Dílson Lages Monteiro, na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo, em 1993.
Dílson Lages Monteiro, na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo, em 1993.

Somos miragens

de sentimentos vagos:

O abraço do vento

na corrente do peito.

 

Somos miragens

de sonhos inacabados:

coração cortado

em folhas de papel

alumínio.

 

Somos o som dos sinos

nas torres das igrejas

sem saber aonde

a vibração vai levar.

 

Somos miragens

chamas de brasas

sonhos perdidos

que o tempo guardou.

 

Somos o grito vazio

da garganta das rochas

soprando no ouvido.

canções de ninar.

 

Somos o resto da noite

em sonhos adormecidos

e segredos a sete chaves.

 

Somos a poeira de livros velhos

em páginas amareladas

o amor alado do lado esquerdo

e o voo das garças na lama da nuvem.

 

Dilson Lages