[Flávio Bittencourt]

Ivan Lessa não está mais entre nós

Não é difícil descobrir a razão pela qual este espaço de webjornalismo cultural entra em estado de luto.

 

 

 

 

 

 

 

 

"MILLÔR, CHICO, IVAN.

ME SINTO AMEAÇADO.

MINHA TURMA ESTÁ SE

DESPEDINDO"

(ZIRALDO, jornal Destak [DF],

segunda-feira, 11.6.2012, p. 6

http://issuu.com/destak_brasil/docs/sp_2012061121?mode=window&backgroundColor=%23222222)

 

 

 

 

"O BRASIL DEU NOVO PASSO EM

DIREÇÃO À MEDIOCRIZAÇÃO AMPLA,

GERAL E IRRESTRITA"

(GENETON MORAES NETO,

mesmo veículo, página citada)

 

 

  

 

"(...) Quero acreditar que a faina de revirar o passado da minha convivência com Ivan Lessa vai amenizar a dor pela perda do companheiro de redação e, principalmente, de cantina da BBC, onde, em grupo que variava de tamanho, diariamente almoçávamos, trocávamos ideias, ríamos, discutíamos e, por vezes, nos desentendiamos, quase sempre nesta ordem. (...)"

(RICARDO ACAMPORA, trecho de seu muito recente e

emocionado artigo, adiante transcrito, na íntegra) 

 

 

 

 

 

O LANTERNINHA, QUE CONDUZIA VOCÊ,

NO ESCURO DO CINEMA, ATÉ A SUA

POLTRONA (função profissional do passado,

citada por Ricardo Acampora em seu magnífico

artigo, adiante transcrito, sobre o Ivan Lessa)

 

 
usher animation

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.webweaver.nu/clipart/film2.shtml)

 

 

 

 

 

Azulão - Sandy Leah e Marcelo Bratke,

Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=-L0EGyDkfH0&feature=related

 

 

 

 

 

Fachada do Cine Rex, no Centro da Cidade do Rio, em 12 de março de 1981. (Foto: Frederico Secco - Agência OGlobo)

[http://www.historiadocinemabrasileiro.com.br/cine-rex-rio-de-janeiro-rj/]

 

 

 

 

 

"MAS... DEUS...

TAMBÉM IVAN LESSA?

SÓ FALTAVA ESSA, AGORA."

(O RESPONSÁVEL PELA COLUNA

"RECONTANDO ESTÓRIAS DO DOMÍNIO PÚBLICO")

 

 

  

 

Yo hice un gol en una final de la Copa del Mundo

Alcides Ghiggia,

Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=P0WUXJfILRA&feature=related

 

  

 

 

 

"LÁ SE VAI O IVAN LESSA DA

SENHOR, DO VELHO PASQUIM

E DA BBC BRASIL,

CARAMBA! "

(IDEM)

 

   

 

 

"AZULÃO

Composição: Jayme Ovalle e Manuel Bandeira

Vai, Azulão, Azulão
Companheiro, vai
Vai ver minha ingrata
Diz que sem ela o sertão
Não é mais sertão
Ai voa, Azulão, vai contar
Companheiro, vai"

(http://www.beakauffmann.com/mpb_a/azulao.html)

 

 

 

 

 

