Lançamento de Poemitos da Parnaíba

 Elmar Carvalho


Quando as coisas têm que dar certo, até o acaso parece conspirar para isso. Certo dia, encontrei-me com o advogado Valdeci Cavalcante, que havia sido meu professor no curso de Direito da UFPI, nas escadarias do Tribunal de Justiça, por pura casualidade. Aproveitei para lhe entregar meu livro PoeMitos da Parnaíba, que por sorte conduzia em minha pasta, junto a papéis da burocracia oficial. Espontaneamente, sem nenhuma insinuação de minha parte, ele me perguntou se eu não gostaria de lançá-lo em Parnaíba, através do SESC, pertencente ao sistema FECOMÉRCIO, do qual é ele dinâmico presidente. Diante disso, fiz os devidos contatos com a equipe da instituição em Parnaíba, através da coordenadora de eventos, Lili Machado, e tudo aconteceu na mais perfeita ordem e organização, de acordo com o que fora planejado. Nessa empreitada, muito contribuiu o Fernando de Castro, irmão do genial chargista Gervásio Castro, autor das belas ilustrações dos poemas, tanto nos contatos comigo e com o SESC, como nos contatos entre este e seu irmão, bem como no assessoramento à confecção dos grandes banners, com os textos e as charges, que ficarão expostos na Galeria Carlos Guido até o dia 30 de setembro.
Lili Machado, Mestre Ageu, Elmar, Cego Bento e Janaína Sampaio
 

Vicente de Paula, Zé de Maria, Elmar e Cosme Sousa
O evento foi bastante divulgado pela equipe do SESC, através das emissoras de TV parnaibanas, dos portais e blogs noticiosos, de convites e folders, cabendo ressaltar a beleza e funcionalidade destes últimos. A TV Costa Norte fez uma excelente cobertura da exposição, dando-lhe um bom espaço, em que falei da concepção dos PoeMitos e de algumas figuras retratadas na obra. Recitei o poema Bar do Augusto, com que extemporaneamente encerrei essa série poética, ainda inédito em papel impresso, com o qual homenageei as figuras emblemáticas e legendárias de Dourado e dom Augusto da Munguba, templário mor do Recanto da Saudade. A Lili Machado complementou as minhas informações e acrescentou outras. A equipe dessa TV filmou minuciosamente os banners com os textos e as charges, para melhor ilustração da reportagem televisiva.
Flagrante da exposição
 
