Lendas do Piauí (Brasil)
Por Flávio Bittencourt Em: 28/04/2014, às 16H27
[Flávio Bittencourt]
Lendas do Piauí (Brasil)
Eneas Barros recontou algumas delas.
28.4.2014 - F.
"Lendas do Piauí
LENDAS DO PIAUÍ Extraídas do livro “Piauí, Terra Querida”, de Eneas Barros. Edição SENAI, Brasília. Gráfica Ipiranga, 2007. Em caso de uso, solicitamos a citação da fonte. O CASTELO ENCANTADO Os mais aventureiros haverão de achar a experiência fascinante, principalmente se pretenderem conhecer a Pedra do Castelo de ônibus, partindo dão Terminal Rodoviário de Teresina. A aventura é meio selvagem, porque nas proximidades do atrativo não há infraestrutura. A cidade de Castelo dista Em um desses salões existe um cemitério de “anjinhos”, somente crianças, com várias cruzes espalhadas pelo chão, além de ex-votos de pessoas que ali fazem suas promessas. Em outro salão existe um oratório com a imagem de uma santa que, segundo contam, não se sabe como aparecer por lá. Na verdade, a Pedra é um verdadeiro monumento sagrado, com muitas velas e onde todos os anos milhares de fiéis fazem as suas penitências, No dia 2 de novembro, diversas pessoas se deslocam até lá para rezar, comer e beber a noite toda. A atmosfera pesada e o cheiro de suas grutas completam os mistérios que ali são abrigados. A luminosidade é fraca, porque não há propagação da luz. Entre seus inúmeros labirintos existe uma passagem que dá acesso ao topo do Castelo, onde é possível apreciar a paisagem que circunda a pedra encantada. Ao visitar a Pedra do Castelo, solicite a algum morador das proximidades que sirva de guia, porque assim é possível conhecer melhor os seis mistérios e garantir o acesso a todas as suas dependências. Em castelo há opções para refeição. Procurar se informar a respeito, e aproveite para conhecer um pouco a cidade, depois dessa fascinante visita a um dos mais belos atrativos do Piauí. A Lenda do castelo Era uma vez um rei que morava em um imenso castelo de altas torres. Costumava promover festas, que se transformavam em grandes orgias, para as quais convidava moças e rapazes bonitos, muitos vindo até do exterior. Na verdade, as festas eram parte de um ritual sanguinário, pois acabavam em carnificina, já que o reio mandava matar todos os seus convidados. Um dia, Deus resolveu castiga-lo e mandou um anjo, disfarçado em um jovem mancebo, participar de um desses encontros. O anjo assistiu a tudo, e na hora dos assassinatos transformou o monarca, os convidados e o castelo em pedra. Até hoje, nas noites de lua cheia, ouve-se a melodia dos violinos e vê-se o reflexo das velas que iluminavam o castelo que, encantado, recupera vida com a luz da lua. PÉ DE JESUS No centro da cidade de Oeiras existe uma pedra fincada no chão, que traz sobre ela a marca de um pé esquerdo. Dizem que é a marca do pé de Jesus, e por isso os moradores fiéis ali vão rezar, acender velas e fazer as suas penitências. Ao lado está a sepultura do diabo, já soterrada pelas pedras jogadas por esses mesmos fiéis. Portanto, quem visita o local acende uma vela a Jesus e joga uma pedra no diabo. O ANEL DE SÃO GONÇALO São Gonçalo possuía um anel muito bonito e bastante cobiçado. Quando morreu, os seus restos foram levados para Roma por bispos locais. Quando o corpo chegou ao seu destino, todos queriam conhecer o tão famoso anel, mas frustraram-se porque não havia nada no dedo de São Gonçalo. Interrogados sobre o destino do anel, os bispos responderam que estava guardado no lugar Pedra Dela, NUM-SE-PODE É uma lenda tipicamente teresinense. Conta a história de uma linda mulher que, tarde da noite, aparecia na praça Saraiva ostentando sua beleza debaixo de um dos lampiões ali existentes. Movidos por aquela bela aparição, os homens se aproximavam para conversar ou, quem sabe, aventurar mais uma conquista. Ao chegarem perto, a linda mulher pedia-os cigarro, e quando recebia começava a crescer, crescer, até atingir o topo do lampião de gás e nele acender o cigarro. Enquanto crescia, ela repetia: “num-se-pode, num-se-pode, num-se-pode...” O grupo musical Candeia, hoje extinto, gravou uma música com o tema da Num-Se-Pode. Eis a letra: “À meia-noite, sem ser lobisomem / Num-Se-Pode é assombração / Ela me pede um cigarro sorrindo / Como quem quer pegar na minha mão / Ela me pede meu fogo sorrindo / Mas eu não quero aproximação / No pé do poste é moça bonita / Mas se estica até o lampião / Assusta até os cabra macho do sertão / Num-Se-Pode pode ser que seja / Uma donzela de bom coração / Num-Se-Pode pode ser que seja / Desencantada por uma paixão / Num-Se-Pode pode ser que seja / Talvez a dona do meu coração”. Autores: Zé Rodrigues e Rubeni Miranda. MIRIDAN Era a mais bela jovem da tribo dos Acaroas, que habitava as margens do rio Paraim. Por ter sido escolhida dos deuses, Miridan nunca poderia se casar. Somente o velho pajé Piauiguara sabia que, se Miridan conhecesse o amor, ela teria um membira (filho, na língua Tupi) que não poderia sobreviver. E assim aconteceu. Não sabendo como esconder o filho desse amor, e com medo de que o mesmo fosse sacrificado, Miridan