                              HORA DE MEDITAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA

                              DA OBRA JORNALÍSTICA E LITERÁRIA DO GRANDE ESCRITOR PAULISTANO

                              IVAN PINHEIRO THEMUDO LESSA (1935 - 2012), NO MOMENTO MESMO EM QUE

                              SE DEIXA REGISTRADO O AGRADECIMENTO A RICARDO ACAMPORA

                              PELO BRILHANTISMO E SENSIBILIDADE EXTERNADOS

                              EM SEU ARTIGO ARTIGO LUMINOSO PUBLICADO PELO PORTAL TERRA,

                              AO GRANDE SER URUGUAIO ALCIDES GHIGGIA, POR TER

                              ENSINADO A MEUS COMPATRIOTAS QUE EM 1950 VIVIAM  - E

                              COMPREENDIAM O SIGNIFICADO DE PERDER UMA COPA DO MUNDO "JÁ GANHA" -

                              QUE NÃO É POSSÍVEL VENCER SEMPRE,

                              AOS MUSICOS SANDY LEAH (canto) E MARCELO BRATKE (piano),

                             PELA INTERPRETAÇÃO DA MÚSICA AZULÃO,

                             DE JAYME OVALLE E MANUEL BANDEIRA,

                             AGRADECENDO, TAMBÉM, AO AMIGO DE INFÂNCIA - E COLEGA NOSSO,

                             POR UMA DÉCADA, NO PRIMÁRIO E NO GINÁSIO,  NO

                             COLÉGIO ANDREWS, DO RIO DE JANEIRO - RJ FREDERICO SECCO

                            (que tão bem fotografou o Cinema Rex, do Centro do Rio [E HOJE É PROFESSOR

                            DE FILOSOFIA DA UENF DARCY RIBEIRO, EM CAMPOS DOS GOYTACASES-RJ]),

                            OCASIÃO EM QUE TAMBÉM SÃO REVERENCIADAS

                            AS MEMÓRIAS DOS EMINENTES GENITORES DESSE

                            HIPERINTELIGENTE CRIADOR DE HUMOR,

                            QUE, DA MESMA FORMA QUE COM SEU FILHO ACONTECEU,

                            SÃO ESCRITORES MAIORES QUE HONRARAM

                            A CULTURA BRASILEIRA COM AS SUAS RESPECTIVAS OBRAS LITERÁRIAS,           

                            ORÍGENES LESSA E ELSIE LESSA - E ENVIANDO SENTIDOS PÊSAMES AOS

                            SEUS ENLUTADOS FAMILIARES

 

 

 

 

9.6.2012 - Lá se foi Ivan Lessa - Ivan Lessa vive!  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

"Ivan Lessa viveu apaixonado por um Rio que só existia em sua memória
09 de junho de 2012 16h43 atualizado às 18h03


O escritor na redação da 'BBC', onde trabalhou desde o ano de 1978, quando se mudou para Londres. Foto: Fernando Cavalcanti /BBC Brasil

O escritor na redação da 'BBC', onde trabalhou desde o ano de 1978, quando se mudou para Londres
Foto: Fernando Cavalcanti /BBC Brasil

 
Ricardo Acampora

Sempre temi o dia em que, como jornalista, teria que escrever sobre um amigo que acabara de morrer. Sabia que esse dia, assim como a inevitabilidade da própria morte, acabaria por vir.

Quero acreditar que a faina de revirar o passado da minha convivência com Ivan Lessa vai amenizar a dor pela perda do companheiro de redação e, principalmente, de cantina da BBC, onde, em grupo que variava de tamanho, diariamente almoçávamos, trocávamos ideias, ríamos, discutíamos e, por vezes, nos desentendiamos, quase sempre nesta ordem.

Ivan era papo para qualquer obra. Desde que houvesse um ouvido diligente, cujo dono não tivesse grande vocação ou disposição para a locução. Sempre atualizadissimo pela internet - que adorava e a quem chamava carinhosamente de "Dona Nette" -, disparava sua crítica contra tudo e todos com o mesmo furor, sarcasmo e eloquência que usava nas páginas de O Pasquim nos anos 1970.

Pulava de um assunto para outro sempre muito ligado em tudo que rolava e descia o pau nas tolices que detestava - em quase tudo. Ia da música ao cinema, passando por política, esportes, show business, jornalismo, não escapava nada ou ninguém.

Dos atuais, gostava de muito poucos. Sua admiração tinha congelado num passado distante. Quer dizer, distante para nós, os ouvintes. Para ele, tudo tinha acontecido ontem, ou, na pior das hipóteses, na semana passada.

