(Miguel Carqueija)

Esta ficção política foi escrita nos anos 80 e fala de um futuro que já não virá, pois não previu diversos acontecimentos como o surgimento da internet.

 

O ATOR E O PRESIDENTE

Miguel Carqueija


    “Se Deus se deu ao trabalho de criar uma pessoa, é porque ela deve ter alguma utilidade.”
    (Provérbio chinês)

Pelas nove horas de uma noite parisiense excepcionalmente clara, um homem esquivo, de sessenta anos, vestido com um terno surrado e sem gravata, esgueirou-se num pequeno bote até um barco ancorado no Rio Sena, sem que ninguém notasse essa aproximação. Chegando até a escada de portaló ele subiu rapidamente, conservando o velho chapéu e o cachecol entre os quais apareciam as suas feições enrugadas, agoniadas, os olhos vermelhos, injetados de febre.
    De um dos compartimentos vinham ruídos de conversação e risos.
    O ambiente era luxuoso, com pinturas a óleo e castiçais de prata, além de um rico tapete persa. Estavam ali sete pessoas, quatro homens e três mulheres de idades variáveis. Na mesa repleta havia um pouco de tudo: esturjão, “petit-pois”, azeitonas portuguesas, espinafre, vinhos finos, pastéis, rabanetes, beterrabas, peru etc.
    Cobrindo a todos com a pistola que segurava com determinação embora trêmulo, o intruso cuspiu palavras carregadas de mágoa e ameaça:
    — Vocês aí se banqueteando! Me arranjem um prato de comida antes que eu resolva acabar com tudo! Não como há dias e estou disposto a tudo!
    O homem mais velho do grupo, à cabeceira da mesa, levantou-se e exclamou em tom de completo espanto:
    — Richard! Meu Deus, que faz aqui e nessas condições? Que lhe aconteceu?
    O espanto do invasor foi ainda maior: deixando pender a arma, pôde apenas balbuciar: — Presidente!
    O princípio de pânico foi jugulado ante o patético da cena: rodeando a mesa, o Presidente da República Francesa aproximou-se em passos rápidos do invasor e dirigiu-se a ele:
    — Me dê esse revólver. Você não se encontra em boas condições.
    — Boas? Elas são péssimas! — assim dizendo ele se abraçou ao estadista, tomado de soluços.
    Às perguntas que se multiplicaram, o Presidente explicou:
    — É Richard Osmond, aquele ator de cinema norte-americano... e um velho amigo. Não se lembram?
    — Mas demais! — disse uma das mulheres. — Vi tantos filmes seus! Como foi reduzido a isso?
    Era uma boa pergunta...


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    Richard Osmond fizera de fato muitos filmes, durante décadas. Tempo houvera em que era considerado um dos galãs mais atraentes, e as mocinhas suspiravam por ele. Fazia também outros papéis, até de cientista louco ou de paraplégico, e seu talento era real: cada caracterização era considerada perfeita. Interpretara certa vez o Dr. Fu Manchu, assumindo ares orientais.
    Nessa época porém já estava em decadência. Aos trinta anos tornara-se amigo de Jean-Claude Dermèze, jovem ator francês que participara com ele de dois filmes norte-americanos. Claude porém sentia-se atraído pela política e acabou retornando ao seu país de origem, onde rodou ainda uma série cômica para a tv, durante três anos, nesse ínterim elegeu-se deputado e interrompeu a carreira artística. No intervalo de dois mandatos fez um filme de longa metragem, “O Major Thompson”, para cujo papel-titulo foi convidado Richard Osmond, ficando Jean-Claude na pele de Denainos. A presença do célebre Osmond — então com 43 anos e no auge de sua carreira — garantiu uma arrasadora bilheteria e extrema popularidade para Claude, que conseguiu se reeleger e nunca mais abandonou a política. Os anos se passaram: Jean-Claude Dermèze era agora o Presidente da França e de certa forma esquecera o amigo que indiretamente dera força ao seu nome.
    Sim, que sucedera a Osmond? Retornando aos Estados Unidos, divorcia-se de sua segunda esposa. Começa a beber e a se tornar inconstante no trabalho, desentendendo-se com produtores e diretores. Um terceiro casamento desastroso leva-o à depressão. Afastado da religião e dos amigos, tendo três pensões a pagar, alem dos seis filhos (três com a primeira, dois com a segunda e um com a terceira), Osmond começa a ter tiques nervosos que o prejudicam como ator: o dinheiro escasseia e surgem as dividas.
    Aos 52 anos faz ainda “A volta do Dr. Fu Manchu”, mas se este voltava, Richard dava adeus às telas: não consegue novas chances, após os problemas que criou nos bastidores das filmagens. Sobrevive durante alguns anos fazendo pontas ou comerciais de tv; lembra-se então de alguns cineastas franceses e do seu filme francês, ainda reapresentado de vez em quando: escreve para lá e recebe um convite e uma passagem. Richard viaja meio às ocultas, por causa das dividas. Chegando na França, porém, uma decepção: não é aprovado nos testes e fica o dito por não dito.
    Não tem dinheiro para retornar. Vivendo agora de subempregos, escrevendo cartas para amigos da América que nunca lhe respondem, é Richard agora um trapo humano. Vagabundeia por Paris, bebe, dorme em antros, espeluncas; tenta cantar nas ruas, ganhando trocados. Não é fácil numa Paris eletrônica, onde robôs cançonetistas se apresentam em restaurantes e boates. Richard Osmond está fora de moda.
    Neste triste estado deu-se o seu encontro com Dermèze.
    Oito anos de miséria e privações.


