Miragem, poema de Dílson Lages
Em: 18/05/2025, às 00H07

Dílson Lages Monteiro, na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo, em 1993.
Somos miragens
de sentimentos vagos:
O abraço do vento
na corrente do peito.
Somos miragens
de sonhos inacabados:
coração cortado
em folhas de papel
alumínio.
Somos o som dos sinos
nas torres das igrejas
sem saber aonde
a vibração vai levar.
Somos miragens
chamas de brasas
sonhos perdidos
que o tempo guardou.
Somos o grito vazio
da garganta das rochas
soprando no ouvido.
canções de ninar.
Somos o resto da noite
em sonhos adormecidos
e segredos a sete chaves.
Somos a poeira de livros velhos
em páginas amareladas
o amor alado do lado esquerdo
e o voo das garças na lama da nuvem.
Dilson Lages