A memória privilegiada garantia precisão à narracao e tornava tão vívidos fatos ocorridos 30, 40 anos atrás. Capaz de contar em detalhes um Botafogo x Flamengo estrelado por Leonidas da Silva ou Heleno de Freitas.

Na última vez em que estivemos juntos, há cerca de um mês, em sua casa, no bairro londrino de South Kensigton, me contou graças ocorridas na Ipanema de sua juventude, em mesas de pôquer que dividiu com Millôr Fernandes, Samuel Wainer e Antonio Maria, em peladas do Dínamo, time que defendeu no futebol de praia do Posto 6 de Copacabana.

Esse era o mundo que amava, esse era o mundo em que teimosa e anacronicamente ainda vivia. O exílio voluntário em Londres, de mais de 30 anos, ajudou a cristalizar sua lembrança do amado Rio de Janeiro dos anos 1950 e 1960.

Só voltou à cidade que adotou uma única vez, em 2006, convidado pelo amigo Mario Sergio Conti para escrever um texto para o primeiro número da revista Piauí.

Disse-me que doeu ter voltado. Detestou o que viu. Pelas mesmas ruas do centro e zona sul onde viveu intensamente a liberdade e a tranquilidade do balneário-metrópole-capital nacional, disse que viu um Rio desfigurado, pobre, sujo, feio, sem charme, deselegante, retrógrado, tenso, de trás de grades, preso em seu próprio medo. Não encontrou vestígios do que deixou. Acabaram com o Jangadeiros, não existia mais o Zeppelin, nem a Sucata, só tolices, me disse ele.

Contou-nos emocionado a tristeza que sentiu pela destruição de parte de sua memória. Tentativa de destruição, eu corrijo.

Ivan ainda era capaz de ver e viver a mesma praia de Copacabana onde pegou seus primeiros jacarés. Ainda podia saborear um salgadinho da Colombo ou um refresco de côco que era servido em um pequeno bar da Avenida Rio Branco. Descrevia com precisão a vitrine da Casa Sloper, sabia de cor letras de músicas de carnaval dos anos 40, lembrava do nome do lanterninha do Cine Rex. Ainda mantinha o mesmo desprezo pelos militares que tomaram o poder no Brasil e governaram o país por quase 30 anos. Ainda curtia intensamente a Ipanema capital cultural do Brasil, assim como curtia a bossa-nova, as modinhas de Carnaval e o chamado samba autêntico.

Talvez por amar o Rio como ele, por ter partilhado inúmeras memórias cariocas com ele, decidi que é esse lado do Ivan Lessa que vou manter na memória para o resto da minha vida, já que acho que a gente, consciente ou incoscientemente, escolhe como consolidar nossa lembrança dos que nos deixam.

É assim que vou lembrar sempre dele: como o Ivan Lessa arquivo-ambulante, Ivan Lessa o londrino-carioca, amante de um Rio, que assim como ele, tristemente, não existe mais."

( http://diversao.terra.com.br/gente/noticias/0,,OI5826310-EI13419,00-Ivan+Lessa+viveu+apaixonado+por+um+Rio+que+so+existia+em+sua+memoria.html)

 

  

 

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FOI DIVULGADO NO

PORTAL TERRA

(9.6.2012):

"Confira a última crônica escrita por Ivan Lessa
09 de junho de 2012 13h29 atualizado em 10 de junho de 2012 às 13h38

IVAN LESSA

Orlando Porto. Taí um nome como outro qualquer. Podia ser corretor de imóveis, deputado, ministro, farmacêutico. Mas não é. Trata-se de um anagrama de um escritor francês - e ator e ilustrador bom e autor e figurinha difícil francesa e aquilo que se poderia chamar de "frasista". Feio como um demônio, no meio da década de 50 cansei de dar com ele dando comigo lá pelo Boulevard St. Germain, cheretando o Flore, o Lipp, fazia uma cara que quem ia dizer algo importante e logo sumia na companhia do Jean-Pierre Léaud, aquele maluquinho dos filmes autobiográficos do Truffaut.