Janaína Sampaio, Fernando Gomes e B. Silva
Na noite de sexta-feira, dia 19, aconteceu o lançamento, com bela apresentação, seguindo roteiro bem elaborada pelo cerimonial. Segundo consta, de meus “poemitos” apenas três continuam vivos: Cego Bento, admirável sanfoneiro do mais legítimo forró pé de serra, Mestre Ageu, verdadeiro Pigmalião e mago da arte escultórica, e Bernardo Carranca, inenarrável e inimitável cantor/ator, mestre de improvisadas performances músico-teatrais. Os dois primeiros se fizeram presentes, e ficaram exultantes com as homenagens recebidas. A professora Rossana Silva, em gesto de profunda generosidade e compreensão humano, leu para o Cego Bento o poema em sua homenagem, e lhe descreveu a charge estampada no banner, em que ele surfa na crista de uma onda, ao som mágico de sua sanfona, em cuja ilustração não faltou o detalhe de um coco da praia e a elegância esbelta e flexível de um coqueiro. Quanto ao Marechal, existem muitas controvérsias e dúvidas sobre se morreu ou se está vivo; tenho para mim que ele ficou encantado, nem morto nem vivo, visível e invisível, num reino mítico, a ostentar seus galões, galardões e condecorações.
Alcenor Candeira Filho
Alcenor Candeira Filho, mestre da poesia e da prosa, inexcedível orador, excedendo-se a si mesmo, fez uma brilhante palestra sobre este poeta e sobre o autor das charges, Gervásio Castro, que telefonou do Rio de Janeiro, para dizer que estava num boteco, do qual já estava de saída para comparecer espiritualmente à solenidade, à qual gostaria de estar presente também de corpo. Mas estava bem representado por seu irmão Fernando de Castro, igualmente extraordinário chargista e artista plástico, além de arquiteto. Como eu estava dizendo, o Alcenor proferiu excelente improviso, com sua boa voz de dicção irretocável, em que teceu pertinentes comentários sobre os textos e as ilustrações, além de discorrer sobre a amizade que o liga fraternalmente ao poeta e ao chargista, há várias décadas. Em seguida, leu um texto que escreveu para o lançamento anterior, ocorrido há mais de ano, por todos aplaudido entusiasticamente. Na verdade não saberia dizer qual o melhor, se o texto escrito ou se a peroração ao sabor do improviso, em que não vislumbrei um único equívoco, titubeio ou gaguejar.
Idelmar Cavalcante Jr. e Rossana Silva
Rossana Silva, uma das melhores professoras de literatura de Parnaíba e do Piauí, e Idelmar Cavalcante Jr., professor de História, e grande contista, de vertente moderna, em que a narrativa e a descrição de cenários são diluídos e mitigados ao longo do texto, foram os responsáveis pela mesa de discussão denominada “Literatura e Oralidade: uma síntese poética dos tipos humanos da velha urbe parnaibana”. Rossana leu um texto escrito, na verdade um pequeno ensaio, em que ministrou lições de história da Linguística, empreendendo uma passeio no tempo, da antiguidade aos dias atuais, para demonstrar que PoeMitos da Parnaíba contém recursos da oralidade, e não apenas da linguagem escrita e culta. O professor Idelmar fez uma abordagem compatível com vertentes da historiografia contemporânea. Disse que o livro poderia ser útil a historiadores, vez que a História não deveria falar apenas das grandes personalidades, mas também das figuras miúdas, que compuseram o cenário humano de uma cidade, que contribuíram para a construção de uma cidade, através do trabalho, da arte, da cultura e até dos costumes, delineando a sua paisagem humana. Foi uma bela mesa de discussão, em que aspectos instigantes da oralidade foram abordados com percuciência e acuidade pelos dois conferencistas.
O ator Fernando Silva
Em suma, foi uma magnífica festa da literatura, como disse em minha breve fala, em que agradeci ao poeta Alcenor Candeira Filho por suas generosas palavras, que tanto emocionaram meus pais, especialmente meu genitor, de natureza acentuadamente emotiva, bem como à equipe do SESC, que se excedeu em cuidados para que a solenidade pudesse ter o brilhantismo que teve. De maneira especial cito os nomes de Janaína Sampaio, gerente do SESC/Avenida, de Lili Machado e do sonoplasta Manuel, aos quais agradeço pelo esmero na realização do evento e pela atenção que dispensaram a todos os convidados. A Janaína e a Lili tiveram todo o cuidado com o Cego Bento e Mestre Ageu, pessoas idosas, e dois dos maiores artistas populares de Parnaíba, sobre os quais já tive o ensejo de escrever também trabalhos em prosa, em que lhes abordei a vida e a arte.
Foi exibido o clipe Parnaíba no Coração, em que faço um depoimento de meus tempos e labutas na cidade, em que falo do meu encantamento pela paisagem do litoral piauiense e da importância das amizades que construí e conservo, e em que recito os meus poemas que enaltecem a velha urbe, com belas imagens citadinas e praianas. Como corolário da festiva noite de cultura, Fernando Silva apresentou uma performance de sua autoria, em que ele, travestido de jardineiro letrado e amante inveterado de livros, leu alguns PoeMitos e outros textos, com invulgar capacidade interpretativa, que bem revelou o competente ator que ele é.
Lili Machado, Diá, Fátima, Elmar e Sérgio Prado
Compareci acompanhado por meus pais, minha mulher, minha irmã Maria José, cunhada e dois sobrinhos. Vários amigos estavam presentes, entre os quais cito, numa enumeração apenas exemplificativa e incompleta: Canindé Correia, Vicente de Paula (Potência), B. Silva, Wilton Porto, Sérgio Ximenes do Prado e Cosme Sousa. Também compareceram vários confrades e amigos da Academia Parnaibana de Letras e do Instituto Histórico e Genealógico de Parnaíba, entre os quais ressalto Dilma Pontes e Dr. Carlos Araken, além do vereador e conterrâneo Fernando Gomes. Como se tudo isso não fosse o bastante, ainda foi servido lauto coquetel, com fartas e variadas iguarias, para deleite e confraternização dos convidados. Ou para escândalo de nossos estômagos, como disse o mítico Pacamão, em célebre carta dirigida a Dom Filipe Conduru Pacheco, primeiro bispo da Diocese de Parnaíba, comunicando o nascimento de uma das “edições” de seu amor, que ainda se encontrava em estado anônimo, aguardando a nomeação do registro público e da pia batismal.
Flagrante do coquetel