Música do ar

Armando Freitas Filho é um extraordinário poeta como se pode ler neste seu poema compacto, composto na metafísica das madeiras, mas nada daquilo que na orquestra se chama de som delicado, suave e bucólico: as madeiras compostas por Flautas, Clarinetas, Oboés e Fagotes, mas nem violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, harpas, sopros, flautas, clarinetas, oboés, fagotes, ou seja, música, música de árvores, nada disso, mas o bater do machado bruto, áspero, cortador, pancada de estaca, ou bate-estaca, no crescimento da cidade de concreto em direção estelar:


AR 
 
Música de árvores. 
Não a das folhas e ramos. 
Mas a outra, para percussão solo. 
Madeira, raízes, cascas, nós, galhos. 
Tudo que pede machado, corte, pancada. 
O que é duro - áspero - bate, e estaca. 
O que estala e cresce da terra contra as estrelas. 
 
Armando Freitas Filho, “Cabeça de homem”, Editora Nova Fronteira, 1991