MEU NOVO LIMOEIRO
Por Antônio Francisco Sousa Em: 02/07/2010, às 18H52
Meu primeiro limoeiro foi, para todos que o viram em sua viçosa exuberância, uma belíssima árvore frutífera.
Largo, robusto, forte, frondoso, de boa estatura e sempre verde, ele, até seus últimos dias, serviu com prazer e, humildemente, de esconderijo, repasto e repouso para rolinhas, pardais, beija-flores e, às vezes, mesmo a bem-te-vis que, ao que parece, costumam preferir as copas das árvores de grande porte ou os fios condutores de energia elétrica, quando aquelas não são tão abundantes, para descansarem enquanto entoam seus singulares cantos.
Não havia distinção de tempo bom ou ruim para meu querido limoeiro: seus frutos podiam ser colhidos em qualquer estação; suas flores, por vezes, extemporâneas à época primaveril, eram um bálsamo para nossos olfatos.
Certo dia comecei a perceber, no alto do cocuruto de meu limoeiro e também na parte central de sua copa, que alguns de seus galhos começavam a secar. Com muito esforço, por conta de sua considerável envergadura, dos fortes e compridos espinhos, retirava a parte necrosada, porém, logo em seguida, outras surgiam em diferentes lugares.
Disse-me um amigo agrônomo que meu limoeiro havia sido infectado por um tal de pulgão, um maldito tipo de parasita, cujo maior hobby e prazer é sugar, devagar e, permanentemente, a vida da árvore em que passa a residir, até a matar.
A partir daquela triste constatação, cheguei à conclusão de que, não somente o homem mata, por matar, seres indefesos ou que mal nenhum lhe causam, na natureza, outros animais fazem o mesmo.
O técnico limitou-se a me recomendar alguns medicamentos paliativos, eis que, no seu entendimento, meu velho companheiro estava com os dias contados.
Dito e feito. O definhamento se fez a olhos vistos e, rapidamente. Todavia, até que a falência viesse por completo, ele ainda nos deu belas cargas de suculentos limões. Mas, de fato, não resistiu por muito tempo. A cada dia ficava esquálido, raquítico, literalmente, seco. Tanto sofrimento me levou a imaginar uma radical decisão: pensei em cremá-lo e, assim, ao passo em que mitigava suas dores, que deveriam estar insuportáveis, acabaria com a praga causada por aquela raça de amaldiçoados pulgões. Retrocedi e resolvi arrancá-lo do lugar onde vivera tantos anos. Preencheria aquele buraco no chão com saudade, nada mais. Ledo engano, dias depois de sua total extração e antes de ter tomado qualquer posição sobre o que fazer com a área vazia, diversos brotinhos, filhotes do meu velho limoeiro, ocupavam o espaço deixado por seu saudoso pai. Distribui as mudinhas entre os principais amigos e fiquei com algumas. No afã de protegê-las de possível contaminação pela mesma praga que vitimou seu pai, durante algum tempo, desinfetei, adubei e preparei o local em que nascera e morrera meu velho pé de limão, e para onde deveria transferir seus herdeiros, quando estivessem taludinhos. Meses depois e já grandinhos, coloquei as plantinhas em seu novo lar. Foi um dia de muita alegria.
Alguns anos se passaram e, certa feita, um dos amigos a quem oferecera um dos limoeirozinhos, presenteou-me com alguns limões, não muito grandes, é verdade, mas que, segundo ele, faziam parte da primeira carga do filho do meu velho e querido limoeiro. Que sensação maravilhosa se abateu sobre mim naquela ocasião.
O limoeiro que escolhi para substituir o que se fora está, hoje, maior do que seu pai no auge da juventude e tão bonito quanto. Ainda não deu cargas como as mais fartas que seu velho dera, mas é só uma questão de tempo, não tenho dúvida.
Não sei se as rolinhas, os pardais, os beija-flores e os bem-te-vis que nele pousam para descansar ou fazerem seus ninhos são parentes das aves que se serviram dos galhos fortes, da boa copa, da sombra e do aconchego de seu pai. Isso não tem importância. O importante é que a vida continua e a história também, para mim e meu novo limoeiro.
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal
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