colocou-o num tacho e soltou a pobre criança nas águas do rio Paraim. A natureza se revoltou, o céu ficou escuro e fez descer um corpo estranho que penetrou na terra e abriu uma enorme fenda, por onde jorrou muita água, até formar uma grande lagoa. É hoje a chamada lagoa de Parnaguá, localizada no sul do Piauí. Depois de todos esses acontecimentos, Miridan, com saudades do filho, se jogou na água para ficar junto dele. Segundo a lenda, o membira habita o fundo da lagoa e é protegido pelas iaras. De lá, ele só sai nas tardes de março, para anunciar o inverno em Parnaguá. Como não diz uma palavra, conta a lenda que no dia em que falar será enviado de Tupã para prever o fim do mundo. Você sabia que a lagoa de Parnaguá tem 98 km2 de superfície ( Parnaguá vem do tupi “Paranaguá” e significa “enseada do mar”. O jornalista piauiense Joaquim Nogueira Paranaguá, citado por Bugyja Britto in “Miridan”, traduziu como “semelhante a um mar redondo”. CABEÇA-DE-CUIA Crispim era um pescador que vivia da pesca nas águas do rio Parnaíba e habitava as suas margens, nas imediações em que o rio recebe as águas do Poti, zona norte de Teresina. Morava com a mãe, já velha e adoentada. Cetra vez, depois de passar um dia inteiro sem nada conseguir pescar, Crispim volta para casa cheio de frustração e revolta. Pede à mãe alguma coisa para comer, e esta lhe serve o que tinha: uma rala sopa de osso. Irritado, Crispim grita que aquilo é comida para cachorro, e em seguida pega o osso e parte para cima da mãe, atingindo-a várias vezes. Desesperado, o pescador sai correndo porta afora e joga-se nas águas do rio, enquanto a mãe, agonizando, lança-lhe uma maldição: haverá de se transformar em um terrível monstro, que só descansará quando lhe forem sacrificadas sete virgens chamadas Maria. Crispim se transforma no Cabeça-de-Cuia, que surge do fundo das águas para assustar as lavadeiras e ameaçar os pescadores que pesquem em excesso, além do que precisam. Dizem que, durante a noite, o Cabeça-de-Cuia se transforma num velho e sai vagando pelas ruas de Teresina. A PORCA DO DENTE DE OURO Era alta madrugada em Teresina quando surgiu, pelas ruas da cidade, uma por correndo em disparada. Havia um forte brilho em sua boca, vindo de um grande dente de ouro. Sempre na calada da noite, assombrava as pessoas dos subúrbios. Segundo a lenda, a porca teria sido gerada de uma filha que espancou a própria mãe, num acesso de histerismo. ZABELÊ O chefe da tribo dos Amanajós tinha uma filha chamada Zabelê, que amava Metara, um índio da tribo dos Pimenteiras, terríveis inimigos dos Amanajós. Dizendo que iria colher mel perto de onde o rio Itaim deságua no rio Canindé, Zabelê aproveitava para se encontrar com o seu amado Metara. Um dia, um índio chamado Mandahú, da tribo dos Amanajós, desconfiou daquelas andanças e resolveu seguir Zabelê, descobrindo o seu esconderijo. É que Mandahú era apaixonado por Zabelê, e não suportava o seu amor não correspondido, principalmente porque se via preterido por um inimigo. Certa vez, Mandahú resolveu levar algumas testemunhas para desmascarar Zabelê. Os dois amantes foram descobertos, surgindo uma briga que resulta na morte de Zabelê, de Metara e de Mandahú. O fato deu origem a outra guerra, que durou seis sós e sete luas. Mas Tupã teve pena dos dois amantes e resolveu transformá-los em duas aves, que andam sempre juntas e cantam tristemente ao entardecer. Mandahú foi castigado e transformado em um gato maracajá, eternamente perseguido pelos caçadores por causa do valor de sua pele. Zabelê ainda hoje canta a tristeza de seu amor infeliz. “De pés vermelhos e de corpo quase todo vermelho, a primeira impressão (...) é de que se trata da juriti-piranga; e, como o seu canto é de uma nostalgia e ternura inigualáveis, ainda mais se positiva a impressão de que ela é a juriti-piranga. Entretanto, é muito maior do que a juriti; o seu tamanho aproxima-se mais de uma inhuma ou de um mutum; sendo assim mais desenvolvida, a natureza lhe permitiu o hábito de andar pelo chão, de caminhar ou correr comumente pelo solo (...) Para voar (...), primeiro corre num descampado de Bugyja Britto, in “Zabelê” Você sabia que algumas pessoas identificam a Zabelê com a Sabiá, um pássaro que canta com muita nostalgia? Segundo Bugyja Britto, a lenda de Zabelê aconteceu a poucos quilômetros de Oeiras, exatamente na confluência dos rios Itaim e Canindé. Consulte o mapa na página, para situar melhor a região. Música de Gilberto Gil e letra de Torquato Neto, 1966 ZABELÊ Minha sabiá Minha zabelê Toda meia-noite eu sonho com você Se você duvida, eu vou sonhar pra você ver Minha sabiá Vem me dizer, por favor O quanto que eu devo amar Pra nunca morrer de amor Minha zabelê Vem correndo me dizer Por que eu sonho toda noite E sonho só com você Se você não me acredita Vem pra cá, vou lhe mostrar Que riso largo é o meu sonho Quando eu sonho com você Mas anda logo Vem que a noite já não tarda a chegar Vem correndo pro meu sonho escutar Que eu sonho falando alto Com você no meu sonhar" (http://www.piaui.com.br/turismo_txt.asp?ID=462)