Dupla estranha. Os desenhos do - esse seu nome, artístico ou de batismo, Roland Topor - eram bacaninhas. Mas sempre foi Orlando Porto para mim. Fez cinema também. O Inquilino do Polanski, o Reinfeld de Nosferatu, do Werner Herzog. Até que bateu o que ocultava seus pés: umas botas estranhas como ele.

De vez em quando, numa revista esotérica, dou com ele. Ei-lo numa em inglês com "100 boas frases para eu matar agorinha mesmo". Se chegou ao fim, e chegou, foi pelo cachê. Meros galicismos literários.

E aí trago à cena, mais uma vez, porque cismei, mestre Millôr Fernandes. Esse era profissional. Nada a ver com "frasista". Trabalhava com a enxada dura da língua. Nunca para dar a cara no Flore, principalmente com Topor e Léaud.

Reli umas 100 frases do Orlando, ou Topor, e não resisti à tentação de, em algumas delas dar-lhes uma ginga por cima e outra por baixo, à maneira do frescobol querido do mestre, só para exercitar os músculos muito fora de forma.

Cem razões: Faço por bem menos, mas mais Copacabana e Leblon. Algumas raquetadas minhas em homenagem ao mestre cuja falta continuo sentindo:

- Melhor maneira de verificar, antes, se já não estou morto.
- Mas não se mata cavalos e malfeitores?
- Pelo menos eu driblaria o câncer.
- Milênio algum jamais me assustará.
- Apanhei-te horóscopo! Pura enganação!
- Levo comigo a reputação de meu terapeuta.
- Pronto, agora não voto mais mesmo! Chegou!
- Aí está: uma cura definitiva para a calvície.
- Enfim cavaleiro do reino de sei lá o quê.
- A vida está pelos olhos da cara. Pra morte eles fazem um precinho especial, combinado?
- Enfim, ano bissexto nunca mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.
- Ao menos é uma boca de menos a sustentar. - Só quero ver quanta gente vai sincera no meu funeral.
- Pronto! Inaugurei estilo novo: Arte Morta.
- Sabe que minha vida não daria um filme. O livro eu já escrevi. Deixem o desgraçado em paz, peço-lhes.
- Custou, mas estou acima de qualquer lei que vocês bolarem aí.
- Levou tempo, mas cortei enfim meu cordão umbilical.
- Roncar, nunca mais. Nem eu nem ninguém ao meu lado.
- Que desperdício nunca ter fumado em minha vida!
- Consegui preservar o mistério sempre giarando em meu torno.
- Maioria silenciosa? Essa agora é comigo.
- Na verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda de cidadão do mundo.
- Ei, juventude, pode vir que pelo menos uma vaga esrá aberta.
- Emagrecer é isso aqui.
- Agora é conferir se, do outro lado, sobraram tantas virgens assim.

E assim, cada vez que um 'frasista' passar por perto de mim, leve uma nossa: minha e de Millôr. Dois contra um a gente ganha mole."

(http://diversao.terra.com.br/gente/noticias/0,,OI5825950-EI13419,00-Confira+a+ultima+cronica+escrita+por+Ivan+Lessa.html)

 

 

 

 

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O LENDÁRIO FUTEBOLISTA APOSENTADO

ALCIDES GHIGGIA, DO URUGUAI:

IVAN LESSA, NELSON RODRIGUES E DEZENAS

DE OUTROS CRONISTAS VALOROSOS REPETIDAMENTE

FIZERAM - e ainda fazem, os que ainda vivem - 

REFERÊNCIAS A CERTO GOL QUE ELE CONCRETIZOU,

NO ESTÁDIO JORNALISTA MÁRIO FILHO, O MARACANÃ:

 

(http://www.images99.com/sports/soccer/alcides-ghiggia-showing-his-t-shirt/)