opções que não interessam pra gente, depois vão nos deixar de molho numa espera enorme. Paciência, vó, muita paciência...”