Cunha e Silva Filho


              As minhas lembranças de leitor de colunas de autores, regionais ou nacionais, que estimava com certeza não foram as mesmas de outras leitores da minha geração. No meu caso particular, remontam aos jornais de Teresina a partir principalmente na década de 1960.
Na realidade não me ligava muito a leituras de jornais, mas a de livros, revistas em quadrinhos e até fotonovelas.No entanto, me lembro de que o primeiro colunista que tive a honra de ler fora o meu próprio pai.                 Eu tinha uns catorze anos e lia os seus artigos estampados em O Dia, de Mundico Santilho, o diretor e proprietário que, segundo meu pai, estivera uns tempos na Alemanha. Santilho tinha um defeito numa das mãos, ou em ambas, não me recordo bem. Na mocidade, dizia-se que era um jovem de boa aparência.
Gordo, carequinha e, embora me parecesse sério, era pessoa simpática.Muitas vezes, ao buscar as provas de um artigo de papai, na sala de impressão do jornal, ele se mostrava sem camisa, provavelmente devido ao calorão teresinense.Meu pai me dizia que ele ainda falava um pouco o alemão. Sempre que possível, meu pai me mandava lá, ou para buscar a prova do artigo, ou pra devolvê-la ao jornal.
              Quem escreveu muito também nesse jornal foi o meu antigo professor de literatura, o A. Tito Filho, famoso por suas boas aulas que cativavam os estudantes. Anos depois, com ele meu pai travou uma breve mas célebre e acirrada polêmica. Creio que saiu vencedor meu pai, espírito inclinado às refregas políticas e dotado de uma veia satírica incomum. Ambos, todavia, poucos anos depois, creio, reataram a amizade.
            Mais tarde, li colunistas da página de Literatura do jornal, se não incorro em erro, Folha da Manhã. Neste jornal e em outros colaborei com artigos juvenis. Li, em tão, artigos de escritores e intelectuais de renome, como Celso Barros Coelho. Depois que vim para o Rio de Janeiro, estimulando sempre por meu pai, retomei a escrita de artigos sobre literatura e publiquei umas duas ou três traduções do inglês e do francês. Naquela época, gostava de ler a revista O Cruzeiro e três colunistas me prendiam a atenção: Rachel de Queiroz, na coluna chamada, se não me falha a memória, “A Última Página,” Gilberto Freyre e Austregésilo de Athayde, com a sua coluna Vana Verba. Em Teresina, ainda li uns poucos artigos de Tristão de Athayde. Da mesma sorte, me deliciava com as histórias do cartunista Péricles de título “Os Amigo da Onça.”
             Na verdade, a minha maior constância de leituras se deu mais tarde, após a minha chegada ao Rio, em 1964 – data, para mim, que abre uma nova fase de minha vida em todos os sentidos. Daí em diante, comecei a ler colunistas do Jornal do Brasil, do Correio da Manhã, do Diário de Notícias. Mais tarde, da Última Hora, do Globo, Tribuna da Imprensa.
            No Jornal do Brasil, tornei-me assíduo da coluna de Tristão de Athayde, por seus temas políticos enfocando o período difícil da Ditadura Militar, de temas filosóficos e sobretudo literários.Deste jornal me fascinaram também os artigos de Moacyr Werneck de Castro; mais tarde, as crônicas do poeta Carlos Drummond de Andrade,de José Guilherme Merquior (já na época do caderno Ideias) e, nos últimos dias do jornal, os duríssimos artigos de Fausto Wolff, sobretudo do lamentável “Escândalo do Mensalão,” Durante muito tempo, lia também os artigos bem feitos do arcebispo Dom Eugênio Sales. Do Globo, estimava ler Otto Lara Resende, com as suas crônicas cheias de variações temáticas, assim também li por muito tempo as de Fernando Sabino; mais tarde, estive lendo, por algum tempo, o ficcionista João Ubaldo.
           Do Correio da Manhã, os artigos de Carlos Heitor Cony, que me agradavam muito mais do que os que vêm escrevendo, nos dias de hoje, na Folha de São Paulo. Da Última Hora, lia com prazer uma colunista muito polêmica, Sandra Cavalcanti, que escrevia com perfeição, o crítico literário e historiador Afrânio Coutinho (sobretudo tratando de teoria literária, crítica literária e assuntos mais gerais). Costumava ler, na Tribuna da Imprensa, os a longos e incisivos artigos de Hélio Fernandes. Anos mais tarde, lia com muito proveito a coluna de José Guilherme Merquior.
          No Rio de Janeiro, por muito tempo, lia o prestigioso Jornal de Letras, dos irmãos Condé. Foi, então, que passei a admirar os bons ensaios de Assis Brasil, publicados mensalmente, na sua coluna sobre literatura brasileira que se ocupava de autores brasileiros novos   e velhos, em ensaios longos, publicados em sequência, bem como autores de grande relevo que lá colaboravam. Esse mensário faz falta hoje em dia. O que o substituiu, com o mesmo nome, em termos de qualidade, está muito longe de atingir o alto nível do antigo Jornal de Letras.
     Atualmente, leio dois jornais, a Folha de São Paulo, aos domingos e o Globo (aos sábados), principalmente porque  são jornais que, felizmente, ainda oferecem, no Rio, páginas falando de literatura e cultura em geral. Como não alardeio que leio vários jornais( ?) completo leituras pela internet. De colunistas do primeiro, li muito Elio Guaspari, Jânio Freitas, Carlos Heitor Cony, Marcelo Glazer, e Ferrira Gullar; do segundo, leio, sobre política, Merval Pereira, toda a página de Opinião, as crônicas de Zuenir Ventura, os bons artigos de Cristóvam Buarque, de Ségio Magalhães sobre arquitetura e urbanismo, as colunas de José Miguel Wisnik e de Arnaldo Bloch. Obviamente, leio outros colunistas, mas sem uma frequência maior. Omissões certamente as fiz. Sei que o leitor de colunas, eu, pelo menos, às vezes deixa a desejar, ou seja, deveria ser mais assíduo com muita gente que merece nosso tempo de leitura de um jornal.O ideal do bom leitor, de jornal ou não, é ler tudo, sem preconceitos, porquanto é na variação das leituras que se vai sedimentando a cultura do indivíduo.Todavia, entre o ideal da leitura intensiva e extensiva e o leitor há algumas barreiras: tempo, outras obrigações, saúde, vista boa e paciência.