Minha formação (3)
Por Cunha e Silva Filho Em: 03/04/2015, às 17H52
“Seek knowledge wherever you are”
Cunha e Silva Filho
A par de A. Tito Filho, no curso científico, tive o prazer de ter sido aluno, não tão brilhante, de professores como o Lapa (de matemática), figura extraordinária de mestre, Edgar Tito de Oliveira (também de matemática, irmão do Lysandro Tito de Oliveira). Este último era competentíssimo, mas exigente ao extremo. Uma vez, confessar à minha turma que seria militar do Exército, provavelmente um general, pois cursara a Escola de Oficiais mas, por problemas de saúde, não poderia seguir a carreira militar. Grande inteligência não lhe faltava.
Mais tarde, descobri que era uma alma boa e simples oculta naquela fisionomia séria, muito irônica durante as aulas. Fui aluno do professor Cordão, que era oficial do Exército. Lecionava química. Bom professor, dava boas aulas. Foi pena que não pudesse corresponder à altura das suas aulas, pois não era forte nas disciplinas exatas.. A madame Helena, conhecida mais por Madame, era casada com um médico veterinário francês e por certo o convívio dela com um falante nativo muito a auxiliou a dominar a língua de Racine. Lecionou-me francês. Tempos depois, já falecido o marido, ela deixara Teresina e , com sua filha, que foi colega de turma de minha irmã Sonia, mudou-se para Belo Horizonte.
Assim me contou alguém. Não tive mais notícias da ilustre professora. Outro professor no Liceu Piauiense de alta capacidade que tive foi Camilo Filho, que me lecionou história geral. Suas aulas eram prazerosas e instigantes.
Tive outros professore mais novos de física, de literatura brasileira. Era um jovem senhora recém-admitida ao Liceu. Possuía boa didática e gostava de que preparásems uma exposição oral sobre um tema pré-selecionado. Uma vez, fiz uma exposição. Cria que me saíra bem, mas um colega metido a engraçado me fizera um reparo: "Você repete muito a expressão "né em sua apresentação. Não gostei da sua crítica.
A professora - lamento não me lembrar do nome dela - apenas observava sem fazer comentário algum. Naquela época, já cursava o 3º ano científico e, fora do Liceu, já me inciara a escrever desde os quinze ou dezesseis anos pra jornal local. Assuntos dos meus artigos: esboços de contos e outros temas, sobretudo falando de períodos da literatura brasileira, alguma tradução de poemas do inglês e francês. Foram uns dois ou três e até textos de autor francês. Foi neessa época do último ano do científico que coloquei no jornal Estado do Piauí um anúncio em inglês me oferecendo pra dar aulas particulares de inglês e francês em minha casa. Apareceram alguns alunos que me renderam alguns trocados.
Naquela época, o ensino de idioma moderno ainda se pautava nos moldes tradicionais, i.e., na leitura e tradução ou versão e as aulas eram dadas em português. No caso da Madame, era diferente; de certo modo, ela seguia o que chamamos hoje vou usar o tipo de abordagem no ensino de idiomas - de “comunicative method”, ou seja, ao aluno importa aprender a língua com ênfase na conversação, sendo não recomendável, exceto no início dos estudos, explicar a gramática no idioma estrangeiro. Não foi só a Madame quem utilizava, naquela época, década de cinquenta e sessenta do último século. O professor Alcobaça também a empregou nas suas aulas de espanhol. Da mesma maneira, a usou a professora Cristina Leite.
