Nova ameaça nuclear

Tentarei discorrer, já que, sobre o tema proposto, um leigo, insipiente nas ciências biológicas, físicas e matemáticas, não poderia meter-se a fazer tratados científicos, a respeito das diversas tentativas naturais, ao longo dos séculos, bem como das modernas tecnologias desenvolvidas pelo homem, cujos objetivos, embora pareçam semelhantes, no tocante à natureza, têm sido de aprimoramento e seleção das espécies e, no que nos concerne, infelizmente, mais que testar e acumular conhecimentos, vêm sendo a autodestruição e do lugar em que vivemos.


 Na idade média, a peste bubônica matou um terço da população européia; no início do século XX, a gripe espanhola dizimou mais de vinte milhões de pessoas e atingiu quase a metade da população mundial, ao disseminar o vírus influenza. Descuido natural ou descaso do homem? Depois que três bombas atômicas americanas, nos anos quarenta, lançadas sobre duas cidades japonesas, tiraram a vida de mais de duzentos mil habitantes, pensou-se que as armas nucleares, sim, seriam nossos algozes. Estados Unidos e URSS detinham (e detêm) conhecimento e arsenais suficientes para dizimar-nos a todos. Mas o tempo passou, eles e o restante do mundo se entenderam e outros holocaustos passaram a decorrer apenas de guerras localizadas propostas por governantes idiotas.


 Domada essa primeira ameaça atômica, ressurge, outra vez, o ciclo das pandemias provocadas por aberrações naturais ou mutações bacteriológicas e virais: a AIDS, a síndrome da vaca louca, o Ébola, a gripe viária. Para não ficar somente na contribuição indireta, entra o homem com um mal igualmente terrível: o terrorismo. Resignadamente, vamos resistindo, claro, com muitas seqüelas, a todas essas provações existenciais.


 Eis que surge uma nova ameaça nuclear: a “máquina de brincar de Deus”, o tal LHC (Large Hadron Collider), maior acelerador de partículas atômicas que o homem já construiu e que, por meio dele, pretende tentar explicar a origem, a gênese do universo. Quer a ciência comprovar que o “nada” passou a “ser” após uma explosão subatômica, o Big Bang. Esperam os cientistas envolvidos no projeto recriar o fenômeno. E é aí que parece morar o perigo. Estudiosos de outras áreas do conhecimento científico estão céticos e desconfiados quanto aos possíveis resultados que esse pretenso choque atômico poderia ensejar, temem que, caso a explosão ocorra de forma diferente da que eles esperam e apostam, as conseqüências possam ser desastrosas; não descartam, mesmo, a possibilidade de criação de um buraco negro para onde o planeta seria atraído. Haveria, de fato, razão para tanto receio?


Certo é que nem os físicos, matemáticos, os astrofísicos, pesquisadores e criadores das tecnologias que serão testadas e/ou utilizadas durante o evento estão cientes de que, enfim, será encontrado o bóson de Higgs, a “partícula de Deus”, que os ajudaria a confirmar a teoria da origem da matéria e da massa: razão maior de toda a experiência.


É o homem, sem procuração da maioria de seus pares, querendo mais uma vez desafiar a Natureza. Será que vale a pena arriscar o futuro, partindo-se da certeza de que há um perigo potencial que poderá se realizar, ante a incerteza de se saber ou não se, ao tentarem reconstituir o passado a partir do conhecimento de que dispõem no presente, em vez de um êxito retumbante, poderão impor um prejuízo incomensurável à nossa história?