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    — Sente-se e sirva-se — disse o Presidente. — Depois nós conversaremos melhor.
    — Não sei se devo...
    — Ora! Depois de nos ameaçar com um revólver você não vai nos desfeitear, não é mesmo? Mas primeiro me acompanhe; vamos lavar as mãos.
    O oficial que cuidava da segurança de Dermèze moveu-se para segui-los, mas o Presidente se opôs:
    — Pode deixar, Claude. Eu o conheço bem.
    Entregou, porém, o revólver a Claude, discretamente, e conduziu Richard para o lavabo.
    Embora inibido, Osmond tentou conversar alguma coisa:
    — Você então ainda se compadece desse seu velho amigo... meu Deus! Já não devo chamá-lo de “você”.
    — Todos os meus amigos me tratam assim. Com você não é diferente. Lave o seu rosto também, Richard. Você está meio sujo.
    — Calculo... puxa, se você soubesse como tenho sofrido! E como os antigos amigos me abandonaram...
    — Este amigo não o abandonará. Quando eu retornar ao palácio, você irá comigo.
    — Mas... como...
    — Você vai me contar toda a sua situação e aí veremos o que pode ser feito. Não posso permitir que você continue vivendo ao Deus-dará. E pare de me abraçar, homem! Você está todo molhado!


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    Paris, na época dessa história, estava profundamente transformada pelos recentes progressos científicos e mutações políticas.
    O satélite geoestacionário, como segunda lua, iluminava as feéricas noites parisienses. A Torre Eiffel, derrubada durante os bombardeios da Guerra dos Árabes, estava sendo reconstruída em ritmo febril, o que era ponto de honra do atual Chefe de Estado. O Sena fora despoluído e, como nos melhores dias, era habitado em termos permanentes. Os habitantes do Sena moravam em barcos como o que Osmond abordara.
    Os apaches estavam bastante jugulados numa época em que uma Suretè altamente informatizada dispunha ainda de armas que paralisavam sem matar. Além disso, a identificação de criminosos pela aura Kirlian tornava-se o terror das quadrilhas. A umidade denunciando o crime.  
     O Louvre fôra ampliado e agora incluía um museu de Astronáutica, com o traje usado pelo primeiro francês a pisar na Lua, Benedict de Saint-Michel.
    Dermèze era um estadista atualizado e muito reputado internacionalmente. Um gesto sentimental podia prejudicá-lo politicamente ou perante a mídia, e ele sabia disso. Entretanto, ao colocar Richard como seu secretário particular, agiu sem hesitação. O cargo não existia e nem seria considerado honesto cria-lo de propósito, mas Dermèze pagou Richard do próprio bolso. “Eu tenho minha criadagem particular — diria mais tarde — e sobre ela não tenho que dar satisfação a ninguém”.
    Dermèze encarregou Richard de negócios bem particulares, como a organização da sua biblioteca, que possuia edições raras como uma “Divina Comédia” do século XVII e as “Confissões” de Santo Agostinho, em edição de 1614. O arquivo de notícias de jornais e revistas, geralmente recortes de assuntos científicos (a grande paixão de Dermèze) foi organizado por Osmond. Afinal, o Presidente e a Primeira Dama não dispunham de tempo para essas coisas. Osmond achava que estava fazendo insignificâncias inventadas pelo amigo por pura caridade. Acompanhando o Presidente, Richard às vezes era também filmado para os cinejornais e telejornais. “Veja, você voltou ao cinema”, dizia Dermèze de brincadeira.
     Realmente, um antigo admirador, cineasta norte-americano, aproveitando as notícias recentes de Osmond montou um documentário de trinta minutos a seu respeito, com cenas tiradas dos filmes ao longo de toda a carreira, uma narração biográfica e, silenciando sobre os fatos mais recentes e dolorosos, nos últimos três minutos mostrava cenas tiradas de cinejornais. “Agora, afastado do cinema, Osmond trabalha para o Presidente da França, seu velho amigo”, dizia a narradora. Um velho trecho de “O Major Thompson”, o personagem de Pierre Daninos interpretado por Dermèze, também foi mostrado.
    Richard, assistindo no cinema (em complemento a uma longa metragem) essa singular homenagem à sua pessoa, chorou de emoção e saudade. Quando pôde dispor de algum dinheiro, realizou também uma rápida viagem a sua terra natal, para rever membros da família, visita essa que não o alegrou muito. Afinal, já era praticamente um estranho para os familiares.
    Agora, com acesso à biblioteca particular do Presidente, dedicava o tempo livre à leitura, escolhendo de preferência os assuntos que mais paz lhe trouxessem — ele que tanto precisava de paz de espírito. Foi assim que acabou achando a Bíblia de Dermèze e lendo o Evangelho. Aquelas páginas, que ele tanto ouvira falar e nunca lera a fundo, o cativaram. Passou a ler diariamente trechos do Evangelho.


