{Whashington Ramos]

     “Fabrício, Você já imprimiu a fatura de meu cartão?”

     “Ainda não, vó. Mas vou fazer isso agora. Espere só um instante. Humm... Deixe-me ver . Pronto, vó.”

     “Quanto foi que deu?”

     “Eita, vó! Deu 3740 reais, tem compras em dólar em seu cartão.”

     “Meu neto, pelo amor de Deus! Não é possível esse valor tão alto, essas compras em dólar! Não acredito, não brinque com sua avó, meu querido neto!”

     “É o que está aqui, vó. Não estou brincando, não, e olhe, tem compra da senhora em Amsterdã, Londres e São Paulo.”

     “Virgem Nossa Senhora! Valei-me! Eu nunca saí do Brasil, nunca saí nem do Nordeste. Só faço compras aqui mesmo em Teresina, só compro no Carvalho, no Pão de Açúcar e nas farmácias. Como é que essas compras apareceram em meu cartão, Fabrício?”

     “Com certeza, clonaram o cartão da senhora.”

     “Clonaram?”

     “Clonaram. A compra em Amsterdã é numa coffee shop.”

     “O que é isso, cófi xópi, meu neto?”

     “É uma loja onde vendem maconha, café, refrigerante...”

     “Quer dizer que os maconheiros clonaram meu cartão para fumar maconha e tomar café?”

     “Sim, mas eles compraram outras coisas também em outras lojas.”

     “E agora, meu neto, o que é que eu faço?”

     “Agora é ligar para a operadora do cartão e reclamar, não reconhecer essas compras absurdas. E olha, vó, a operadora é a maior culpada nessa história toda. Pela idade da senhora, pelo seu perfil de compras, é fácil perceber que não era a senhora que estava fazendo essas compras. A operadora devia ter ligado pra senhora e perguntar se era a senhora mesma que estava fazendo essas compras. Mas não! Essa turma de cartões de crédito só pensa em seus lucros exagerados, em seus juros absurdos, é o que se chama de capitalismo selvagem.

     “É mesmo, meu neto.”

     “Eu vou ligar para a operadora, e a senhor mesma fala com eles.”

     “Tá bom, ligue.”

     “Mas vá se armando de muita paciência, vó, porque o atendimento é um lixo; primeiro, eles vão propor uma série de opções que não interessam pra gente, depois vão nos deixar de molho numa espera enorme. Paciência, vó, muita paciência...”