CARLOS SAID

Noturno de Oeiras e Outras Evocações, que poderá ser adquirido nas lojas da Livraria Universitária e na livraria da UFPI.

 A odisseia literária do notável José Elmar de Mélo Carvalho (Campo Maior, Piauí, 1956), encontra-se estampada no livro “Noturno de Oeiras e Outras Evocações”.

Não há negar. A edição primeira, 2007, colossal. Mas é no índice da segunda, 2009, que encontramos de maneira soberana a peregrinação do Elmar Carvalho pelos caminhos da velha e solene Oeiras que ele próprio aclamou “minha geografia oeirense”. Não se conformando em escrever poemas incluindo o dogma das lembranças do “Cemitério Velho de Oeiras”, o genial Elmar foi mais além: das felizes lembranças que marcaram a vida das maiores expressões literárias, relembrou a vida dos oeirenses quando habitantes da Primeira Capital do Piauí. Sem faltar os de hoje. Incorporou sublimação em todas as ocorrências que fizeram a grandeza histórica da cidade abençoada pela querida padroeira Nossa Senhora da Vitória (a lenda já considerada realidade porque dissecada pelas gerações que se envolveram na tradição oral, ressalta com propriedade religiosa que: “em 1697, sob a invocação de Nossa Senhora do Sertão, após padre Miguel de Carvalho ter anunciado a vitória obtida contra os “Rodeleiros” (Usavam eles em seus combates as rodelas grandes, todas de madeira. Lutavam sempre contra os fazendeiros da região conhecida por Sertão de Rodelas), a Igreja Matriz do Brejo da Mocha (sic) passaria à denominação de Nossa Senhora da Vitória, por ter alcançado o milagre na luta travada contra os índios da tribo dos rodelas sob desigualdade (homens e armas).

Na sua peregrinação pela terra abençoada pela padroeira Nossa Senhora da Vitória (antes, Sertão), o insigne campomaiorense jamais esqueceu pelo exercício da paciência, como é rico e belo o acervo cultural do povo da Mocha. Desfilando obras de importantes literatos oeirenses, Elmar realçou a importante contribuição do poeta Benedito Francisco Nogueira Tapety (1890-1918); do inquieto Orlando Geraldo Rêgo de Carvalho (1930); do fantástico músico e compositor Possidônio Nunes Queiroz (1904-1996) e do economista Moisés Ângelo de Moura Reis (1946), fortalecendo – assim – , o valor da formidável escola literária dos oeirenses. Mas, inteireza nossa, Elmar ao passear pelas estradas da inteligência oeirense, não esqueceu d' outros filhos da Mocha: o destemido Manoel de Souza Martins, agraciado Visconde da Parnaíba (1767-1856), proclamador da independência de Oeiras, livrando a cidade do jugo português, no correr do dia 24 de janeiro de 1823. Pelos velhos calçamentos das ruas murmurejantes de Oeiras, recordando como foi edificada a “Casa da Pólvora”, trovejou em versos: “Meia-noite. / Metade silêncio, / Metade solidão. / Atravesso a praça das Vitórias / Na hora dolorosa das doze badaladas / Punhaladas que também me atravessam”.

No entanto, é na Procissão do Fogaréu, durante os dias marcantes da Semana Santa, que Elmar Carvalho juntou à fidelidade da fé e do pranto cantado, os mais ardorosos e santos versos: “Ó som de lamentações e de ais, / De lamúrias passionais, / De réquiem e miserere / Que dilacera e fere / Como não se ouvirá / Nunca mais”!

Não sabemos até quando Elmar prosseguirá na viagem cultural pelos mais variados recantos de Oeiras, ainda hoje, no século XXI, mais silenciosa em recordações do tempo de outrora (sic). Tal como Nogueira Tapety arrostando sofrimentos mas consciente do valor de sua arte poética: “Nasci para viver solitário, abismado / Na própria vastidão do meu ser tão profundo”.

No arremate último para não perder o “Noturno de Oeiras” nos trilhos d' outras lembranças, melhor para todos nós a declinação do amor que Elmar Carvalho devota todas as noites no vestal berço embalado pela bondosa Senhora da Vitória: “Oeiras navega na noite / De um tempo que não termina. / De um tempo sem medida, fugitivo / De ampulhetas e relógios”.