A abordagem, utilizada no ensino de línguas modernas, nos anos 30, 40 e 50 do século passado, no país, fora iniciado pelo Externato Pedro II. Era a grande novidade que, como já acentuei antes, se fundamentava no ensino do idioma estrangeiro pelo idioma estrangeiro. Chamava-se “direct method.” No Colégio Pedro II fora introduzido graças ao seu diretor de então, Henrique Dodsworth, por influência do filólogo professor Delgado de Carvalho e, segundo nos informa o eminente professor de línguas, Júlio Matos Ibiapina, “...com o apoio do ministro Francisco Campos, sugestionado provavelmente pelo seu chefe de Gabinete, professor Lourenço Filho.”(1)
O “direct method” já havia tido sucesso pela Europa e, no Brasil, o professor Júlio Matos Ibiapina, que fizera estudos profundos naquele continente, respectivamente, França, Inglaterra e Alemanha, foi um dos seus seguidores, inclusive publicando seus admiráveis livros didáticos, sobretudo de inglês e francês, obras que vim a conhecer na “Quarto-Biblioteca” de meu pai e que li na sua quase totalidade.Todavia, em alemão não parece que tenha escrito nenhum livro didático, mas apenas uma tese para professor catedrático de alemão pela Congregação do Colégio Militar do Rio de Janeiro, intitulada Construção alemã (1921)
Por outro lado, o “direct method” exigia muito do professor, principalmente fluência e contato com a língua no país de origem. A dificuldade de se implantar tal método residia no fato de que a maior parte dos docentes não tinha tanta fluência nessas línguas e, além disso, com turmas numerosas, que é o caso da maioria do professorado, era bem mais difícil aplicar tal abordagem de ensino. Houve até autores que empregaram essa abordagem chamando-a de “semi-direct method”, como fez a autora didática de origem francesa mas radicada em Porto Alegre, muito conhecida nos de 1930 e 1940, Suzanne Burtin Vinholes. Pelo “direct method”, o livro todo seria escrito no idioma estrangeiro, ao passo que, no “semi-direct method”, a obra era, no nível elementar, , quanto à gramática, escrita em português.
Já na abordagem “communicative method,” a exigência de a obra ser escrita na língua estrangeira é obrigatória e a diferença quanto ao “”dirrect method”, era que neste a ênfase se punha na comunicação, na conversação, no diálogo, sendo a gramática limitada ao essencial por isso instrumentos adicionais são necessários ao docente, tais como gravações dos diálogos falados por nativos da língua estudada, filmes, encenação, em suma, todas as quatro habilidades - conversação, leitura, escrita e compreensão. A tradução é evitada ao máximo e proibida nos níveis avançados.
Quando me aposentei pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro, em 2010, como professor concursado titular de língua inglesa, empregávamos o a abordagem “communicative method,” quer dizer, as aulas eram dadas somente na língua inglesa e havia boa realia de que dispúnhamos para ministrar nossas aulas. Os professores eram muito exigidos pela coordenação da sessão de inglês e ali passei um bom período onde desenvolvi muito a minha experiência no ensino da língua inglesa, especialmente por que o corpo docente era e é de alta competência.
No meu tempo do ginásio e mesmo do científico, em Teresina não haavia ainda fundado cursos de idiomas nos moldes que hoje temos em abundância pelo país aforaa: IBEU, Cultura inglesa, CCAA, Wizard, Fisk etc. Quem desejasse, por inclinação do espírito, aprender línguas tinha que se contentar com as aulas nas escolas e com os filmes falados em inglês, francês, espanhol, italiano com legendas em português, exibidos nas sessões matinais ou vespertinas do Rex e Theatro na Praça Pedro II.
Qualquer americano ou falante de inglês seriam bem-vindos à juventude ávida de dominar línguas. Eu fui um desses jovens. Houve um tempo, nos anos de 1960, em que havia freiras americanas prestando serviços religiosas em Teresina e algumas delas aproveitavam também para ensinar piauienses.Houve um tempo , na Teresina dos anos 50 do século passado, que militares americanos ficaram um tempo instalados em Teresina, em missão do governo americano, talvez a serviço da Aliança para o Progresso. Eles, no entanto, homens altos alguns, me pareceram mujto sisudos e , para a minha visão de menino curioso, apenas ficava olhando-os de longe sem deles me aproximar. moravam na mesma rua que eu, no centro de Teresina, num casa enorme de esquina , que dava para o lado direito do largo da Igreja de São Benedito. Eu era menino e não havia ainda entrado pro Ginásio.
Lamento até hoje não me ter me preparado, com aulas particulares, mais em francês, inglês e espanhol com os professores de que então dispúnhamos, dos poucos que eram fluentes em inglês, como o meu querido professor Viveiros. Para isso, teria que falar com meu pai e isso dependia também do tempo e disposição dos professores. Em casa, com meu pai não dialogávamos em francês; apenas líamos muito e até discutíamos melhor forma de traduzir alguns parágrafos na preparação de suas aulas de francês no “Domício”. Ela tinha mais proficiência na leitura, assim como no italiano, línguas que aprendera quando aluno salesiano(Colégio Salesiano de Niterói, Rio de Janeiro) e São Paulo (Seminário Lavrinhas). Seus colegas internos eram nativos da línguas italiana. Sempre fora aluno excelente na juventude e perdera a fluência ao regressar para Amarante onde não tinha com quem encetar conversações nas duas línguas que aprendera, francês e italiano.