Mons. Boson, virtuoso sacerdote e educador
Por Elmar Carvalho Em: 13/03/2024, às 17H28
Mons. Boson, virtuoso sacerdote e educador
Elmar Carvalho
Recebi das mãos do Des. Arnaldo Boson Paes o primoroso livro Monsenhor Boson: o missionário da educação, de sua autoria. Edição esmerada da Bienal Editora. Capa do notável artista plástico Paulo Moura e projeto gráfico de Irmão de Criação. Arnaldo, nascido em Campo Alegre de Lourdes (BA), foi meu colega no curso de Direito, na UFPI. Era bem jovem, simpático, alegre, dotado de senso de humor e de aguçada inteligência.
Logo após a conclusão do curso, em que se houve com invulgar brilhantismo, posto que inteligente e estudioso, logo foi aprovado em concurso público para Juiz do Trabalho. Não demorou muito foi alçado a desembargador dessa Justiça especializada. Foi presidente do Tribunal da 22ª Região, em que ainda exerce as suas funções judicantes.
O livro tem como tema a vida exemplar e a notável obra educacional do Monsenhor Constantino Boson e Lima. Logo que se estabeleceu em Teresina para fazer seus estudos no ensino médio e em curso superior, e ao tomar conhecimento da importante atividade magisterial de seu parente, o autor desejou dedicar-lhe uma biografia, que lhe imortalizasse as realizações.
Contudo, os relatos dos atos e fatos de Mons. Boson se encontravam dispersos em esconsos arquivos, em quase inacessíveis hemerotecas, em matérias avulsas, publicadas em velhos jornais, revistas e outros periódicos. Além do mais, o autor se encontrava, como ainda se encontra, no auge de seu labor profissional, a proferir decisões interlocutórias, relatórios e votos, fora o tempo em que exerceu atividades administrativas.
Com a evolução tecnológica e o surgimento das ferramentas digitais, pôde ele executar o seu projeto. Ele próprio esclarece: “Recentemente, ao entrar em contato com o acervo disponibilizado pela Hemeroteca Digital, ferramenta desenvolvida pela Biblioteca Nacional, finalmente encontrei a matéria-prima que tanto buscara. Seguindo as trilhas apontadas pelo acervo digital, parti para a pesquisa de campo.”
O livro nos informa que os ancestrais de Constantino Boson e Lima viviam na região situada entre o rio Poti e a serra da Ibiapaba, que constituía a vila de Príncipe Imperial, que até o ano de 1880 pertenceu ao Piauí, e que hoje forma o município de Crateús (CE).
O padre Sebastião Ribeiro Lima, nascido em 20 de janeiro de 1824, na fazenda Boa Vista, situada nessa região, se tornou o vigário da freguesia de São Raimundo Nonato, na província do Piauí. Foi nessa condição que, no final da década de 1840, o padre Sebastião foi rever o seu pago natal, onde visitou parentes e fez celebrações do ritual católico.
Retornou à sua igreja, levando em sua companhia jovens irmãos, entre os quais José Coriolano de Sousa Lima (1829-1869), que veio a se tornar um grande poeta, de dicção popular e romântica, pertencente à literatura do Piauí e do Ceará, e Jerônimo de Sousa Nogueira Boson Lima, falecido em 1876, que se tornou fazendeiro, tenente-coronel da Guarda Nacional e promotor público em São Raimundo Nonato, onde se casou com Francisca Adelina Lopes de Sousa Lima, com quem teve dez filhos, entre os quais o nosso Mons. Boson, o caçula dessa prole, nascido nessa localidade em 15 de outubro de 1868.
Preparando-se para ser sacerdote, Boson fez seus estudos em São Luís, capital do Maranhão, a cuja Diocese o Piauí era vinculado; primeiro no Seminário das Mercês, após aprovação em exame de admissão, e, depois, no Seminário de Santo Antônio, em que cursou Teologia e Filosofia, vindo a concluir seus estudos em 1891.
Além de funções sacerdotais em São Luís, o padre Boson exerceu atividades administrativas, e veio a se tornar, em 30 de abril de 1897, por ato do bispo Dom Alvarenga, reitor do Seminário de Santo Antônio. Em 1901, “retirou-se para o Piauí para assumir a paróquia de Barras”, encantadora e bucólica cidade, quase uma ilha, enlaçada pelo Marataoã e irrigada por suas várias barras, que lhe sugeriram o nome.