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    Cerca dum ano após a contratação de Osmond, o governo francês viu-se a braços com um súbito recrudescimento das atividades terroristas da Frente Anarquista de Libertação Nacional. Pareceu evidente às autoridades francesas que o recesso da FALN — duramente atingida pela repressão — fôra estratégica, para recompor forças e perseguir maiores objetivos.
    Quando em 31 de julho o ônibus espacial Petit Prince foi explodido, Dermèze, indignado, pronunciou-se à nação por rádio e tv:
    “Moveremos guerra sem trégua contra os inimigos da civilização. Não seremos bonzinhos. Se um terrorista receber ordem de prisão e quiser reagir a tiros, encontrará pela frente homens cumpridores do seu dever e que não hesitarão em atirar primeiro. Nós não seremos uma nação anarquista, nem hoje nem daqui a mil anos..”
    Em resposta Conseil, o misterioso líder anarquista, em mensagem entregue a uma estação de tv, declarou que condenara Dermèze à morte e que o Presidente da França não escaparia de ser executado.
    Essa notícia causou profunda impressão ao ator, que chegou a falar a sós com Helène, a Primeira Dama:
    — Dermèze não zela muito por sua segurança. Ele não pode ficar se expondo a esses celerados! É uma vida muito preciosa para o mundo!
      — E eu rezo muito por ele, Richard. Mas Jean-Claude é um homem que não tem medo de nada e acha que não deve se esconder do povo. Às vezes os agentes de segurança ficam desesperados, porque ele se expõe demais. Deus queira que esses terroristas sejam todos localizados.
    Passou-se uma semana. Algumas prisões trouxeram certa tranquilidade, ainda que Conseil não pudesse ser encontrado.
    Certa tarde Osmond desceu da biblioteca e, sabendo que o Presidente não tinha nenhum compromisso oficial naquela noite, procurou por ele e soube que partira para visitar os amigos do barco.
    Lembrou-se da própria facilidade que tivera em penetrar naquele local e apontar uma arma carregada para o Chefe da Nação e, levado por estranha inquietação, deixou a residência e partiu para o ancoradouro, no automóvel com que o amigo o presenteara.
    Chegando ao cais, avistou o automóvel presidencial com apenas dois carros de segurança que, à distância, cuidavam que ninguém se aproximasse. Osmond sentiu-se aliviado ao vê-los. Ele próprio não portava nenhuma arma; jurara nunca mais usa-las. Acenou para Claude, que o reconheceu de imediato.
    — Veio falar com o presidente, Senhor Osmond? Pode ir, mas deixe seu carro aqui, por favor.
    — É claro, Claude. Muito obrigado!
    Dirigiu-se rapidamente ao ponto onde se encontravam Dermèze e Helène, que aguardavam o barco do casal, já visível, aproximando-se a jusante do Sena.
    Só havia um outro carro ali perto: o do casal Gall, do barco.
    Richard aproximou-se rapidamente, pensando em qualquer desculpa por sua presença. Jean-Claude e Helène, tendo-o visto, já o aguardavam com expressões de alegria.
    Súbito abriu-se a porta de trás do outro automóvel.
    Como num pesadelo, um homem mascarado e com traje de mergulho apareceu, portando uma automática. Em um pulo aproximou-se do casal, que estacara de surpresa; e apenas disse, ou rosnou: “Morre, cachorro!”
    Os tiros soaram: um, dois, três.
    E um homem caiu ao chão, arrastando na queda o assassino.
    Dermèze chutou a arma. Os agentes Claude e Gaspar vieram e alvejaram o terrorista no momento em que este, tendo se livrado de Osmond, pulava para a água.
    O sangue tingia o cais e a água.
    Enquanto dois agentes resgatavam o corpo do terrorista morto, Dermèze inclinou-se sobre seu amigo Richard Osmond, cujo peito fôra varado pelas balas:
    — Richard, Richard... por que fez isso?


