LEMBRANÇA DE BATISTA COSTA
Por Elmar Carvalho Em: 25/12/2011, às 07H53
ELMAR CARVALHO
Neste final de tarde chuvosa e fria de Regeneração, evoco a figura de João Batista Costa, sobre o qual me referi no último registro deste diário. Quando meu pai assumiu a chefia da ECT em Parnaíba, no primeiro semestre de 1975, ainda o encontrou como funcionário dessa repartição. Era ele remanescente do antigo DCT – Departamento de Correios e Telégrafos. Não tendo optado pelo regime trabalhista (CLT), na mudança organizacional dessa repartição da administração direta federal para ser uma empresa da União, aposentou-se como funcionário estatutário, sob o regime da Lei nº 1711, a fim de não perder a estabilidade funcional.
Após o curso de monitor postal no Recife, no Centro de Treinamento Correio Paulo Bregaro, e depois de ter trabalhado por mais de ano em Teresina, fui removido, através de permuta, para Parnaíba, a fim de cursar Administração de Empresas na UFPI, Campus Ministro Reis Velloso. Exercendo minhas atividades postais, via, quase diariamente, no prédio dos Correios, o saudoso amigo João Batista Costa. É que ele, apesar de já aposentado, vinha receber as correspondências destinadas a moradores do povoado Morros da Mariana, que na época não tinha posto de correios e nem linha regular de ônibus.
Nessa época, a cidade de Parnaíba tinha três Batistas, que mais se destacavam. Batista Leão, jornalista, diretor da rádio Educadora, a mais antiga emissora do Piauí, e do jornal Folha do Litoral, do qual fui colaborador, sobretudo na qualidade de poeta; Batista Silva, também jornalista, que foi eleito prefeito do município, e se tornou impopular, mormente por ter destruído a antiga e graciosa Praça da Graça, que agora passa por ampla restauração; e o saudoso Batista Costa, que fora vice-prefeito, na gestão de Elias Ximenes do Prado. Homem bom, correto, cordato, cordial, bem-humorado, católico praticante, era uma personalidade querida na cidade de Parnaíba e em Morros da Mariana, onde nascera.
Era sempre com um amplo sorriso, com sua voz potente, de timbre agradável, quase de tenor, com uma leve tonalidade metálica, vibrátil, que me cumprimentava, ainda na primeira parte da manhã, chamando-me de professor, profissão que venero, mas que, a bem dizer, nunca exerci, a não ser precariamente, durante curtíssimo período. De forma efusiva e alegre, eu lhe correspondia ao cumprimento, enquanto entabulávamos breve conversação, sem o menor resquício de ressentimento por causa de nossas discussões veementes nas reuniões dos padres redentoristas, conforme assinalei no registro anterior.
Quase toda semana, ele me emprestava os seus velhos discos de vinil, com músicas executadas por grandes orquestras americanas e nacionais, as chamadas big bands. Em troca, eu lhe repassava os discos que eu vinha comprando, com execuções desse mesmo gênero musical. Nesses vinis pontificavam as orquestras de grandes maestros, como Billy Vaughn, Glenn Miller, Ray Conniff e outros bambas da harmonia musical, além de trilhas sonoras de filmes que marcaram época, mormente dos gêneros dramático e épico.
Certo dia, tomado de entusiasmo e alegria musical, quase como se fosse um garoto, Batista Costa, dando à voz uma semelhança de saxofone e trompete, imprimindo-lhe um timbre nitidamente metálico, executou a música Tema de Lara, para que eu me recordasse dessa melodia. Sempre que ouço essa música ou revejo o filme Doutor Jivago, recordo esse amigo que partiu desta vida um tanto precocemente. Aliás, os verdadeiros amigos sempre se vão cedo demais. Mas, como disse, num de meus poemas, meus amigos mortos me acompanham cada vez mais vivos.