Barras, cognominada Terra dos Governadores, mas a que acrescentei, também, e de marechais, generais e poetas, teve três figuras emblemáticas, como sacerdotes, no século XX: Pe. Boson, que conservou e ampliou a velha matriz de Nossa Senhora da Conceição, em cujo cimo do frontispício, então voltado para o poente e para o Marataoã, se via um Cristo Redentor, de braços abertos, cuja história mais remota remonta à capela iniciada em 1749 pelo coronel Miguel de Carvalho e Aguiar, em terra de sua propriedade e à ampla e bela igreja colonial, cuja construção se deve, em grande parte, à liderança e esforços do patriarca José Carvalho de Almeida; Pe. Lindolfo Uchoa (1884-1966), que fundou, com o apoio das Irmãs Mercedárias, o Patronato “Monsenhor Boson”, um internato para moças e a Escola São Pedro Nolasco, inaugurada em 13 de fevereiro de 1955, destinada ao curso primário (o internato e a escola funcionavam no patronato, cujo prédio fora doado e reformado pelo coronel Antônio (Tote) Fortes Castelo Branco), além do célebre Colégio “24 de Fevereiro”, em Floriano, considerado um dos mais importantes de nosso estado; foi um dos fundadores do Ginásio Nossa Senhora da Conceição (18/04/1956) , juntamente com Geraldo Majella Carvalho, José Alencar Lopes (Zé do Honório), Conrado Amorim de Sousa e o médico José do Rêgo Lages, que funcionou inicialmente à noite, no prédio do Grupo Escolar Matias Olímpio; na página 31 do livro Chão de Estrelas da História de Barras do Marataoan, de Wilson Carvalho Gonçalves, na legenda da foto da velha matriz, encontro a informação de que Mons. Uchoa a teria ampliado; foi vigário em Barras em duas ocasiões, perfazendo uma permanência total de 31 anos na paróquia; e Pe. Mário José de Meneses (1929-1993), vigário de Barras por mais de 25 anos (29/02/1962 a agosto/1987), foi o responsável pela construção da nova igreja, de frente voltada para o nascente. Realizou obras sociais e no campo da educação. Sua memória ainda é muito viva em Barras. Ao deixar a Paróquia de N. S. da Conceição, foi residir em Parnaíba, onde exerceu o cargo de vigário-geral da Diocese, no bispado de Dom Joaquim Rufino do Rego.
Em trabalho ainda inédito e em construção, referindo-me a Dom Joaquim Almeida, escrevi o seguinte:
“Já com experiência na área da educação, como auxiliar do bispo da Paraíba, ainda nos primeiros dias de sua gestão, adota providências para criar três escolas em Teresina, sede diocesana, e duas em Parnaíba, a mais importante cidade do estado, depois da capital.
Em 25 de março de 1906, portanto no primeiro ano de seu governo episcopal, criou o Seminário diocesano e, em anexo, um colégio diocesano. O primeiro se destinava à formação de sacerdotes católicos, e o segundo para a instrução formal de crianças do sexo masculino, que ainda nos dias de hoje presta relevantes serviços no ensino de nível fundamental e médio. Ainda é conhecido como Colégio Diocesano, embora seu nome oficial seja Colégio São Franscisco de Sales.”
No livro Joaquim (Fonseca Neto e Paulo Libório) consta que “a direção era anualmente mudada, tendo sido o padre Bianor Emílio Aranha (1906) o primeiro reitor do Seminário e diretor do Diocesano. Arnaldo Boson, em seu livro, nos informa que no ano seguinte “o comando seria entregue ao padre Boson”, meses depois de uma visita pastoral que o bispo fizera, em outubro de 1906, à paróquia sediada na cidade de Barras.
Segundo Arnaldo Boson, o Mons. Boson permaneceu à frente do seminário em parte do episcopado de Dom Joaquim e exerceu a direção do Colégio Diocesano “em dois períodos, tanto no bispado de dom Joaquim quanto no bispado de dom Severino, a partir da reabertura, em 1925, permanecendo à frente do educandário até a sua retirada para Parnaíba, em 1929”.
Em Parnaíba, no ano de 1929, foi nomeado primeiro capelão da Capela da Santa Casa de Misericórdia. Exerceu o cargo de inspetor federal de ensino, a partir de 1931. Pelo período de 16 anos, foi vigário e educador em Parnaíba.
Cego, aos 77 anos de uma vida dedicada à Fé e ao magistério, no dia 18 de outubro de 1945, Boson partiu ao encontro da luz que emana de seu Criador. Dias antes, mais precisamente no dia 8 de setembro do mesmo ano, ocorrera a instalação da Diocese de Parnaíba, a cuja solenidade festiva, presidida por Dom Severino Vieira de Melo, não pudera comparecer.
Encerrava-se a vida de um exemplar e virtuoso sacerdote e educador, cujas virtudes, ideário, metodologia pedagógica, caráter e perfil moral estão delineados na biografia bem redigida e de denso conteúdo, que lhe dedicou Arnaldo Boson Paes, após intensa e trabalhosa pesquisa.