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    Na porta do quarto hospitalar, o Dr. Temporal mantinha mesmo uma cara de tempo fechado. Contudo, fica mais difícil barrar um visitante quando se trata do Presidente da República.
    — Eu lhes peço, sejam breves. O estado dele é muito grave.
    Helène, com os olhos vermelhos, foi quem falou:
    — Mas ele viverá?
    — Minha senhora, receio que isto esteja acima do poder da Medicina. Só dou algumas horas de vida. Ele já foi atendido por um sacerdote. Foi a primeira coisa que pediu, ao acordar da operação.
    — Bem, então não percamos tempo — disse Dermèze. — Quero ao menos me despedir do meu amigo!
    Entraram e se aproximaram do moribundo, enquanto o médico permanecia de pé junto à porta.    
         Richard, acordado e lúcido, sorriu ao vê-los.
    — Claude... Helène... foi ótimo terem vindo.
    Helène sentou-se junto ao amigo e, segurando-lhe a mao esquerda, chorou sobre ela.
    — Ora, o que é isso, Helène — protestou Osmond. — Não é para isso que vocês vieram. Não quero lágrimas.                                               
    A esposa de Dermèze pediu desculpas e procurou conter as lágrimas. Dermèze, por sua vez, fitou o amigo com ar de queixa.
    — Procure não se esforçar, Richard. Nós estamos rezando por você.
    — Eu sei disso. Mas sei também que vou morrer.
    — Não diga isso. Estamos com os melhores médicos...
    Osmond sorriu.
    — Conheço essa velha história. Do jeito que minhas artérias foram destruídas. Quero ver que milagre eles farão... mas eu já não creio em Papai Noel, amigo. Sejamos realistas.
     — A propósito, não sei se você sabe que o terrorista morreu. Era o chefe da FALN em pessoa, o Conseil. Depois das ultimas prisões ele já quase não tinha elementos que pudesse usar e resolveu fazer o serviço pessoalmente. Creio que o terror está vencido.
    — É um consolo saber que eu não morro em vão. Ainda mais, salvando a vida mais importante desse país, um homem da sua grandeza moral, Jean-Claude... ah, sim, diga á imprensa que eu já perdoei Conseil. Só espero que Deus possa perdoá-lo.
    — Nós lhe seremos eternamente gratos — disse Helène.
    — Mas, Richard — insistiu Dermèze — você não devia ter feito isso! Não, nunca! Era a mim que ele queria, não a você! O Presidente da República não é mais importante que o mais humilde cidadão! Você não tinha obrigação de se sacrificar por mim!
    — Dermèze... você sabe o quanto eu lhe devo.
    — Não vem ao caso.
    — Vem, sim. Deixe-me falar, por favor, porque eu não tenho muito tempo. Escute. Quando você me encontrou eu era um rebotalho humano. Um traste. Estava a caminho do suicídio ou coisa parecida. Tenho certeza de que nem estaria vivo agora. Você me tirou do fundo do poço, recuperou-me, devolveu-me a dignidade. Fez por mim o que só um verdadeiro amigo faria. Pensei que nunca poderia saldar uma tal dívida. Graças a você e à sua esposa eu recuperei a crença no ser humano. Depois, freqüentando a sua biblioteca, descobri os Santos Evangelhos. E aí recuperei a Fé da infância, a Fé na Transcendência. Li e reli essas páginas inúmeras vezes, descobri a alegria de acreditar em Jesus Cristo e na Virgem Maria. E uma das frases de Jesus que mais me impressionaram foi aquela: “Ninguém é mais amigo do que aquele que dá a vida pelo seu amigo.” (*) Como eu poderia ter agido de outro jeito? Não seria digno dos favores que recebi.
     O médico aproximou-se e deu a entender que a entrevista devia terminar. O Presidente e a Primeira Dama despediram-se comovidos e saíram.
    De madrugada Richard Osmond entrou em coma e faleceu por volta do meio-dia.
    Desde então, por iniciativa do Presidente Dermèze, a França passou a comemorar, a 12 de agosto, o Dia da Amizade, o dia em que Richard Osmond, o grande ator de cinema, morreu no lugar de seu amigo.


(*) Citação do Evangelho de São João: capítulo 15, versículo 13.


Nota do autor: este conto foi publicado uma única vez, no opúsculo "A volta dos dinossauros" (Editora Protótipo, Rio de Janeiro, 1992). Para resgatá-lo, fiz a sua revisão e aparei algumas arestas.